CAPÍTULO 3

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Dona saudade nem bate mais: já é de casa.
- Vit Fernandes Peripécias

Era doloroso saber que ele vivia me dando sinais negativos e eu não vi, só vi depois do estrago feito. Eu me culpava por não ter sido o suficiente, pra fazer ele mudar de ideia, então veio todas as nossas lembranças juntos, então eu desabei. Não aguentei e chorei, chorei muito porque eu precisava dele.

Porque ele era meu tudo... mas me deixou.

Fechei meus olhos e deixei a água cair misturada com as minhas lágrimas, eu só queria que junto com a água minhas lembranças amarguradas fosse junto e escorresse no ralo...mas mais uma vez ela não foi, permaneceu me atormentando me tirando a paz...

Hoje eu realmente não estava afim de me arrumar, então coloquei apenas uma calça jeans surrada, uma blusa preta, com meus tênis. Arrumei meu cabelo, no rosto passei só uma base pra esconder as olheiras e um gloss apenas.

- Já estou indo, tenho que chegar mais cedo hoje - eu trabalhava em um supermercado como limpadora.

- Vai com Deus - disse enquanto mudava o canal da tv.

Então eu saí. Dei bom dia pro porteiro, e continuei. O supermercado era a dois quarteirões, então não tinha necessidade de pegar um táxi ou algo do tipo.

Quando eu cheguei pra cá, eu não sabia exatamente em que trabalhar, na verdade eu não sabia de nada. Eu me encontrava indecisa.

Eu não sabia o que me aguardava, esperar por algo incerto é tão aterrorizante. Creio que seja porque não podemos saber o que tem nele,se soubéssemos o que há por vir não seria tão agonizante, tão sufocante.

Então fui deixando currículos em empresas,qualquer lugar que pudesse me contratar, qualquer coisa que desse dinheiro. Demorou meses e ninguém me ligava...as meninas já tinham achado um serviço e eu me sentia mal por não poder ajudar na despesa mesmo elas falando que não tinha problema. Então 3 meses depois eu fui chamada pra uma entrevista no supermercado como faxineira, eu não tinha escolha então aceitei.

Se a um ano atrás alguém me falasse que eu iria perder alguém que eu mais amava, que iria morar milhares de quilômetros longe dos meus pais, tendo um emprego com responsabilidades eu iria mandar a pessoa pra um hospício mais perto.

Mas às vezes a vida te põe em certas situações só pra mostrar que você não é melhor que ninguém , que isso pode acontecer com qualquer um. Mas o pior da história é que eu não estava preparada,na verdade ninguém nunca tá.

Todos somos vulneráveis quando se trata de sentimentos, não sabemos lidar com eles e quando não conseguimos isso nos dá um certo desespero, fica machucando, martelando em nossa mente até não aguentarmos mais. O que leva muitas pessoas a fazer o que ele fez comigo.

Enquanto eu andava lembrava da faculdade, das atividades que eu teria que estudar, para a prova. Enquanto me movimentava observava as pessoas andando de modo ligeiro, rumo talvez de seus serviços outros deve que já estavam voltando, alguns pareciam felizes, outros preocupados talvez com o relacionamento, ou filhos, não sei; mas a verdade é que sempre tem algo que nos preocupa.

Entrei no supermercado e já estava com um pouco de movimento, fui direto pro trocador encontrando Suzan na outra limpadora.

- Bom dia Suzan. - disse enquanto pegava meu uniforme, e fazia um coque em meu cabelo .

- Bom dia! Como foi o final de semana? - Suzan sempre tinha um bom humor. Ela era baixinha, rosto de boneca e cabelos ondulados abaixo dos ombros.

- Foi bem. E o seu? - Eu não queria conversar hoje, mas tinha gente que não merecia nossa indiferença, não merecia,porque eles não tinham culpa se outras pessoas deixavam marcas doloridas, se deixava nosso mundo em preto e branco.

- Foi ótimo. - respondeu enquanto fazia um rabo de cavalo em seu cabelo.

