IX

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O homem continua observando-me com seus estranhos olhos, tentando ler o que se passa em meus pensamentos. Não posso arriscar a minha volta à Paris, e não posso arriscar o meu retorno para casa. Se preciso realizar essa loucura para continuar a ver Jade, então é isso que farei. Mas, como irei permanecer nessa cidade com apenas uma minúscula quantia de dinheiro no bolso?

—Existe um problema que me impede de ficar. Na verdade, mais de um problema. –justifico, contendo a vontade de fugir em direção a rodoviária mais próxima. —E pode acabar sendo um grande empecilho para minha permanência.

—Se for a questão do dinheiro, preciso que encontre uma solução. –ele retruca, cruzando seus finos braços. —Talvez pudesse arrumar um emprego enquanto essa jornada começa.

—Mas, mesmo que eu arrumasse um emprego, onde iria encontrar um lugar para dormir? Pelo que eu saiba, todos os hotéis aqui cobram valores absurdos.

O senhor misterioso franze as sobrancelhas, claramente pensando em uma solução. Queria tanto que essa confusão não tivesse nada a ver comigo, que tudo isso não passasse de um sonho maluco.

—Tinha me esquecido desse detalhe, principalmente agora que você não tem mais os benefícios da turnê. –diz e olha para a pulseira em meu pulso, como se lembrasse de algo estritamente essencial. —Talvez pudesse pedir ajuda à garota da livraria. Tenho certeza que ela estaria disposta a uma negociação.

Passo minhas mãos pelos meus cabelos, afastando os resquícios do calor. Não tenho certeza se Chloé seria capaz de me ajudar, ou se ela estaria disposta. Nós nem sequer nos conhecemos, e garanto que não causei uma boa impressão com o meu comportamento ousado.

Todos esses pensamentos giram como um carrossel em minha mente. O homem apenas me analisa, a proposta pairando em suas pupilas, o leve repuxar de lábios preenchendo seu rosto de mistério.

—Não tenho outra escolha, não é mesmo? –sussurro, observando-o de soslaio.

Ele nega, o sorriso se estendendo em seus lábios.

Pego a alça da mala, o material se mesclando ao suor de minha mão. Se não posso fugir dos planos do destino, então terei que entrar em seu jogo perverso. O sol aquece minha cabeça, atrapalhando qualquer solução que possa surgir.

—Tudo bem, farei o que for preciso para voltar logo para casa. –concluo, sem qualquer empolgação em minha voz.

O homem sorri ainda mais, os olhos brilhando, os cílios brancos irradiando a luz do sol.

Estranhamente encantador e sombrio.

Apoio a mala em meu ombro, ensaiando um discurso convincente em minha mente. Espero que Chloé não pense que sou um psicopata obcecado, isso iria complicar muito as coisas. O destino me lançou nesse desafio inevitável, e talvez exista uma razão para toda essa situação. É exatamente isso que preciso encontrar.

Olho para a pulseira, para o brilho carmesim e para o seu material indestrutível. Lembro-me do pulso fino de Chloé, do modo como a pulseira combinada com a pele dela.

—Eu diria que foi um prazer encontrar você, mas estaria mentindo. Pretendo nunca mais encontrá-lo. –digo, sem um pingo de arrependimento. O homem não parece abalado, e simplesmente sorri.

—Ainda nos encontraremos mais uma vez, quando você finalmente encontrar o seu coração procura. –rebate, o rosto repleto de satisfação.

Apenas o ignoro e começo a andar em direção à saída da viela, a cabeça martelando em milhões de dúvidas e soluções. Agora tenho certeza de que não poderei fugir da questão imposta pelo destino. Só posso lutar e procurar com todo o meu esforço. Meus passos soam relutantes aos meus próprios ouvidos.

Destino Carmesim -Spin Off De Passos OpostosOnde histórias criam vida. Descubra agora