Kihyun terminou de passar o antisséptico nos pontos de Changkyun, quem estava vestido apenas da cintura para baixo.
— Kihyun — ele chamou. Kihyun ainda continuava silencioso, guardando o material utilizado. Changkyun estava sentado com as costas contra a cabeceira, observando Kihyun há alguns minutos.
— Sim?
— Posso ficar aqui hoje também? Quero evitar andar por mais um tempo. — Changkyun pediu, e Kihyun parou o que estava fazendo para dar-lhe atenção. De alguma forma, ele sentia que aquele não era o motivo pelo qual ele o pedia para ficar ali, mas como já havia decidido mais cedo, não iria perguntá-lo, principalmente depois de tudo que ele fizera por si. Kihyun sentia que o mínimo que podia fazer era não questioná-lo, até porque não se conheciam o suficiente para que ele o perguntasse sobre a sua vida.
Kihyun deu-o um meio sorriso, mais para mostrar ao vizinho que não se incomodava.
— Claro.
Ele se levantou para deixar o quarto.
— Kihyun.
— Sim?
— Obrigado.
Kihyun arqueou-lhe uma sobrancelha.
— Por quê?
Changkyun encarou-o por um momento em silêncio, a expressão relaxada, mas que parecia esconder os sentimentos que o atravessavam naquele momento.
— Apenas obrigado.
Kihyun encarou seus pés. Ele era quem mais precisava agradecer ali. Era Changkyun, que mesmo machucado e desconhecido por si, quem o ajudava.
E foi por isso que num momento puramente emotivo, Kihyun se aproximou dele e o abraçou, apertando-lhe o tronco contra o seu e deixando-se relaxar por alguns segundos. Levou alguns segundos, mas então Changkyun abraçou-o de volta, na mesma intensidade.
Ali, Kihyun pode-se sentir relaxar. No silêncio momentâneo, encontrou apoio. Não apenas no ombro de Changkyun, onde seu queixo estava, ou nos braços que circulavam seu tronco, como se o segurassem. Mas nos atos de alguém que denotava se importar consigo, mesmo que não o conhecesse. De alguém que fazia mais do que precisava; mais do que lhe cabia. E tudo bem que ele também havia ajudado Changkyun, contra a teimosia do garoto que teria acabado com uma infecção horrorosa, alguém que não conhecia. Isso não diminuía o fato do garoto ter-lhe ajudado de uma forma tão grande que Changkyun não conseguiria imaginar; de uma forma que se estendia para além do valor do dinheiro.
Changkyun havia o dado forças. Dado esperança. Ele o havia mostrado que o futuro sempre mostrava a capacidade de ser melhor que o presente, e encontrar uma saída de onde estava preso agora era tudo que Kihyun mais precisava.
— Obrigado — ele sussurrou, sentindo o choro mais uma vez agarrado na garganta. Porém, já havia chorado o suficiente naquele dia, e não deixaria as lágrimas invadirem seu rosto novamente. Kihyun quebrou o abraço apenas o suficiente para encarar Changkyun. Dessa vez, o sorriso que se estendeu pelos seus lábios era leve e ele o sentia vir de seu peito. — Podemos almoçar juntos amanhã. O que você gosta de comer?
Changkyun piscou algumas vezes. As palavras haviam agarrado em sua garganta com Kihyun tão próximo de si a ponto de seus narizes quase se encostarem e ele conseguir ver seus traços com cada mínimo detalhe. O brilho que via em seu rosto pela primeira vez fez seu coração bater com tanta força que doía.
— J-jjajangmyun com s-samgyeopsal — ele respondeu, engolindo em seco. Ele podia sentir as costas de Kihyun contra seus dedos.
— Iremos comer isso amanhã, então — Kihyun respondeu. Pela primeira vez em muito tempo, sentia-se com disposição de fazer algo diferente no domingo. Talvez fosse o fato de não precisar gastá-lo limpando a sua casa ou só tendo ramen como opção de almoço.
Kihyun quebrou o contato entre eles de vez, e se levantou da cama. Mesmo se sentindo mais leve, ele ainda estava extremamente cansado.
— Eu vou me arrumar para dormir — disse, pegou suas roupas no guarda-roupa e deixou o quarto, antes mesmo que Changkyun dissesse qualquer coisa.
