Capítulo III - Seja meus olhos

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"O sentimento está presente, apesar do desejo de ver ele não pode; apesar do desejo de ouvir ele não consegue

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"O sentimento está presente, apesar do desejo de ver ele não pode; apesar do desejo de ouvir ele não consegue."

Me deparar com alguém que conhecia meu passado em uma cidade tão remota quanto Rockville me deixou surpreso, trazendo à tona toda a minha carreira deixada para traz sem que eu pudesse conter. Aquilo doeu, ainda que me alegrasse por ainda haver pessoas pensando em mim com tal carinho, a decepção de não poder satisfazê-las com minha escrita era pior. Foi por essa razão que me despedi às pressas e retornei para casa.

Agora que penso nisso com mais calma, ele não foi culpado, era apenas uma pessoa encantada em conhecer um autor do qual gostava e minha reação exagerada com certeza deixou uma má impressão sobre mim. Talvez seja essa a razão que me fizera sentir culpado, até pensei em retornar lá, mas já não tinha rosto1 para fazê-lo.

Além do mais, mesmo que eu voltasse poderia não o encontrar mais, ele não parecia ser alguém da cidade. Devido minha frequência no parque, passei a conhecer algumas das pessoas que sempre iam para lá, embora não fosse mais como antes, tenho confiança para dizer que ele, no mínimo, se mudou recentemente.

E dito isso, somente deixei os dias passarem, pois nem era certeza de que eu fosse encontra-lo novamente, o único que costumava ir todos os dias era eu. Mesmo assim era uma quinta-feira de manhã, se fosse alguém com uma rotina de trabalho não estaria no parque àquele horário.

Sem conseguir mais suportar a culpa por ter tratado injustamente um fã, corto algumas fatias do pavê de chocolate, biscoitos e castanhas que fizera colocando-as em uma vasilha. Logo chamo por Lucky para dar uma volta no parque. Esperei até domingo, pois as chances seriam maiores e, caso não o encontrasse, poderia desfrutar de um piquenique com meu cachorro.

Após pegar uma bolsa de pano e guardar a vasilha com uma garrafa de água, pego meu boné e os óculos antes de seguir meu caminho. Comparado àquela manhã, hoje o sol estava mais caloroso e aceitável, o clima não estava quente e, talvez por ser um fim de tarde, a brisa trazia alguns arrepios a minha pele.

Sendo guiado por Lucky, não demorou muito até chegarmos e ele parecia saber exatamente minha intenção, me conduzindo diretamente para o banco em que costumava sentar para ler ou estudar. Um sorriso inevitável ergueu meus lábios por sentir a animação do animal, ele parecia feliz por finalmente ver seu dono saindo de casa, Mal sabe ele que sua felicidade se deve a culpa. Minha consciência me repreende mais uma vez, fazendo um longo suspiro escapar.

Chegando no banco em que costumava sentar e a julgar pela quietude do local, parecia estar vazio. Também não ouvi nenhum som do instrumento de cordas que fora tocado anteriormente e por alguma razão me senti chateado ao perceber isso. A súbita agitação de Lucky me desperta dos meus pensamentos e me abaixo para acariciar sua cabeça em uma tentativa de tranquiliza-lo.

No entanto, minha não encontrou a superfície macia e peluda do labrador, mas sim uma superfície calorosa, a mão de outra pessoa. A surpresa me fez retira-la às pressas me repreendendo interiormente pelos descuidos de não ter visão.

O som do coraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora