Primeira Parte

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  Dia vinte e quatro de dezembro

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  Dia vinte e quatro de dezembro.

  Eu deveria estar na casa da minha mãe, ajudando a preparar a ceia da Véspera de Natal. Deveria ligar para o meu pai para lembrá-lo de chegar no horário certo, ajudar meu padrasto a fazer lamington e ajudar minha minha mãe com a receita de pavlova da vovó. Depois, teria que jogar alguma partida de videogame com minha irmã mais nova, Samantha, enquanto esperava ansiosamente pela meia-noite.

  Tudo isso eu faria em um ano normal, todavia, 2020 não é um ano normal! Faz quase um ano que o mundo é assolado por algo que a maioria de nós nunca cogitou ser possível em pleno século XXI, uma pandemia. Uma maldita pandemia!

  Suspiro frustrado ao terminar de guardar o último item que havia higienizado das compras. Nunca em todos os meus quase trinta anos de existência, cogitei a possibilidade de dar banho em um pacote de arroz, mas lá estava eu desde o início da disseminação do vírus dando banho em vários produtos e alimentos empacotados e enlatados.

  Sinceramente, ainda desejo com todas as minhas forças poder passar essa Véspera de Natal com a minha família, mas eu estava sendo obrigado a me contentar em ficar sozinho no meu pequeno apartamento. E bem, me obrigo a passar por isso já que é para manter as pessoas que amo seguras e saudáveis, o que não significa que eu não estou triste e sofrendo em ficar longe da minha família.

  Minha família mora em Herberton, Austrália, e eu estou em Chicago, Estados Unidos. As viagens internacionais para o meu país estavam parcialmente permitidas, todavia há uma série de pormenores que interferem diretamente na permissão de permanência. Além disso, o acesso à minha cidade natal está completamente restrito, o que diminuiu ainda mais as minhas chances de estar presente para o Natal.

  Meu celular começa a tocar e, pela primeira vez no dia, um sorriso se faz presente em meus lábios.

  — Olá, filhote — minha mãe cumprimenta sorridente assim que eu aceito a chamada de vídeo. — Como está por aí?

  — Oi, mãe — falo me sentando no banco da bancada de granito. — Está tudo bem na medida do possível. Só mais dois dos inquilinos do meu andar se mudaram hoje.

  O prédio no qual eu moro entrou em quarentena mês passado devido a descoberta de alguns inquilinos com Covid. Felizmente, todos se recuperaram bem e, desde então, mais ninguém foi diagnosticado com a doença, entretanto, muitas pessoas optaram por se mudarem ao fim da nossa quarentena por medo dessa situação se repetir, tanto que no meu andar haviam oito apartamentos, mas apenas três estavam ocupados.

  Para que os casos de Covid não voltassem a aparecer no prédio e para que mantivéssemos nossa boa saúde e o proprietário não perdesse os inquilinos que estavam se mudando constantemente, o síndico, Seu Ernesto, adotou uma série de restrições que devem ser cumpridas a risca para manter a nossa segurança. Na longa lista, que eu considero extremamente necessária porque muitos dos meus colegas de prédio são sem noção mesmo em meio a uma pandemia, há desde a proibição da entrada de mais de dois visitantes por apartamento e a proibição da permanência no corredor por mais tempo do que o necessário.

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