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Foi com o barulho de gordura que Kihyun acordou. Seus olhos se abriram, encarando o teto completamente iluminado pela luz do sol. Ele passou alguns segundos ali, até que processasse que não era ele quem estava fazendo barulho na cozinha e levantar correndo, sem saber quem poderia estar ali.
Mas a alguns passos de si, de frente para o fogão, com espátula na mão, estava Changkyun. Vestindo uma de suas bermudas e uma camisa branca, fritando ovo com salsicha. Kihyun observou-o em silêncio por alguns segundos, o suficiente para que Changkyun terminasse e o visse ali.
— Oh, oi, Kihyun — o mais novo disse com um pequeno sorriso.
— Como você está? — Ele perguntou-o, observando Changkyun andar normalmente. O hematoma em seu olho também estava melhor.
— Bem. Não sou de mexer muito à noite, então acho que isso ajuda — Changkyun colocou o prato sobre a mesa, e só assim Kihyun percebeu o outro prato disposto ali, e mais alguns recipientes espalhados pela pequena mesa. Ele arregalou os olhos, surpreso. Changkyun havia feito um café da manhã completo. — Você prefere comer de uma vez ou prefere ir lavar o rosto?
Kihyun não precisou pensar a respeito. Sentou-se à mesa para comer. Estava tão faminto que estranhou. Geralmente, não acordava assim.
— Quantas horas são? — Ele perguntou.
— Onze e meia. — Kihyun quase cuspiu o que estava na boca. Ele havia dormido por mais de doze horas. Changkyun riu. — Você estava bem cansado.
— Experimente trabalhar como um escravo e saberá a dor — Kihyun rebateu. Seu humor de sempre estava de volta e ele agora estava pronto para soltar a língua. Já era o terceiro dia de Changkyun ali, e ele sentia-se começar a gostar da presença do garoto, que se mostrara mais do que um encrenqueiro.
Changkyun não o respondeu, apenas dando um sorrisinho e colocando mais comida na boca. Kihyun aproveitou o momento de silêncio para apreciar a cozinha arrumada e o sentimento leve que se estendia para todo seu corpo. Estava descansado e calmo e, portanto, estava feliz. Quis se agarrar a este sentimento para que ele não se esvaísse e ficasse com ele por todo o dia.
Encarou Changkyun, quem também parecia distraído, com o celular em cima da mesa, desligado. Ele encarava a janela atrás de Kihyun, onde o sol brilhava fraco por estarem no outono.
— Você vai almoçar comigo mesmo sendo tarde, certo? — Kihyun questionou-o. Changkyun fixou seus olhos nele e arqueou uma sobrancelha. Kihyun conseguiu ver uma mistura do olhar frio do garoto, junto a um calor que ele não sabia de onde vinha. Talvez fosse impressão sua; um reflexo de como ele se sentia. Mesmo que o xingassem naquele momento, ele ainda assim não se sentiria para baixo.
— Você quer que eu almoce com você?
— A não ser que você ache que tenho amigos invisíveis, é bem claro que eu vou passar o dia sozinho. — Kihyun deu uma mordida enorme no enroladinho de salsicha. — E você cozinha muito bem.
Changkyun encarou-o por um segundo, pensativo, ao que a decepção cruzava seu rosto rapidamente, passando despercebida por Kihyun. Seu olhar usual se instalou ali.
— Okay — ele respondeu, sucinto.
Não o faria mal ficar ali por mais algumas horas, principalmente depois de ele ter pedido a Kihyun para passar a noite. Kihyun também estava cuidando bem dele, e também havia o abraçado como se ele fosse importante para si. Okay, Changkyun pensou consigo mesmo. Este não é o ponto. Então olhou para Kihyun, quem sorria feliz com a resposta positiva e sentiu seus lábios se encurvarem, mesmo que minimamente.
Não havia problema em ficar ali por mais algum tempo. Kihyun não era o único que queria companhia naquele domingo.
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já amo
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• beaten up - changki •°
FanfictionNa qual Kihyun encontra um garoto surrado sentado contra o elevador do seu prédio e decide ajudá-lo. • shortfic •