Untitled Part 2

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Capítulo I

 

Atualmente

Ergo meu olhar do caderno na minha frente, respiro fundo e volto a observar as palavras escritas com caneta vermelha que antes do intervalo não estavam lá. Olho em volta na sala e todos parecem estar concentrados assistindo a aula.

Vida ou morte?

Morte ou vida?

Se você pudesse escolher, qual escolheria?

O que pode haver entre elas?

O que há antes ou o que há depois?

Como distinguir a linha tênue que as dividi?

Como entender esses dois universos distintos e intimamente ligados?

Como saber separar o que é real e o que é uma mera ilusão?

Viver na morte ou morrer na vida?

O que isso quer dizer?

Minha respiração acelera e minha cabeça começa a dar voltas. Seja lá o que isso for isso não está certo. Sinto a fagulha da vida sendo drenada e arrancada de mim, aos poucos, dia após dia, por mãos invisíveis, e nada posso fazer. A dor sucumbe meu coração esgotando minha energia. E a única certeza que tenho, é a de que eu deveria estar morta. E não no meio de uma sala de aula, assistindo a professora Whitmore falar sobre a história da Grécia. Eu não deveria estar aqui, deveria estar em outro lugar, mas não consigo lembrar onde ou mesmo por que. Só sei que este não é o meu lugar.

_ Temos de ter noção antes de adentrarmos o conteúdo que a Grécia antiga não é a Grécia atual._ a professora Whitmore fez uma pausa e olhou para cada um dos trinta e dois alunos sentados na sua frente.

Acompanhei seu olhar semicerrado e a vi franzindo as sobrancelhas. Ao meu lado a cadeira que antes estava vazia agora esta ocupada. Um rapaz de aparência sinistramente pálida e com roupas surradas me encara. Seus olhos dourados parecem querer me dizer alguma coisa. Nenhum dos outros alunos percebe sua presença. Parecem petrificados em seus lugares. O rapaz pálido e com capuz abri a boca mais ao invés de palavras sangue escorre por seus lábios. No mesmo instante sinto a temperatura da sala cair e um calafrio percorre minha espinha. Ergo-me da cadeira que estou sentada e o som estrondoso da mesa a minha frente sendo arrastada parece despertar todos na sala que se voltam e começam a me encarar com olhos vidrados e a sussurrar.

Com o coração acelerado, noto que a cadeira ao lado esta vazia novamente. A professora Whitmore me olhava com expectativa, como se esperasse alguma reação da minha parte. Desvio meu olhar e forço-me a sentar novamente, com o rosto ardendo em brasa. Ignorando a sensação de formigamento no meu estomago.

Devia ter lido a bula do remédio direito e não ter pulado nenhuma parte. Devo estar tendo alucinações provocadas pela quantidade de remédios. Assim que chegar em casa pegarei aquela bula que deixei no chão do meu quarto.

É isso. Foi isso que aconteceu. Alucinação provocada pelo remédio.

Então por que meu coração continua tão acelerado?

Pareceu tão real...

_ Poderia nos explicar Luna em quais três partes o mapa da Grécia antiga era dividido?

Respiro fundo e baixo a cabeça.

Aqueles olhos dourados, eram olhos de assassino. Não sei como, mais quando ele me encarou senti a escuridão me cercando.

_ Então, Luna, qual a resposta?

_ Eu não sei Sra. Whitmore.

_ Você saberia se tivesse lido o capitulo do livro como foi solicitado na ultima aula. Alguém pode ajudar a Luna?

Uma garota com cabelos loiros na altura do queixo ergueu a mão.

_ Sim, Andressa?

_ O mapa da Grécia antiga era divido em três partes: a parte continental “terra firme” situada ao sul das regiões atuais dos Balcãs e fazia fronteira com antiga Macedônia; a parte península, formado principalmente pelas penínsulas do Peloponeso e da Ática; e a parte insular, formada pelo conjunto de ilhas com destaque para a ilha de Creta a maior das ilhas.

_ Muito bem Andressa. Dando continuidade ter uma boa noção da geografia da Grécia é fundamental para o estudo da história da Grécia Antiga. Outro aspecto importante é seu legado, ou seja, sua herança deixada para nós, como a democracia, filosofia, mitologia entre outras contribuições que influenciaram a construção da sociedade.

A professora Whitmore seguiu com a aula sobre a Grécia antiga, enquanto meus pensamentos me levam de volta a noite em que perdi tudo no acidente. Reprimindo o sentimento de desolação que tomou conta de mim quando acordei sozinha no quarto do hospital, forço minha mente para lembrar o que aconteceu, mais não consigo. Não lembro nada. Nem mesmo sei quem sou. Só sei que não devia estar aqui. Tem alguma coisa errada.

Quanto mais penso a respeito menos sentido faz. A centelha de vida que borbulha no meu interior aos poucos vai se extinguindo. E a certeza de que eu deveria estar morta se amontoando no meu coração. Fecho os olhos e a única coisa que encaro é uma folha em branco. Não sei o que fazer.

O sinal toca anunciando o final da aula e interrompe meus devaneios, me levando de volta a realidade onde a garota loira com cabelo na altura do queixo me encara com olhos verdes gelados.

_ Então a doce Luna resolveu nos agraciar com sua presença. _ Andressa fingiu pensar e em seguida sorriu. _ No entanto, sinto dizer, que seria melhor para todos se você tivesse simplesmente morrido.

Ela gargalhou e saiu da sala.

Argh.

Raiva borbulha no meu interior.

Não preciso me lembrar de quem sou pra saber que não gosto dessa garota.

_ A Andressa não quis dizer aquilo por maldade.

Sobressaltada, ergo meu olhar e encaro um par de olhos verdes iguais os da Andressa, mais a semelhança acaba por ai. Seus olhos não são gelados são quentes e convidativos. Seus cabelos são negros e seu sorriso tentador.

_ Ela não esta acostumada a não ser o centro das atenções.

_ Claro, eu devia saber. Ah, espere um segundo, não lembro nem quem eu sou, então como eu poderia?

_ Deve ser difícil pra você.

_ Você não faz ideia.

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