𝒔𝒕𝒂𝒓𝒍𝒊𝒈𝒉𝒕

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Quando você olha para trás poderia dizer que foi amor à primeira vista, Seo-Jun, soaria muito bonito.

Mas essa não seria a verdade — e não parece um bom começo iniciar essa recordação de forma mentirosa.

Não, quando ela atravessou a frente da sua moto — acidente que você se gaba até hoje por ter conseguido evitar, afinal, ela não teria tido essa sorte se você não tivesse uma mente tão ágil, certo? — Foi muito mais raiva, frustração, incomodo, curiosidade e, quem sabe lá no fundo, diversão, um misto de emoções, tudo junto e misturado.

É claro que você também não poderia dizer que foi amor à primeira vista porque seria clichê demais, e você odeia clichês, Seo-Jun, soa piegas — o que torna a situação tragicamente cômica e risivelmente cruel se pararmos pra pensar que você futuramente faria parte de um triangulo amoroso. Enfim, acho que estamos adiantando as coisas.

Mas foi ali, em meio ao caos, que você a conheceu. Parece justo, porque depois desse dia sua vida virou um caos prolongado — principalmente dentro de você, Seo-Jun.

Lim Ju-Kyung, mas você só saberia o nome dela dias depois, por uma feliz ou infeliz coincidência do destino — você ainda não decidiu, acha que depende do momento e da lembrança — Naquele momento tudo que você sabia era que ela estava fugindo com seu capacete. Você se lembra de querer sentir ódio dela por aquilo, mas só conseguiu achar graça da situação, ela era engraçada, desde o princípio. E você ficou feliz porque era algo que os conectava, como uma promessa de que se reencontrariam, quase um fio vermelho do destino — você não acredita em destino, mas se permitiu pensar a respeito meses à frente, quando já não conseguia mais tirar os olhos dela. Voltando.

Você nunca gostou do colégio, né, Han Seo-Jun? Todas aquelas normas, vestimentas — por mais que você se ache irresistível de uniforme escolar —, horários para seguir... Só não batia com a sua personalidade de bad boy, afinal, todo bad boy que se prese odeia seguir protocolos — você não escapava a regra, mesmo que sua pose de garoto mal se limitasse a uma jaqueta de couro e olhos congelantes. Talvez por isso você não deixasse ninguém se aproximar o suficiente, Seo-Jun, tinha medo que vissem além do sorriso cretino — e charmoso, extremamente charmoso.

Mas, por algum motivo, vindo de você a única coisa que a assustou foi o quase atropelamento. Ela nunca se intimidou de verdade com toda essa sua aura.

Se destino existe você achou que ele trabalhava especialmente a seu favor, a havia colocado tão perto, ao alcance de suas mãos, apenas alguns passos de distância. Depois você começou a achar que tinha sido Judas, Hitler ou alguém que pisava na patinha de cachorros por prazer na vida passada, porque precisava ter um motivo para o universo detestá-lo aquele ponto.

Ah, você também odiava o colégio porque ele estava lá. Odiava encontrá-lo, odiava pensar que respiravam o mesmo ar, odiava pensar que pisavam o mesmo chão e dividiam o mesmo espaço, que poderia puxar seu colarinho sem esforço e socá-lo. Odiava como se sentia perto dele, as lembranças que ele carregava. Odiava quem você era perto dele.

Naqueles dias adicionou algo a lista: Odiava que Su-Ho estivesse mais perto de Ju-Kyung do que você.

Mas é claro, você viu nisso uma oportunidade, Seo-Jun. Poderia atingi-lo se aproximando dela, você só não esperava se envolver tanto. Ah, e como você se envolveu, Han Seo-Jun.

Você a achava uma criaturinha muito curiosa, tão graciosa mesmo nos tropeços e tão divertida apenas por ser quem ela é — você nunca disse a ela, mas demorou para reparar em sua aparência. Ju-Kyung era mesmo muito bonita, belíssima. Mas ela era tão mais linda por dentro que ficava difícil se limitar a admirar extensões de pele de porcelana e lábios rosados. Ela sempre foi muito mais que isso, você soube no primeiro instante. Até hoje você sente vontade de virá-la do avesso e abraçar sua alma.

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