Isabella's lullaby.

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Escola... já que não morri enquanto dormia, lá vamos nós mais uma vez.
Eu me levantei da cama e me espreguicei, indo escovar meus dentes logo depois. Não tomava banho de manhã, apenas quando voltava do colégio, então estava de boa. Fui pra cozinha e lá estava ele, meu pai, Yuugo. Ele não é o meu pai biológico, ele apenas me adotou lá entre os meus onze ou doze anos, mas eu não me importo de chama-lo assim.
— Bom dia velhote.
— Bom dia pirralho, vê se tu come o café da manhã hoje.
— Se for bom, talvez. — Dou um sorriso e ele sorri de volta, colocando um prato com arroz e omelete na mesa.
— Fiz omelete, tem suco de morango na geladeira se você quiser. — Ele desliga o fogão e vai pra sala, apenas para ficar vagabundeando o dia inteiro enquanto assiste televisão.
Comi minha comida, aproveitei e lavei meu prato, sem nenhuma pressa. Não estava nem perto da hora do portão abrir, então tenho tempo de sobra. Me troquei e penteei meu cabelo, e já que não era a hora de sair ainda, decidi continuar decorando meu caderno. "Que caderno"? Bom, sabe aqueles cadernos bonitinhos e arrumados com fotos de amigos ou personagens, que têm descrição e tudo mais? É quase isso, mas bem pior. Tentei fazer do jeito que algumas pessoas do Twitter fizeram, mas não deu certo, então a esse ponto eu não me importo com a aparência dele. Ninguém viu ele ainda. Como eu disse, AINDA. O Norman e a Emma descobriram que eu fiz um e pediram pra eu levar para o colégio hoje, então como prometido, eu vou levar.
— Ciclope Sonolento, a Antena tá te ligando! — O velho me chama da sala, com o celular na mão. Vou até ele e pego o celular, conseguindo ouvir a Emma reclamando que o Yuugo chamou ela de "Antena."
— Por que não ligou no meu celular?
— Você não atende!
— Mas ele nem... — Eu tiro o celular do bolso e tento liga-lo, mas ele continua com a tela preta. Eu esqueci de carrega-lo durante a noite. — Oh, acabou a bateria dele.
— Tá explicado!
— O que foi?
— Cadê você?
— Como assim?
— Você não iria mostrar o caderno pra gente?
— Sim, mas isso não é no recreio?
— RAY!
— Ugh, tá bom, tá bom, eu tô indo. Você tá na frente da escola?
— Não, eu tô no parque do lado dela.
— Beleza, daqui a pouco eu tô aí. — Eu desligo o celular e entrego ele de volta pro dono, pegando minha mochila no meu quarto e logo saindo pela porta da sala. — Tô indo pra escola mais cedo.
— Cê não vai dar uns pegas na Antena não, né?
— Que? Claro que não. — Fecho a porta e saio andando, dando apenas para ouvi-lo rir da minha cara.
Minha escola não é longe, no máximo dez minutos de caminhada. O parque do qual a Emma estava falando era um tipo de clube público, onde continha aquilo para que qualquer um pudesse entrar e brincar nos brinquedos dali. Quase fomos expulsos permanentemente dali porque a Emma quebrou o degrau de um escorrega de lá, foi engraçado. Voltando ao assunto, eu cheguei até o local marcado, aonde ambos estavam me esperando.
— Finalmente!
— Finilminti.
— Parô. — Eu me sentei junto deles nas gangorras, enquanto o Norman apenas ria da gente. — Cadê? Cadê? Eu quero ver!
— Já falei pra não botar expectativa... — Eu tiro o caderno da bolsa, revelando a capa listrada das cores branco e rosa e um adesivo com minha foto, escrito "Dono" logo embaixo. Eu entrego na mão dela, que estava bem empolgada por algum motivo.
— Você disse que fez bem igualzinho dos tweets, então... aqui tem a sua primeira impressão de mim também? — Oh, descobri o motivo.
— Uhum. É a primeira página. — A mesma abre o caderno e olha a página da qual falei, lendo-as em voz alta.
— Ei! Quando que você tirou essa foto?! — Ela aponta pra menor foto delas, em que estava a legenda que dizia dela tentando ser assustadora.
— Não fui eu, foi o Norman.
— Norman!
— O que? Eu achei engraçado! — Nós dois demos risada, já ela, ficou emburrada e de braços cruzados. — E eu? Tem de mim aí também? — Peguei o caderno da mão dela e comecei a passar às páginas, como se estivesse procurando a parte em que eu falava dele.
— Acho que eu esqueci de te colocar.
— Ah, qual é!
— Foi mal! — A Emma começou a jogar na cara dele que ela havia uma página dela e ele não, mas ele não ligou nem um pouco.
Continuei mostrando algumas páginas das pessoas da nossa sala e de outras, todas com quase a mesma "decoração" da que fiz da Emma. Mas, enquanto ela procurava mais pessoas no caderno, ela vai até as últimas página, e acaba olhando umas duas ou três fotos do Norman.
— Você não esqueceu do Norman, ele tá aqui! — Quando eu ouvi isso... meu coração quase saiu pela boca. Eu peguei aquilo o mais rápido possível, antes que ela pudesse ler alguma coisa. — Ué?... espera... Ray~ o que você tá escondendo? — Eu guardo o caderno na minha mochila e aponto discretamente para trás dela, que ao notar e olhar, percebe que o Don estava se aproximando da gente.
— Vocês nem me chamaram! Não, beleza, beleza.
— Para de drama, só viemos conversar sobre qualquer coisa.
— Então deviam conversar na sala porque o portão já abriu.
— JÁ?! — O Norman tinha saído mais cedo sem dizer nada pra gente. Que arrombadinho...
Fomos correndo pra escola, mas acabei sendo deixado pra trás pela Emma já que ela parece o Usain Bolt do meu lado. Chegamos a tempo, com aquele safado do Norman fazendo sua cara de inocente, como se não tivesse feito nada. Não custaria nada avisar a gente que o portão estava aberto.
— Filho da puta. — Eu disse enquanto me sentava na cadeira logo atrás dele, com o mesmo apenas rindo de mim.
— Relaxa, é aquela professora de português, ela não liga pra atraso.
— Mesmo assim! — A Emma se sentou na frente dele, virada para o mesmo. Ela olhou para os lados, vendo se ninguém estava por perto. — O Ray fala sobre você sim no caderninho dele!
— EMMA!
— O que?
— Espera... ele fala? — Que ódio, por que ela teve que abrir a boca? Se bem que eu usei a desculpa do Don pra não mostrar o que tinha, então nada impedia ela de contar.
— Ooh, então você está sim escondendo algo!
— Eu não tô.
— Então mostra!
— Claro que não, a gente tá na sala! Se alguém vê e rouba eu me fodo.
— Por que? Tem algo de polêmico aí?
— Não- — A professora bate com o apagador na lousa diversas vezes, para chamar a atenção de todos da sala. Como esperado, todos ficam quietos, e assim ela começa.
Não teve nada demais nas primeiras quatro aulas, apenas lições e continuações de atividades que tivemos no dia anterior. Mas, um pouco antes de acabar a quarta, a Emma se levanta e vai pro lado da minha mesa, ainda curiosa com o conteúdo do caderno.
— Que foi? — Ela olha pra minha bolsa, o lugar em que o guardei. — Não.
— Por que não?
— Eu já te mostrei praticamente tudo que tinha nele!
— Mas não é tudo!
— Já disse que não. — Finalmente ela se cala. Eu estava fazendo a lição de casa que o professor passou hoje para poder aproveitar lá, e quando menos percebo, aquela garota estava procurando o caderno na minha mochila. — EMMA! TIRA A MÃO DA MINHA BOLSA! — Eu tento empurrar ela mas nada adiantava, a teimosia dela era mil vezes mais forte. O Norman até tentava me ajudar, mas duas pessoas fracas não conseguem vencer uma forte. Com toda aquela barulheira nossa, o professor acabou percebendo, e obviamente, mandando eu ficar quieto, a Emma voltar para a carteira dela e o Norman virar para frente.
Finalmente aquela aula insuportável acabou, o professor de história sempre é o pior de todos e costuma explicar a matéria extremamente mal. Nós três fomos para o pátio lanchar, com a Emma tentando se desculpar por tentar pegar meu caderno sem minha permissão.
— Raaay, me desculpa! É sério! Eu acabei agindo pela emoção do que pela razão!
— Mas você sempre faz isso.
— Então me desculpa por ser... eu? — Nós paramos de andar e eu a encaro, com uma cara feia.
— Nunca mais diga isso. — Continuo meu caminho com ela e o Norman confusos, mas ambos decidem ignorar e comprar lanche comigo.
