Capítulo 2 - Ninguém conhece ninguém

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"Querido primeiro amor,

Hoje, escrevo-lhe a primeira carta sabendo que sou sua. Hoje, irei dormir na esperança de um dia acordar ao seu lado, e ser feliz ao seu lado. Quero que esse sentimento cresça e continue intacto dentro de mim. Quero dar uma pausa nos momentos que passo ao seu lado e te abraçar sabendo que você é meu. Eu quero viver o resto dessa vida com você na esperança de te encontrar em outras por aí. Hoje, sei que o futuro está próximo e sei que você vai estar ao meu lado em cada momento daqui para frente. Sou feliz por saber que tenho você, aqui, tão próximo. E sei que vou continuar sendo, o resto da minha vida, por que eu tenho o enorme prazer de ter você, comigo. Eu te amo.

Atlas."


Já havia se passado três semanas e Atlas estava muito radiante com o novo sentimento que crescia aos poucos dentro de si, como se ele fosse uma arvore recém-plantada e disposta a nascer. A rotina escolar a cansava, fazendo a sentir arrepios no corpo quando pensava em como seria sua vida dali para frente e se aguentaria tudo até o final. 

Mas alguma coisa estava incomodando-a e como pequenos trechos de filmes, as suas lembranças passadas a invadiam e faziam com que chorasse. Ela não queria ter feito o que fez ou ter deixado de fazer muitas coisas para ficar com Tales, mas ela não podia mais mudar o que havia acontecido e muito menos esquecer. 

Ah aquela menina, não conseguia esquecer coisa alguma e guardava suas memorias como se fossem recentes intactas dentro de si. E doía, como doía. As vezes sozinha em seu quarto pensava se todas aquelas pessoas seriam realmente suas amigas e se queriam o seu bem com tudo aquilo que repetiam tanto. Será que ela estava tão cega de amor assim que não poderia ver o que parecia ser tão obvio? Concordou que essas pessoas tinham todos os motivos do mundo para inventar diversas coisas, já que ninguém compreendia o que estava acontecendo entre os dois.

Angustiada pensava em sair de casa para encontrar com Cesar, até então seu melhor amigo e fiel primeiro amor. Não era tão distante de sua casa assim então colocou a primeira roupa que encontrou no armário sabendo que ele não se importaria com sua aparência naquela noite, assim como nunca havia se importado. Ela sabia que não existia necessidade de avisa-lo pois muitas vezes havia feito o mesmo caminho a procura da mesma coisa. Uma solução.

Ao se aproximar daquela casa esverdeada com grandes portões de ferro observou apenas uma luz acesa, essa que por sinal a deixou aflita, naquela estreita rua sem energia elétrica. Conforme ia andando viu movimentos um pouco acima da casa de seu amigo e o medo a preencheu quando não soube identificar os rostos que estavam ali. Pensou em recuar, mas aquelas sombras enormes já haviam notado sua presença e estavam andando em sua direção. A única coisa a se fazer agora era ter calma e foi assim que continuou a andar em direção aquele portão, até ser parada e surpreendida por uma mão que pegava seu braço pelas costas. Virando assustada ouviu naquela escuridão uma voz baixa que dizia algo que seu medo não a deixava escutar, e sem se dar ao trabalho de perguntar outra vez, virou e foi surpreendia por um cumprimento.

- Meu Deus Marcelo, porque não disse logo que era você?

- Pensei que tinha me visto, e que se não tivesse seria uma ótima oportunidade de te assustar.

- E você Thiago? Pegando no meu braço dessa forma. Juro que me assustei.

- O meu anjo não era a intenção – ouve-se risos que são interrompidos pela cara fechada e assustada de Atlas que encara os dois.

Thiago e Marcelo estudaram com Atlas e Cesar no fundamental e não havia passado pela cabeça dela que poderia ser um dos dois pelo simples motivo de ter se esquecido que eles moravam perto dali.

- Mas como você está? – Thiago pergunta – Para estar vindo procurar Cesar essas horas não deve ser coisa boa.

- Ou deve, vai saber – Marcelo completa.

- Estou bem – mentiu - vim apenas visitar Cesar para saber como andam as coisas.

- As coisas? – Thiago Pergunta – Andam como sempre foram. Cesar continua a trair a nova namorada e você continua apaixonada por ele ser assim.

- Apaixonada pelo que? Não concordo com as atitudes de Cesar e ele sabe muito bem disso, muito mais do que vocês pensam.

- Então você não nega o fato de estar apaixonada por ele? - Thiago completa.

Atlas só obteve o momento de refazer a cara de brava para os dois amigos, pensando rapidamente em como sua vida havia mudado junto com sua paixão. Quando pensou em responde-los Cesar apareceu. O coração de Atlas ficou tão em paz que simplesmente esqueceu o que ia falar e os garotos que observavam completaram o momento dizendo:

- Pois bem Cesar, é isso mesmo.

Em silêncio, ela chegou a se perguntar o que seria o que, mas deixou que seus pensamentos repentinos a invadissem e a acalmasse. Após um imenso espaço de tempo preenchido pelo nada, ela se vira em direção a Cesar e se depara com um sorriso radiante vindo daquele rosto angelical. As palavras haviam sumido e o motivo parecia ter ido embora também.

O espaço vazio e silencioso fez com que sem muita demora, ela conseguisse voltar à realidade, pensando no porque estava lá e o que queria naquele dia. Esses pensamentos transportaram a linda menina de cabelos pretos a uma nova realidade. 

Pela primeira vez tinha percebido na figura em que estava a sua frente uma simples falta de interesse e o começo de um possível desentendimento. Ela não queria e não podia imaginar em tanto tempo uma primeira briga com a pessoa que mais confiava. Talvez, ela pudesse admitir que seus sentimentos fossem tão fortes que qualquer situação negativa a machucasse. Talvez não. 

Atlas se despediu. 

Assim, resolveu encontrar-se com Tales para esclarecer todos os pensamentos que estavam assustando-a. Ela estava com medo de pegar o telefone e ouvir aquela voz suave novamente, pois não sabia o que esperar dos diversos tons que poderia ouvir. Enfim ele atende.

- Oi – ela diz

- Oi amor, como você está?

Suspiro.

- Estou bem. Está em casa?

- Não. Aconteceu alguma coisa?

- Sim, quer dizer... Não sei. Queria te ver hoje.

- Daqui vinte minutos chego perto de casa, poderia me esperar perto da casa de doces?

- Tudo bem.

Atlas sentia uma enorme tristeza com pressentimentos de que algo estaria a acontecer. Sentada ao lado da casa de doces esperava Tales com agonia. Ele aparece sorridente fazendo o coração dela disparar, sorri e faz um leve aceno pedindo para que ela esperasse. O pedido é atendido. Ele entra na casa de doces e fica lá por aproximadamente dois minutos e sai, mais radiante do que entrou, com um saco branco repleto de chicletes de melancia. Sorrindo e mascando se aproxima, a beija na boca e percebe a frieza naquele olhar que sempre o observou muito bem. Atlas pega o saco de balas da mão de Tales e volta friamente a se sentar.  

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⏰ Última atualização: Feb 04, 2021 ⏰

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