Meu trabalho foi normal, passava pano aqui, ali. Só que hoje eu passei parte do meu tempo de cabeça baixa. Suzan estranhou, pois perguntou se tinha algo errado, eu disse que não, apenas muitos trabalhos da faculdade.

Hoje eu saí do supermercado às 6 horas. Quando entrei a Bia já estava na sala vendo alguma série na TV.

- Chegou cedo hoje, heim? - disse enquanto largava minha bolsa em uma poltrona.

- Pois é . Pouco movimento - logo no primeiro mês a Bia arrumou um emprego em um salão de beleza, como manicure.

- Cadê a Elly? - Disse enquanto pegava um copo de água.

- Ainda não chegou. O dia de segunda sempre é corrido pra ela.

- E sim - Elly trabalhava em uma cafeteria com uma livraria vintage. Sempre dia de segunda tem que organizar os livros na prateleira, renovar estoques por promoções de coisas do tipo, ela trabalha lá três vezes por semana. Segunda, quarta e sexta.

- quando ela chegar vamos ter que ir ao supermercado - disse enquanto ia rumo ao banheiro.

Caminhávamos em silêncio rumo ao supermercado. Ninguém dizia nada. Era como se aquele silêncio fosse necessário depois de um cansativo dia de trabalho.

Estávamos muito ocupadas com os próprios pensamentos. Quando chegamos a Bia rompeu o silêncio enquanto arrumava o blazer por cima de um short curto e uma camiseta branca.

- alguma preferência de alimentos?

- É melhor cada uma pegar o que precisa.

- Tá bom. Daqui 20 minutos nos encontramos no caixa.- Cada uma de nós saímos em direções diferentes.

Eu ficava me perguntando o que elas faziam pra serem tão bonitas, sempre tinham novidades a mostrar.

A Bia sempre de cachos definidos em um meio crespo que dava abaixo de sua cintura, com luzes por todo o cabelo. Ela sempre tinha o cabelo hidratado, sempre brilhoso, sempre cheio de vida. Tinha um corpo lindo. Tinha tudo no tamanho certo. Parecia que tudo ficava bonito nela, era como se ela fosse a própria beleza. Exibia graça e sedução com uma única roupa.

Já a Elly sempre curtiu um cabelo menor, seus cabelos com leves ondulações,ficava ainda mais lindo como tava agora. Ela mandou cortar ele em um Chanel tão curto que atrás dava pra ver a nuca, na frente era um pouco mais grande, sempre tinha uma facilidade pra arrumar já que só passar os dedos já era o suficiente. Seus cabelos tinham uma tonalidade cor de mel natural que era o desejo de qualquer pessoa. Seu corpo tão lindo, assentava com qualquer roupa, até da mais simples a mais sexy.

Vinte minutos depois elas chegaram no caixa. Seus carrinhos estavam sortidos. Tinha de tudo um pouco. De Danoninho à vodka. No meu já não tinha muita coisa. Só necessário, eu gostava de fazer compras mas hoje não foi um dia legal para compras, na verdade pra nada.

Chegamos em casa, fomos arrumar tudo no armário ouvindo a Bia reclamar de uma mulher que fez ela desfazer a unha dela três vezes já que segundo a mulher tava indecisa se o namorado dela iria gosta ou não. - triste essas pessoas que vivem para agradar os outros- dizia a Elly enquanto bebia um toddynho.

- Que quê foi Nicolly que tu tá calada hoje? - disse a Bia enquanto colocava os potes de sorvete no congelador. Eu demorei pra formular uma resposta, quando eu ia dizer que não era nada a Elly respondeu:

- amanhã faz um ano... - logo a Bia percebeu então disse - nossa! É mesmo.

- pois é. Amanhã eu achei melhor não
trabalhar, pedi pra Meg ir no meu lugar. - Meg era outra faxineira da noite. Ela iria cobrir meu turno amanhã.

- Eu também não. Amanhã a Ivone não vai abrir o salão porque segundo ela,ela vai passar o dia fora, com certeza vai pra casa do amante. -Bia tinha uma um ideia de que a Ivoni tinha um amante.

Cada um com suas opiniões e conclusões particulares.

   YOU DESTROYED MEOnde histórias criam vida. Descubra agora