Capítulo Um

10.3K 685 29
                                    


          Ouço a voz de Bob Marley tocando no alarme. Agradeço mentalmente por não ter levado meu celular ontem para a entrevista, caso contrário aí sim eu estaria ferrada. Levanto-me e vou direto para o banheiro, tomo um banho e escovo os dentes rapidamente. Coloco uma calça jeans e blusa branca. Procuro meu sapato e o coloco. Vou para a cozinha e abro a geladeira... Pelo menos ainda tem água. Procuro dinheiro nas gavetas do armário, até que acho uns trocados. Ando até a porta do apartamento, Alessa - minha mãe - ainda está deitada. Saio do apartamento e vou até uma padaria perto do prédio, voltando rapidamente para casa. Preciso ser rápida, já que vou a pés para a agência de empregos.

Chego e vou até a cozinha. Preparo um café e como um pão.

"O que pensa que está fazendo?"

Alessa está parada, me olhando como se fosse um E.T.

"Café da manhã, sabe, nós precisamos comer".

"Esse dinheiro era meu".

"Não seja egoísta! Nós precisamos comer. Sente!".

Ela me dá um olhar furioso, mas senta na pequena mesa.

"Pra onde vai?" ela pergunta enquanto come um pão.

"Agência de empregos. Uma de nós precisa trabalhar".

Por um momento vejo seu olhar ficar um pouco triste.

"Vou tentar arrumar um emprego" ela diz.

"Seria bom".

"Você poderia aceitar a proposta de Clark" ela sussurra.

Controlo a minha enorme vontade de jogar café na cara dela. Clark é um cafetão nojento.

"Nem nos sete infernos!" falo me levantando "não vou acabar como você".

Falo e saio furiosa do apartamento. Foda-se! Mãe maravilhosa essa.

Ando pelas ruas quase correndo. Com raiva e medo de ser assaltada de novo. Se bem que eu nem deveria me preocupar, o que vão roubar agora? Meu sangue, minha alma? Continuo andando ao que parecem ser horas, reprimindo a vontade de chorar. Eu tenho que dar a volta por cima, não vou me afundar. Não vou.

Finalmente chego na agência e vou direto para a sala de Jamille.

"Oi" falo timidamente enquanto entro.

"Oi" ela sorri.

"E então?"

"É o seguinte. Eu conversei com David, ele é o mordomo, chefe de limpeza, algo assim lá da mansão. Ele disse que você precisa ser avaliada por um dia para ser contratada".

"O quê? Pra que isso tudo?"

"Não sei, mas parece ser bem rígido. Você tem que estar lá as 13:00 da tarde. Aqui o endereço" ela passa um papel para mim.

Sinto todo o meu corpo amolecer. Como vou chegar lá? Eis a questão.

"Hm... Obrigada, Jamille" sussurro.

"Bom, quando chegar lá é só anunciar seu nome na portaria. Eles já sabem de você".

"Ok. Obrigada".

Saio da agência, vou caminhando de volta para casa. Como vou para lá?

Já sei! Volto para casa, socorro! Nem preciso de academia desse jeito.

Finalmente chego no prédio e vou direto ao segundo andar, onde fica o apartamento de Paolo. Ele é um traficante que vive dando em cima de mim, mas é gente boa. Bato em sua porta. Ainda são 10:00 da manhã. Ele deve estar dormindo. Bato novamente, até que ouço um "já vai" mal-humorado.

Ele abre a porta furioso, mas seu queixo cai quando me vê. Ele está só de calça jeans, deixando seu peitoral todo tatuado e definido de fora. Ok, ele é... Quente. Mas não tenho tempo para isso.

"Oi Paolo, sinto muito por te acordar essa hora, mas preciso de um favor".

"Lyana! Quanto tempo hein... Claro, do que você precisa?" ele pega uma mecha de meu cabelo.

"Sabe, eu tenho uma entrevista de emprego daqui umas horas, e eu não tenho como ir porque é muito longe. Você poderia me emprestar sua moto?".

Ele dá uma gargalhada alta.

"Amor, nunca deixaria você pilotar minha preciosa TTR... Mas eu posso levar você".

Reviro os olhos.

"Ok então".

"Mas você vai ter que sair comigo".

"O quê? Chantagem? Ok então, não preciso da sua ajuda, tchau".

"Está bom" ele levanta as mãos "sem saída" ele finge uma cara de triste.

"Melhor assim. 12:00 horas passo aqui" digo e volto para meu apartamento.

       Passo o tempo lendo um livro de biologia, até que vejo que já são quase 12 horas. Corro para o banheiro e tomo um banho rápido. O que eu visto? Ai Deus. Ponho uma calça preta e uma blusa de mangas longas vermelha. O que eu calço? Não tenho nenhum salto alto!

      Vou no quarto de Alessa, será que ela ainda tem roupas pelo menos? Procuro em todo o quarto até que encontro um salto preto. Respiro fundo e coloco o salto. Ando um pouco cambaleando, um pouco caindo, até que me acostumo. Volto para meu quarto e faço um rabo de cavalo em meu cabelo e coloco um perfume. Bolsa eu não tenho mais, então acho que estou pronta. Desço até o apartamento de Paolo e ele está na porta me esperando. Ele dá um sorriso quando me vê.

"Uau! Você é linda Lyana"

"Obrigada. Vamos?"

Descemos até a garagem e vamos direto para sua TTR laranja e branca. Ele põe o capacete e monta na moto.

Foram raras as vezes que eu andei de moto, mas vamos lá, eu preciso desse emprego.

      Dou o papel com o endereço para ele e monto na garupa. Ele analisa o papel por uns segundos e depois acelera. Ele pilota velozmente pelas ruas de Boston, até que finalmente saímos da cidade e só vemos a estrada e uma imensidão verde aos lados. Ele acelera mais e empina.

"PAOLO!" eu grito e o agarro forte.

     Ele começa a rir e eu não consigo evitar de rir também. A moto volta ao normal e eu continuo agarrada a ele, sentindo o vento me golpear. Estou viva! Que sensação maravilhosa. Finalmente avisto uma enorme mansão perto da estrada. Enorme! E no meio do nada. Incomum.

Paramos no grande portão e há uma espécie de caixa eletrônica ao lado.

"Nome, por favor" a caixa diz.

"Lyana Veja" eu falo e o grande portão se abre.

Ca-ra-lho. Isso não é uma casa. É uma fortaleza.

Paolo para na entrada, onde há um homem de terno preto nos olhando. Eu desço da moto desajeitadamente.

"Obrigada" sorrio para Paolo.

"Você quer que eu te espere?"

"Não sei quanto tempo vou demorar".

"Uma hora" o homem de terno diz.

"Então volto em uma hora" Paolo pisca para mim e coloca o capacete, indo embora.

Ele não é tão mal assim.

Subo as escadas da frente e vou até o homem.

"Olá" o cumprimento.

"Olá Lyana, me chamo David. Sou o mordomo e governante da casa".

Engulo seco.

"Ah, claro. Jamille me falou de você".

"Por aqui" ele abre a grande porta e meu queixo cai quando entro na casa... Mansão.


𝐋 𝐘 𝐀 𝐍 𝐀Onde histórias criam vida. Descubra agora