"Querido,
Aqui estou eu, lhe escrevendo a primeira carta como se isso pudesse explicar o que estou sentindo, dentro de mim. Depois que te vi hoje, andei por aquela enorme rua com diversas lojas no centro da cidade e comprei na ilusão de um futuro onde você estaria presente, uma caixa.
Sim, uma caixa.
Folhas com aquele aspecto antigo que imagino que você goste e canetas pretas. E agora, sentada na varanda de casa, olhando como as rosas que plantei mês passado atraem o olhar da minha cadela, com nome daquilo que encantam o seu olhar quando olha para o céu a noite, tento escrever poesias capazes de atraírem o seu olhar para mim
Atlas."
Era verão e o Sol insistia em querer queimar aquela pele parda e sensível que adorava ficar ali, tão exposta, como se quisesse sentir o quanto aquilo ardia, para assim a pobre menina pegar o seu gosto pela situação e se sentir um pouco mais viva.
As férias terminariam nas próximas semanas e agora ela conseguia encontrar motivos para se sentir animada com isso. Como poderia esquecer? Já se passará quase um mês e nenhum daqueles pensamentos teriam definitivamente ido embora.
Aqueles olhos escuros como a noite, além dos cabelos e a cor da pele. Seria mesmo loucura como todas as suas colegas insistiam em repetir? Ela só teria o visto uma vez, ou duas. Mas com certeza já sabia quantos fios ele possuía na cabeça e como o sorriso dele era perfeitamente branco.
Espreguiçando-se sentada na cama de seu quarto, Atlas conseguia ver pela sua janela a beleza do céu azul, tendo o prazer de observar o formato das nuvens que dançavam nele. Tentou imaginar em como as coisas poderiam ser dali para frente e continuando a olhar aquela paisagem, a feição de seu rosto mudou ao ver tantas casas não terminadas e ao pensar em quantas vidas também poderiam estar assim.
Voltou a deitar e revirou-se na cama, até que seus olhos encontraram no canto do quarto algo pequeno, feito de madeira antiga com um feixe de metal na frente. Ao lado, tinha um bloco de papel, desses com cheiro de novo, novo como o sentimento que possuía dentro de si.
Olhou no relógio, era três e meia. Adormeceu.
Seria o último final de semana que passaria na casa de sua mãe, seus últimos dois dias antes de ter de voltar a rotina ao lado do pai, biólogo, divorciado e que mora em um bairro não tão distante ao que Atlas se encontra agora. Nos próximos dias ela completará dezesseis anos e isso não a animou tanto quanto a inocente vontade de voltar ao colégio.
Voltar ao colégio.
Não tinha como não pensar em como seria conviver no mesmo local todos os dias com várias pessoas que achavam tudo aquilo uma loucura, enquanto ela só queria permanecer ao lado de quem a fazia sentir assim.
"Mas talvez, fosse uma loucura mesmo." Pensou.
Ela nem sabia o nome dele, e ele, com certeza não percebera nem que fora observado algumas vezes por olhos tão distantes. Mas do que isso importava? Ela sabia de coisas importantes, acreditava que sim.
Tinha observado e riu sozinha por saber que não poderia saber de tanta coisa vendo-o apenas uma ou duas vezes. Aquele sentimento novo estava florindo dentro de si assim como as rosas de seu jardim e ao se sentir feliz soube que muita coisa já havia mudado e que muita coisa ainda iria mudar.
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Cartas para você
RomanceEu pensei que nunca fosse escrever neste livro e também pensei que eu nunca me sentiria assim, pois é... acho que dói menos você estar longe do que estar perto e ser invisível... talvez ser invisível te dê alguns privilégios e acredito que um deles...