(13 de outubro - 1980 - Paris)
- Basta! - gritou o senhor Cocqueteal, dando murros à mesa. - Esse moleke vai aprender a me respeitar! - disse subindo as escadas com seu velho cinto de couro em suas mãos.
- Gustave! Gustave eu lhe imploro, pelo amor de Deus! Não faça isso! - suplicou a senhora Cocqueteal, ajoelhando-se em frente ao seu marido. - Ele é nosso filho, por favor eu lhe imploro. - disse a pobre madame, com um véu de lágrimas cobrindo seu belo rosto já enrugado pelo tempo.
- Não meu amor, não. Não faça isso. - disse o senhor Cocqueteal, tirando sua esposa do chão. Lhe dando um beijo doce em sua testa.
- Sente-se . Matilda dê um copo de água com açúcar à minha linda esposa. - disse ele para a governanta que assentiu.
- Aonde você vai? - perguntou a senhora Cocqueteal.
- Tomar um pouco de ar. - disse ele subindo os degraus.
Ao subir as escadas, o senhor Cocqueteal passa a andar em paços largos pelo corredor de tamanho ligeiramente exagerado, até parar em frente à um quarto peculiar.
Ao bater, a porta se abre e dela saiu um garoto de cabelos loiros, com um walkman pendurado no bolso de seu jeans. A típica figura do adolescente moderno dos anos oitenta.
Cabelos dourados, calças rasgadas, seus pés descalços já enegrecidos pela sujeira do piso de tanto dançar o tal do rock and roll e seus olhos de um profundo azul turquesa escondidos atrás de óculos escuros, o que era estranho demais para mim, porque, quem diabos usa óculos escuros dentro de um quarto???
- Papai! O que o trás ao meu humilde quarto? - disse o jovem com um sorriso cínico pintado em seu rosto. - Que honra! O que quer que eu faça? Que eu beije sua mão? - disse rindo.
- Vai descer para almoçar? Ou o príncipe precisa de convite formal? - disse o pai devolvendo no mesmo deboche.
- Preciso de convite. - disse o garoto, batendo a porta na cara do homem à sua frente.
Brrrr Brrrrrr
Tudo o que se podia ouvir naquele quarto foi o sonido irritante do telefone velho encima da cabeceira.
- Sim? Ohhh - a risada maldosa do garoto ecoou pelas paredes. - Já já pinto aí chefe! - disse o jovem desligando o telefone.
- Merda! Preciso sair daqui rápido.
Disse o jovem Pierre, calçando um par de all stars vermelhos. Pulando encima da cama de imediato, arrancando as cortinas presas à janela, as amarrando na maçaneta do velho guarda-roupa de madeira, transformando-as numa espécie de corda. A esticando em direção à janela pouco a pouco. Ancorando-se no vidro das janelas, até que... o nó da maçaneta do armário rompeu-se, fazendo um certo Pierre Cocqueteal que até então estava ancorado à janela de seu quarto cair de imediato na encima de um carro parado à rua, amassando a lataria.
- Merda, minhas costas! - diz se levantando, ignorando a lataria amassada por seu corpo, estalando suas costas e descendo do carro como se nada tivesse acontecido.
E lá vai ele mais uma vez!
Pondo seus fones de ouvido pendurados à um walkman preso em seu jeans. A voz de Freddie Mercury cantando Don't Stop Me Now perfurando seus tímpanos. Pois é! Naquela época não existia nada mais divertido do que ouvir rock and roll no último volume e sair pulando e rebolando em um jeans rasgado. Sapateando, estalando os dedos enquanto dançava em seu ritmo eloquente e vulgar, rodopiando pelas calçadas para dar espaço as menininhas que corriam com suas sapatilhas reluzentes sem medo de coisa alguma.
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Doce como Chiclete (LGBTQIA+)
RomanceNova York -1983, em meus tempos de perdição, quando era apenas um eloquente rebelde andando trajado à roupas elegantes e assessórios da moda, à espreita que uma pobre alma desgraçada me encontrasse pelas ruas imundas de Paris. E perambulando por el...