Capítulo Único

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— Que droga! — Bill Cipher escutou logo quando pôs um dos pés para dentro do apartamento. Acabou por soltar um baixo riso consigo mesmo, enquanto negava em um aceno com a cabeça, depositando as chaves sobre a pequena cômoda da entrada.

Retirou o sobretudo preto que escolhera para usar no dia que amanheceu um tanto frio, pendurando-o no cabideiro de parede próximo à porta. Expiou rapidamente o relógio de parede; eram sete da noite, havia chegado mais cedo.

Ele caminhou pelo pequeno corredor, virando a direita no arco que dava para a sala. Lá estava a responsável pelos xingamentos e resmungos, sentada no tapete felpudo, frente à mesinha de café. A sua superfície de vidro estava sendo submetida à carregar não só o peso de um notebook, como também de muitos papéis, ferramentas de escrita e diversos livros sobre a história da arte. 

Olhou bem a jovem, que parecia não ter lhe notado até então. Os cabelos castanhos presos em um coque frouxo e desleixado, alguns fios desgrenhados como se tivessem sido puxados violentamente; o semblante concentrado, e meio irritadiço, exibia um ar cansado. Claro, as olheiras contribuíam para isso. Pobre menina, pensou ele, a vida universitária não é tão fácil como os filmes fazem parecer ser.

Aproximou-se de onde ela estava, sendo imperceptível pela garota focada. Agachou atrás dela, ficando com as penas dobradas e os calcanhares erguidos. O loiro inclinou um pouco o seu próprio corpo para frente, analisando superficialmente as palavras no arquivo aberto na tela do computador.

— Acho que você precisa descansar um pouco. — Apontou, falando próximo ao ouvido dela, o que arrancou um gritinho agudo da menina que virou com brusquidão, acertando sua testa no queixo do homem.

Resultado: alguns papéis foram para o chão, junto de um ou outro lápis, assim como o traseiro do Cipher que perdeu o equilíbrio na batida.

— Ai, Bill, mas que merda?! — Resmungou a morena, massageando o local do impacto. O outro fazia o mesmo, movendo o seu maxilar de um lado para o outro, querendo certificar de que não o havia deslocado. 

— Eu quem pergunto, inferno, prefiro quando você me recebe com um beijo! — Exclamou irritado, por mais que vez ou outra tivesse tendências masoquistas, aquilo doeu mais do que deveria.

— Não é minha culpa se você chega igual uma assombração e me assusta desse jeito! — Retrucou, ela já estava irritada com todo o trabalho que estava elaborando, seu mal-humor estava à flor da pele nos últimos tempos.

— Você que anda desatenta demais. — Acusou de forma direta, trazendo um ar de indignação para o rosto da jovem Pines. — Está praticamente dormindo em pé, você está pior que um morto-vivo.

— O que?! É claro que não, eu estou em perfeita sanidade mental. — Óbvio, ela dizia aquilo para convencer mais à si mesma do que o homem que lhe olhava com uma sobrancelha arqueada.

— Ah, jura? Pois eu pensei que o pintor da Monalisa fosse o Da Vinci, e não Leonardo DiCaprio. — Provocou, exibindo para a mulher o seu melhor sorriso presunçoso, esbanjado de malícia. 

Bill quis rir, e como quis! A expressão de assustada que a jovem fez, antes de olhar para a tela do eletrônico, e confirmar a sua acusação era, de longe, uma das coisas mais hilárias que vira em vida.

— Ah, mas que merda! — Bradou, antes de digitar rapidamente as teclas e consertar a sua dissertação errada. Como ela não havia percebido tamanho deslize?! — Argh, para de dar risada, isso não tem graça nenhuma! — Esbravejou com impaciência. 

Era um fato, época de TCC realmente mudava as pessoas, já havia muito que os conhecidos não viam a Mabel de fala alegre e expressão sempre sorridente, ultimamente ela só anda apressada, irritada ou de cara fechada por conta da noite mal dormida. 

Sob Gotas D'águaOnde histórias criam vida. Descubra agora