Já com a comida na mão, sentados aonde sempre costumávamos ficar, começamos a conversar. Sobre o que? Praticamente tudo. Nunca temos um assunto fixo, apenas falamos sobre qualquer coisa que vem na cabeça. O Norman estava meio calado, então ele coloca fones e começa a cantarolar algo, de boca fechada. Eu já ouvi aquela sintonia antes.
— Ei Norman, que música é essa? — A Emma se vira pra ele e pergunta.
— Hm? Ah, é uma qualquer que achei na internet, não tinha nome.
Depois disso sequer tocamos no assunto novamente, até porque, era só uma música. Bom... não uma qualquer. Dando um timeskip bem grande, já estava anoitecendo e nossas aulas já haviam terminado. Na frente do portão eu paro o Norman, segurando a manga de sua blusa.
— Norman, a gente pode conversar rapidão? — A Emma acaba parando também. — Pode ir indo Emma, já já a gente te alcança. — Ela pode ser teimosa mas respeita a nossa privacidade, nem que seja apenas um pouco. Ela sai andando com o Don e a Gilda, sem sequer olhar para trás.
— O que foi?
— Sobre a música que você tava cantarolando mais cedo...
— Hm?
— ...ela não foi postada em nenhum lugar da internet. Meus pais que criaram ela. — Ele ficou sem saber o que fazer.
A música que ele estava cantando, eu chamo ela de... Isabella's Lullaby. Uma melodia que meu pai compôs pra minha mãe quando criança. Ela cantava isso direto, e eu acabei memorizando-o. Eu costumo cantar essa canção atrás da escola, sozinho. Bom, eu pensava que estava sozinho. O Norman me escutava. Seus fones não continham som nenhum já que minha família é a única que conhece a melodia, portanto ele já decorou ela por completo. Isso significava que... não fui pego cantando apenas uma ou dia vezes. Podem ser sido várias.
— Okay, okay, você me pegou.
— Vai me contar quantas vezes você me espionou ou vou ter que chutar?
— Eu não te espionei, relaxa. Eu só gostei da música. — Continuei quieto, esperando uma resposta. — Bom, se eu não me engano... fazem uns dois meses que descobri isso.
— DOIS MESES? — Um carro preto se aproximou da calçada e deu uma buzinada. Era os pais do Norman vindo buscá-lo.
— Tenho que ir. — Ele vai até o carro calmamente, acenando pra mim com um sorriso simpático.
Eu ia impedi-lo, mas sabia o quanto seus pais eram rigorosos. Decidi me despedir normalmente e pedir uma explicação pelo celular depois. Fui de ônibus pra casa, meus amigos já estavam longe e não queria andar sem um conhecido por perto na rua.
— Cheguei velhote. — Olhei para o sofá, mas ele não estava lá. Ele sempre está, então pra onde ele foi? — Velhote? — Tranquei a porta, joguei a mochila no canto do cômodo e comecei a procura-lo pela casa, mas nenhum sinal dele.
Fui até a cozinha e achei um bilhete na mesa, ao lado da metade de um bolo de cenoura que estava coberto por uma tampa de plástico. Peguei-a, e então comecei a ler.

"Tive que ir no mercadão porque não tem quase nada nessa casa.
Comprei bolo (seu sabor favorito, de nada) e um refri pequeno pra você não ficar passando fome
                                                                                                                              — Yuugo."

— Eu aposto que ele comeu a metade do bolo. — Deixei o papel de lado e tirei a tampa dali, cortando um pedaço e colocando num prato.
Fiz o clássico lanchinho da tarde enquanto assistia Meninas Malvadas, e depois disso, acabei dormindo por causa do cansaço. Teve um momento em que fui acordado, mas não acho que tenha sido por querer. Abri os olhos para ver quem estava ali, e era o Yuugo. Ele estava me cobrindo com um cobertor e me ajeitando no sofá, com toda a cautela possível.
— Pode continuar dormindo, eu só te arrumei para não ter uma dor nas costas fudida com apenas quinze anos. — Dei um leve sorriso e fechei meus olhos, adormecendo novamente.
— Valeu "véio."

Bônus! :)
Primeira página do caderno do Ray.

Bônus! :)Primeira página do caderno do Ray

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Sou todo ouvidos (NorRay!AU) [CANCELADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora