Ajeito o meu chapéu e olho para minhas unhas recém pintadas de preto, respiro fundo e encho meus pimpões de ar fresco. O dia está nublado como sempre costuma ser nessa época do ano, as pessoas correm na faixa de pedestre que rodeia a praça ou só caminham conversando com quem está ao seu lado.
Sinto a solidão preencher cada espaço que há em mim, a angústia me domina e continuo a caminhar tentando ao máximo esquecer, mas não dava e isso entristecia minha alma. Era só uma brincadeira, vamos idealizar um mundo diferente. Tudo ao contrário.
Nos perdemos nisso e hoje vivermos aqui nesse limbo entre a ilusão e a realidade, Bia aceitou e parece viver e gostar dessa vida e eu, bom por um tempo eu gostei afinal essa era a minha vida agora, minha mente e pensamentos diziam que esse era o meu cotidiano. Eu queria não ter lembrado, lembrar dói e eu não posso mudar o que aconteceu e agora estou nessa brincadeira de ser uma garota malvada, mas que na verdade sabe que em algum lugar foi diferente.
Sinceramente uma parte de mim gostava muito de como eu era, forte e independentes, atrevida e que vai em busca do que quer. Mas havia a parte ruim, uma mulher que não tem uma boa relação com a irmã e com a mãe.
Nesse vida estranha que eu levava, não dava bem com a Bia. Uma briga de anos que foi alimentada por egos e agora que eu sabia da verdade era mil vezes pior. Papai era bom, mas sua relação conturbada com minha mãe não ajudava muito e falando nela. Alice a mãe controladora. “Faça isso Helen” ou “Sua irmã parece ser melhor.”
Tudo isso não soa errado para você? Pois para mim não e eu sabia bem o porquê e tinha o Victor, meu doce e bom namorado.
Quando Bia inventava esse mundo complemente fora do prumo, ela brincou dizendo que talvez nós dois estivéssemos juntos. Eu lembro exatamente quais foram as minhas palavras.
Afasto esse pensando e olho para o lugar a minha frente, a fachada mostrava toda a ostentação que na minha concepção era demais para um dos bares mais conhecidos de toda Buenos Aires. Mas era de se esperar que fosse, o nome Kunst era famoso por todo o país. Seu dono era conhecido não só por esse lugar, mas por ser dono de muitas coisas.
Penso se vale a pena ou não entrar aqui, tenho ponderado a muitos dias e agora que tudo começa a fazer sentido na minha cabeça eu precisava saber como ele estava.
Adentro o lugar sem pensar muito, era só um minuto. Era só para vê-lo e pronto. Talvez ele nem estivesse aqui. O lugar estava relativamente vazio, decoração era rústica ao mesmo tempo sofisticada. Noto suas iniciais em cada canto possível e penso em como ele deve ser um tanto prepotente. Há mesas e cadeiras espalhadas por todo o espaço e um pouco afastado, está um pequeno palco onde um exuberante Sax chama atenção, era bem bonito assim como o piano ao seu lado.
Não era como se aqui eu tocasse, acredite eu tinha tentando e não rolou. Frustração foi o que eu senti, mas alívio também, era como se duas pessoas e personalidade habitava em mim e brigassem entre si constantemente. Eu tinha que confessar também que eu ama a guitarra.
As poucas pessoas que estão aqui curte o seu momento de descontração, vou até uma mesa e me sento, vejo um garçom se aproximar mas ele para ao ver algo ou melhor alguém. Ele estava aqui, eu deveria ir embora.
Xxx: Olá – meu coração para por um segundo – Helena Urquiza por aqui?
Helena..... Era tão errado escuta-lo pronunciar esse nome.
Helena: Olha irá me atender? – droga de personalidade estranha que por um acaso me encanta – Deveria me sentir honrada, o todo poderoso Thiago Kunst se sujeitando a isso?
Thiago: Me conhece? – engulo em seco.
Helena: É claro – domo o nervosismo – Quem não conhece o tão aclamado empresário Thiago e bom, não é você que está patrocinando um show onde eu irei fazer a abertura?
Alguns dias atrás eu tinha recebido a proposta vinda da Pixie que acabará de comprar o fundon, era confuso para mim. Eu sabia que tinha acontecimentos errados ao meu redor. Mas tudo em minha cabeça era conturbado tinha situações que eu não sabia se era real ou não.
Thiago: Tem razão – ele deu de ombros – Espero ter escolhido a Urquiza certa – ele desdenhou um pouco e meus olhos cintilaram de ódio – Sabe eu gosto de escolher o melhor.
Prepotente. Nada parecido com quem um dia conheci, mas eu tinha adorado isso nele.
Helena: Com certeza escolheu a melhor – sorri debochando – Ira me atender ou ficará aí me olhando?
Thiago: Gostei, tem personalidade – ele se apoiou na mesa e me olhou diretamente – O que irá querer?
Helena: O que tiver de mais forte – ele ergueu a sobrancelha – E melhor é claro.
Ele se afastou parecendo gostar do que eu disse e começou a caminhar, foi aí que eu vi que ele macacava. Meu coração se aperta estava errado eu sabia, mas até isso o fazia charmoso. Sossega Helena você é comprometida e por alguma razão não consegue por um fim nesse relacionamento.
Quando ele voltou trazia com si uma garrafa do seu melhor uísque e sobre a bandeja dois copos e um recipiente com gelo. Ele estava se convidando a se sentar comigo. Era bom eu o queria por perto e não conseguia dizer para ele ficar. Seria bem sem sentindo.
Thiago: Acha que consegue me acompanhar? – ele se juntou a mim e serviu os dois copos.
Helena: Alguma vez já te falaram que você é um... – não terminei a frase e peguei o meu copo engolindo o líquido que desceu quente em minha garganta – A pergunta é quem te convidou para sentar comigo? – ele riu adorando a situação.
Thiago: Não sei – ele abriu um sorriso que fez meu coração quase sair pela boca – Alguma coisa me diz que você quer que eu te faça companhia.
Será que era tão perceptível assim? Pego a garrafa e desvio meus olhos do seus que parece querer desvendar minha alma, coloco mais um pouco da bebida e a ingiro logo em seguida.
Helena: Já que está aí – fingi não me importar com o que ele disse – Me diz porque escolheu a mim para a abertura desse show? – eu queria escutar o som da sua voz.
Thiago: Como eu disse a pouco gosto dos melhores em tudo que faço – ele abaixou um pouco o olhar e me analisou – E você Helena é intrigante.
Tendo tomar as minhas emoções, uma parte de mim gritava dizendo que ele não era assim, ou adorava essa personalidade dele. Helena só veio aqui para saber como ele levava a vida aqui. Só isso, não se esqueça. Parecia ser uma história com início, meio e fim. Eu sabia que o fim não era nós dois próximos.
Helena: É estranho, eu olho para esse lugar e não consigo imagina-lo aqui – mordo a boca dando conta de que falei demais.
Thiago: Anda pensando em mim – eu ri.
Helena: Se acha tão importante assim? – falei um pouco rispidamente.
Thiago: O que posso fazer – ele disse por dizer e encheu seu copo com uísque.
Me concentrei novamente na bebida, eu não sabia nada sobre quem estava em minha frente. Não foi fácil lidar com as memórias sem nexos que eu passei a ter, nada era fácil. Eu estava aqui só para vê-lo. Foi inevitável, ele de alguma forma entrou nessa vida que eu vivia agora.
Eu queria e não queria o que vivo nesse instante.
Droga minha cabeça estava em uma mistura de tanta coisa, raiva, dor, irá. Paixão e descontentamento. Ódio, eu odiava minha irmã, não queria sentir isso dentro de mim, eu não queria. Mas era inefável e eu sentia um prazer mórbido o vê-la se ferrar. Estávamos em uma constante guerra e eu ganharia a batalha final.
Helena: Sabe sua ideia fez que eu e minha irmã brigássemos ainda mais – olhei em volta.
Thiago: A competição? – ele estava se divertindo – Não foi ideia minha, Pixie só quer se divertir e bem, eu sou um homem de negócios e adoro proporcionar divertimento – voltei a encarar – Algo parece incomodar você – arregalei os olhos – Posso ser um bom ouvinte.
Fiquei em silêncio, eu não acreditava nisso não. Mas com quem eu poderia falar?
Você sabe a resposta Helena, minha mente gritou em meus ouvidos.
Helena: Nem me conhece e quer dar um de psicólogo? Vai dizer que esse é um dos seus muitos dotes? – ele só esboçou um sorriso de canto.
Thiago: Quem sabe? Eu tenho muitos atributos, mas não eu não sou psicólogo e muito menos quero ouvir o que tem a dizer só pra sei lá, te dar conselhos ou algo do tipo – eu tive que rir, afinal eu não falará nada sobre conselhos – Se eles servissem para alguma coisa eu provavelmente já teria patenteado e ganhado muito com isso.
Helena: Então porque está disposto a me ouvir? Mesmo que eu não tenha admitido querer falar algo – me embaralhei nas palavras.
Thiago: Está em um bar, bebendo uma bebida forte e falando com quem não conhece – fechei a cara, até aqui ele parecia me conhecer – Está com cara de quem quer desabafar e bem como eu disse você me intriga. Não foi atoa que eu escolhi você – seus olhos eram intensos – Quero saber quem é a mulher por trás da cantora famosa.
O rebuliço de emoções consome cada célula do meu corpo, ele era tão diferente de quem habitava minhas memórias. Um dos porque de não ter o procurado era a sensação de que ele poderia estar tão diferente ao ponto de me fazer odiá-lo como ódio Bia. Mas não, era como se ele fosse feito especialmente para......
Esquece isso.
Helena: Não deveria falar essas coisas sabe? – o melhor era ir embora, mas quem disse que eu queria – Fala como ser estivesse interessado em mim.
Thiago: Eu estou – falou simplesmente.
Helena: Eu tenho namorado sabia?
Thiago: Eu sei, mas sabe – ele mexeu na gola da sua blusa – Esse é só um pequeno detalhe.
Helena: Eu só sinto que tudo está errado – fujo do que ele me disse, não fazia parte do meu feitio. Mas quem está aqui diante de mexe comigo – Não tem essa sensação? De que algo mudou?
Thiago: Não – ele disse sereno – Pra mim está tudo como deve ser – ele encheu novamente os copos – Mas porque você diz isso?
Helena: Você não entenderia – ele fez uma cara que dizia “Talvez eu possa entender” – Não me ache maluca ok? Mas eu sei que tem algo errado a minha volta.
Thiago: Se tem, está fazendo alguma coisa para mudar e deixar tudo ao seu favor? – o olhei e fiz uma careta – A isso não é um conselho e sim uma constatação.
A verdade era que eu não fazia nada, pois no começo eu não lembrava e vivia essa vida como se fosse a verdadeira e não era, no começo eu gostava de como era tudo aqui. Mas a medida que eu conhecia a outra história eu ansiava por ela, mesmo com tudo brigando contra mim e aqui diante dele, eu sabia que quem ele era agora mexia comigo. Assim como sua verdadeira versão roubara o coração de quem eu era.
Muitas das brigas com minha irmã era por conta disso, ela sabia que nada aqui era real mas não vazia nada para mudar ao contrário, por ela eu não tocava no assunto.
Eu já havia ficado demais aqui, algo em mim achou que ele me veria e se tocaria de que tem algo errado. Talvez eu só quisesse voltar ao que era antes. Não aconteceria.
Helena: É só coisa da minha cabeça – dei o último gole – Obrigada pela conversa.
Levantei e ele também, fiz menção de sair mas ele segurou meu braço e me fitou com seus olhos negros capaz de ver até o mais profundo de mim.
Thiago: Foi um prazer conversar com você – sua voz era rouca e gostosa de se ouvir. Ele se aproximou de mim e sussurrou em meu ouvido – Eu costumo ter o que eu quero Helena e sabe o que eu quero?
Helena: Tenho uma ideia – toquei seu braço e me aproximei tanto ao ponto de quase beija-lo – Talvez eu queria o mesmo – me afastei – Até mais.....
Sai daquele lugar, eu sabia o que queria. Eu queria minha vida de volta, eu o queria de volta. Seja como for e onde for.
Eu o teria.
Mesmo que para isso eu tivesse que mudar essa história já escrita.
Eu mudaria e o teria de volta. Mudança nenhuma o tiraria de mim.
Eu o teria.Olá pessoas, bom como a maioria sabe eu amo escrever caps soltos, as vezes eu só pego uma ideia e transformo uma cena.
Mundo al revés nasceu de um Cap solto e bom, quase sempre para exorcizar ou quando estou sem cabeça pra algo eu pego e escrevo.
Não ia postar esse cap mas minha amiga Tay insistiu pra mim postar e cá estou eu. Esse cap não é uma história é só eu passando o tempo.
Possa ser que quando surgir um cap solto eu traga aqui..... Logo veio com mais uma história... bjos e lembre-se é só um cap que veio de uma cena que comentei com umas amigas..