14- A História De Caspian

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 - Neste instante só estou pensando se vocês me convidariam para comer alguma coisa. Não fazem ideia do apetite que dá ser condenado à morte- disse o anão alegremente.

– Só temos maçãs – lamentou-se Lúcia.

– É melhor do que nada, mas peixe fresco é ainda melhor – disse o anão. – No fim, parece que vocês é que serão meus convidados. Vi no barco caniços de pesca. Aliás, o barco tem de ser levado para o outro lado da ilha: não convém que as pessoas do continente apareçam por aqui e deem com ele.

– Eu já devia ter pensado nisso! – falou Pedro.

Acompanhadas pelo anão, as cinco crianças entraram no barco. O anão assumiu imediatamente o comando das operações. Como os remos eram grandes demais para ele, Pedro remou, e o anão foi conduzindo o barco para o norte, ao longo do canal, virando depois para leste e contornando o extremo da ilha.

Daí via-se todo o curso do rio, todas as baías e cabos da costa. Pareceu-lhes que alguns lugares não lhes eram estranhos, mas a floresta, que crescera muito, dava a tudo um ar diferente. Quando chegaram ao mar alto, o anão começou a pescar. Apanharam uma grande quantidade de trutas coloridas, um peixe muito bonito, que se lembravam de já terem comido em Cair Paravel.

Depois, levaram o barco para uma angra, onde o amarraram. O anão, que era muito eficiente (existem anões maus, é verdade, mas não conheço nenhum que seja bobo), abriu os peixes, limpou-os e disse:

– Só nos falta a lenha.

– Temos alguma no castelo – falou Edmundo.

O anão pôs-se a assoviar baixinho.

– Com trinta diabos! Quer dizer que existe mesmo um castelo?

– Só as ruínas – informou Lúcia.

O anão olhou para todos os lados com uma expressão esquisita.

– E quem é que... – mas não terminou a frase, dizendo: – Não interessa. Vamos primeiro à comida. Só quero que me digam uma coisa: vocês juram mesmo que ainda estou vivo? Têm certeza de que não morri afogado? Sabem mesmo se não somos todos fantasmas?

Depois de o terem tranquilizado, o problema era saber qual a melhor maneira de levar o peixe. Não tinham cesto nem corda para o prenderem. Acabaram utilizando o chapéu de Edmundo, pois só ele tinha chapéu. Claro que Edmundo teria ficado uma fera se não estivesse caindo de fome. O anão, a princípio, não se sentiu muito bem no castelo. Olhava para todos os cantos, fungava e dizia:

–Hum! Tem um ar esquisito. E cheira a fantasma.

Mas, quando chegou a vez de acender o fogo e de mostrar como se assam trutas frescas, animou-se. Comer peixe tirado da brasa com um canivete, para cinco pessoas, não é mole; por isso, quando a refeição acabou, não é de admirar que houvesse alguns dedos queimados. Mas, como eram nove horas e estavam acordados desde as cinco, ninguém ligou muito para as queimaduras. Depois de arrematarem com um gole de água do poço e uma maçã, o anão tirou do bolso um cachimbo do tamanho do seu braço, encheu-o com cuidado e, soprando uma grande baforada de fumo aromático, disse apenas:

– Muito bem!

– Conte-nos primeiro a sua história – propôs Pedro. – Depois lhe contaremos a nossa.

– Como foram vocês que me salvaram a vida, é justo que lhes faça a vontade. Mas nem sei por onde começar. Antes de tudo, tenho de confessar que sou um mensageiro do rei Caspian.

SᑘᘉSᕼᓰᘉᘿ- ᗩS ᑢᖇôᘉᓰᑢᗩS ᕲᘿ ᘉáᖇᘉᓰᗩOnde histórias criam vida. Descubra agora