FARRAYA acordou com balançar suave do trote de cavalos. Estava deitada em um superfície macia e com cheiro de couro, sua cabeça estava explodindo com a dor que ameaçava lhe rachar o crânio. Ela levantou uma das mãos e levou até a têmpora massageando suavemente enquanto lentamente abria os olhos. Teve que piscar algumas vezes para limpar a mente e quando finalmente tomou consciência de onde estava Farraya sentiu o sangue gelar nas veias. Estava deitada em um dos bancos de uma carruagem e a sua frente se encontrava o ventus, que outrora ordenara que ela fosse chicoteada, e um de seus guardas.
-Faz muito tempo desde que vi um de sua espécie- disse o dalrak. Farraya sentiu a dor de cabeça aumentar e o estômago revirar. O que ela estava fazendo naquela carruagem? O que acontecera? E principalmente, o que diabos ele queria dizer com espécie dela? Ela só se lembrava de ser arrastada até o tronco e ter suas costas surradas, depois era só escuridão. Ainda meio tonta a garota se sentou e encarou seu carrasco- É realmente fascinante.
-Onde estou? O-o que aconteceu?- Farraya perguntou gaguejando tanto devido ao medo quanto a secura da garganta. O guarda ao lado do dalrak levara a mão sutilmente até o cabo da espada enquanto a analisava com desconfiança. Espere um pouco! Ele estava com medo dela? Logo ela? Era apenas uma humana insignificante que acabara de se meter em uma enrascada das grandes.
-Você está em uma carruagem real a caminho de Cianthy. Sobre o que aconteceu...bem, você se mostrou não ser uma completa inútil- respondeu o ventus. Farraya sentiu o coração acelerar mais do que já estava, se é que era possível. Cianthy era a capital do quarto burgo do continente, era uma das quatro grandes cidades fortificadas dos dalraks. Farraya não sabia muito sobre os invasores, apenas que estabeleceram quatro grandes cidades ao longo do continente: Cianthy, a capital do burgo de Notus, Grenda, a capital do burgo de Indra, Mávros, a capital do burgo de Geb e Thanatos, a capital do burgo de Belenus. Cada um dos burgos possuía um Elementia, os habitantes de Notus eram os ventus e podiam manipular o ar, causar ventanias e furacões, fora neste burgo que Farraya nascera, apesar de que os dalraks não consideravam os humanos como sendo parte de sua comunidade.
Farraya não fazia ideia de por que estava sendo levada até Cianthy e não gostava nada disso.
-Por que está me levando até a capital?- perguntou Farraya sem nem se importar se estava sendo inconveniente e mal educada, afinal, a sequestrada era ela e se aquele dalrak quisesse matá-la já teria feito.
-Eu já disse! Você se mostrou ser mais do que apenas uma humana inútil e insignificante- respondeu o ventus. Farraya ainda não entendia o que ele queria dizer com todo aquele assunto e decidiu verbalizar suas dúvidas novamente.
-O que quer dizer com isso? De eu não ser mais tão inútil e insignificante?- indagou Farraya novamente. Seu corpo estava dominado pelo nervosismo e inconscientemente ela levou uma das mão até o amuleto em torno de seu pescoço. Era a única herança que ela tinha de sua mãe, Farraya não gostava de admitir, mas nem sequer conseguia se lembrar do rosto de sua progenitora. Aqueles anos estavam anuviados em sua memória e ela se lembrava apenas de uma figura feminina a abraçando e depositando um beijo em sua testa enquanto repetia que Farraya jamais deveria tirar o amuleto. A garota suspeitava que o objeto fosse alguma espécie de talismã de proteção e apesar de não ser supersticiosa ela havia prometido e sempre cumpria com sua palavra. O ar dentro da carruagem estava pesado, o que a fazia acreditar que aquela situação não estava desconfortável apenas para ela.
-Você carrega uma magia a muito tempo perdida- respondeu evasivamente o dalrak. Ele a olhava como se ela fosse a solução para todos os seus problemas. O guarda continuava a encará-la com desconfiança e uma dose de curiosidade. As palavras do dalrak não fizeram o menor sentido e Farraya sentia a cabeça, que havia começado a melhorar, voltar a girar. Isso não era nada bom, se aquele dalrak achava que ela de alguma forma possuía magia, então Farraya estava mais que encrencada. Os dalraks se livravam de qualquer um que representasse o mínimo de perigo para seu império de sangue e uma simples camponesa de uma vila a muito esquecida pelos deuses não seria nenhum empecilho. Farraya não tinha ideia do que tinha acontecido e não sabia porque aquele dalrak achava que ela poderia possuir algum tipo de magia, mas precisava se explicar o mais rápido possível antes que ser chicoteada em praça pública se tornasse uma de suas menores preocupações.
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Reino de Sangue
FantasyO mundo de Farraya é cercado de injustiças e morte. Desde que nascera Farraya não se lembra de um só dia em que não tenha sentido medo e preocupação. Sem pai e nem mãe, Farraya só pode contar com seus amigos e sua esperteza para sobreviver a uma gue...