Outra perspectiva.

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{POV NORMAN}

Logo depois de entrar no carro dos meus pais, eles começam a me perguntar algumas coisas, sem sequer me dar tempo de cumprimenta-los.
- Como foi na escola hoje? - Minha mãe diz, começando a ligar o carro e ir em direção à nossa casa.
- Foi normal.
- Tem lição de casa ou trabalho?
- Sim, mas apenas uma, de história.
- Então já sabe. - Ela estava se referindo ao meu celular. Toda vez que tinha algo desse tipo, não podia usa-lo até que eu os completasse, a única exceção é quando alguma questão tem como obrigação pesquisar algo.
Diferente da casa do Ray e da Emma, aonde eu moro é bem longe. Só de carro demora uns trinta minutos para chegar, já a pé, por volta de uma hora e meia. Ainda não entendo o porquê deles me matricularem nessa escola, sabendo que é tão longe e tão mal cuidada. Na verdade, raramente os entendo, a lógica deles é extremamente contorcida e sem sentido nenhum.
- Sobre o que você e o Ray estavam conversando? - Meu pai perguntou olhando para o banco de trás, vulgo aonde eu estava.
- Música.
- Não sabia que você se interessava por música, filho.
- Não me interesso muito, pra falar a verdade. Apenas uma em específico.
- Quer colocar ela pra tocar no carro? - Minha mãe deu uma leve cotovelada nele, obviamente de cara feia. Ela não tinha o mesmo gosto musical que o meu, então não iria gostar de nada que eu recomendasse.
- Obrigado, mas não é necessário. E também, essa música não foi postada em nenhum lugar.
- Oh, você compôs?
- Quem dera, mas não.
- Então quem foi?
- O Ray.
- Eu já ouvi ele tocar bandolim naquele teatro da escola, deve ser boa.
- É sim.
Foi a única conversa que tivemos no carro, pelo resto do caminho foi apenas silêncio ou meus pais conversando entre si. Enquanto isso, eu fiquei pensando um pouco sobre o Ray e a melodia que eu cantava... parecia algo pessoal, me senti levemente culpado por "espiona-lo" cantando depois de saber o significado daquela simples canção. Seus pais biológicos eram pessoas muito especiais pra ele que infelizmente se foram, então não precisa pensar muito pra raciocinar que ele ficou extremamente desconfortável sabendo de mim. Eu deveria me desculpar quando eu terminar de fazer as atividades, e o mais rápido possível. Chegamos em casa e fui direto para o meu quarto, levando meus materiais junto comigo. Quando estava prestes a fechar a porta, minha mãe passa por mim e me impede.
- Norman, eu já avisei da porta fechada.
- Ah, sim, perdão. - Ela não gosta que eu feche ou tranque a porta, o que é bem... ridículo, digamos assim. Mas ela é minha mãe, não tenho idade para sair de casa ainda, portanto preciso obedece-la, gostando ou não. Eu deixo a porta aberta mesmo e começo a fazer minha tarefa, escutando "She's A Lady" nos meus fones.
A atividade estava relativamente fácil, pelo menos, pra mim. Terminei em menos de meia hora, nada diferente estava acontecendo.
- Mama, terminei minha lição de casa. - Não sei porquê, mas ela prefere que eu a chame de "Mama" do que "Mãe." A mesma assente com a cabeça sem sequer olhar pra mim, e eu vou imediatamente para o celular ligar para o Ray.
Ele não atendeu em nenhuma das três vezes, talvez ele esteja ocupado e não possa responder agora, ou seu celular só descarregou. Decidi me desculpar por mensagem, já que ele não estava online e eu não saberia se ele sequer ficaria hoje.

"Dsclp por ficar te vendo cantar, não sabia que era algo pessoal"
"Pode ficar de boa pq não vou mais olhar :)"

- Norman, já é quase sete horas, se arruma pra ir pra sua aula de inglês. - Meu pai me avisa na minha porta e vai se trocar também, para me levar de carro.
- Já vou, só um segundo. - Eu pego minha roupa extra que guardei na gaveta do meu guarda-roupa e a visto no banheiro, penteando meu cabelo logo depois.
Sendo sincero, eu não me importo com inglês. Já aprendi mais que o necessário, e mesmo assim, eles querem que eu faça essas aulas extras. Ao menos posso conversar com alguns colegas de lá, sendo eles Vincent, Cislo e Bárbara. Todos eles parecem viver nas mesmas condições que eu, com pais que o educam de maneira exagerada e o fazem agir de jeito formal com tudo e todos. Quando estou na escola, sou uma pessoa completamente nova, com uma fala que nunca usaria aqui em casa e gostos que nunca mostraria à minha família. A Bárbara e o Cislo são bem semelhantes a mim nesse requisito, tirando o fato de que eles são bem mais extrovertidos e "rebeldes." Já o Vincent, age do mesmo jeito tanto perto quanto longe dos pais. Enfim... não é algo muito relevante, já estou acostumado.
- Mama eu tô saindo, o pai já foi pro carro?
- Uhum. Está levando dinheiro?
- Quinze reais.
- Tudo bem, vai com Deus filho. - E assim, eu e meu pai vamos. Da escola pra aqui em casa é longe, mas o meu curso de inglês é até que perto, sendo apenas dez minutos de carro.

Sou todo ouvidos (NorRay!AU) [CANCELADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora