11:11

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Convenhamos, na sociedade hoje em dia quem se importa com uma garota de 23 anos, fracassada, sem faculdade e sem emprego? Além de ser lésbica e feminista. Ninguém liga pra mim, pior seria se eu tivesse feito alguma cirurgia. Engraçado, as pessoas que criticam a cirurgia plástica são as mesmas que querem dinheiro para fazê-las.
Recentemente tive diversas crises existenciais e tenho duvidado da minha própria capacidade de ser feliz. Se eu recebi apoio? Que piada. Tudo que eu ouvi foi: "Crises de ansiedade? Falta de Deus ou loucura." Sobre a depressão: traumas, desmotivação, luto ou algo assim? Errado, meu caro amigo iludido. Segundo nossa querida e sábia sociedade, - que por sinal são crianças de 10-12 anos na internet - isso é drama, falta e atenção e egoísmo.

Ora, os alecrins dourados pedem para mulher denunciar os abusos, mas quando a pobre moça acusa com 5 palavras é refutada com 10. "Mereceu", "puta", "vadia", "piriguete", "pediu", "fraca", "fútil", "mentirosa", "ingrata" e na maioria das vezes, "louca".
Fomes, guerras, crianças abandonadas em orfanatos, desrespeito, homofobia, xenofobia, machismo, racismo...
Por que eu ainda faria questão de viver aqui?

Eu poderia sumir, claro que poderia.
Pensemos juntos: não tenho amigos, minha família todos mortos, já concluí o ensino médio mas me sinto incapacitada pra fazer alguma faculdade, minha paciência esgotou e se for pra viver em meio a crises de ansiedade e com a presença de pensamentos suicídas eu prefiro morrer de uma vez.

Eu já teria me dado um fim se não fosse por ela.

[...]

11:09 marcava no relógio, um silêncio ensurdecedor pairava sobre a casinha branca de venezianas azuis. Tudo que poderia se ouvir era o choro de Jennie, a dona, ou talvez, a única da casa que ainda estava viva.
A mulher de cabelos castanhos conseguia sentir a presença de suas irmãs mais novas no quarto que dividia com as mesmas. A brisa gelada batia contra seu corpo, sua respiração pesada e descontrolada e suas lágrimas molhavam o travesseiro.

11:11.

- Eu quero que alguém se importe comigo! Que cuide de mim! Eu não aguento mais, eu quero sumir! Ou então, só quero minhas irmãzinhas aqui. Isso é uma merda! - Jennie balbuciou com suas mãos trêmulas. - Odeio isso tudo...

Um trovão soou. 11:12.

A campainha tocou. Kim limpou as lágrimas violentamente fazendo seu rostinho delicado e esculpido pelos deuses ficar vermelho.

Em passos bruscos, foi abrir aquela droga. Jennie se descuidou em questão de limpeza, algo que nunca aconteceu. As paredes interiores da casa que antes eram laranja e branco impecável, agora estavam escuras e com sujeira de cima a baixo. O quarto em que dormia tinha garrafas de whisky, latinhas de refrigerante, remédios, remédios e mais remédios, porém, era o quarto mais limpo da casa se fosse comparar.
Estava tudo uma merda.

Abriu a porta. Seu corpo gelou.

O amor de sua vida estava ali diante de seus olhos, mas era impossível. Ela tinha morrido no acidente de carro junto com sua família.

- Lisa... - Sussurrou com a voz falha.

Outro trovão soou. A mulher alta, de rostinho e olhinhos fofos e sua franjinha perfeitamente alinhada, desapareceu.

Sua visão se tornou turva e em segundos não enxergava e nem sentia mais nada.

[...]

Minha cabeça dói. Meu corpo também.
Meus olhos se abriram aos poucos e um cheiro maravilhosos impregnou em minhas narinas, pasteizinhos de camarão, frango e carne seca, meus favoritos.
Não estou em minha casa. A cama era macia e em minha mente não passava os gritos das minhas irmãs.

- Uh, você acordou! Bom dia! - Uma mulher baixinha apareceu na porta do quarto tirando de sua cintura um avental da akatsuki. Tentei recuar. - Não precisa ter medo, sou sua vizinha e poxa, não aguentei ver você jogada naquele chão frio.

Não deixei de notar que eu exalava um odor doce. Lavanda. Fechei meus olhos aproveitando.

- Se não se importa, eu tive que te dar banho. - Assim que ela proferiu essas palavras minhas bochechas esquentaram, aquelas mãos tão grandes... Tentei falar ou pelo menos balbuciar algo mas nada saiu. Ela riu. - Não se preocupe, eu não vi nada! E não consegui deixar você naquele estado. Estava toda suja e... As marcas no seu braço não estavam nada legais. Sou Jisoo! - Sorriu me fazendo sorrir.

Eu já tinha me esquecido dessa sensação gostosa.

- Jennie. E obrigada.

- Se alimente e depois você pode me explicar o que aconteceu se quiser! - Seu sorriso era lindo, simpático, confortante. Sua presença trazia uma sensação anormal de paz.

Pois é. Foi Ela que me mostrou que dar um fim em tudo não era a solução.

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𝙊𝙉𝙀𝙎𝙃𝙊𝙏'𝙎; ᴊᴇɴsᴏᴏOnde histórias criam vida. Descubra agora