𝑨 𝒄𝒆𝒓𝒊𝒎𝒐̂𝒏𝒊𝒂

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A um ano eu estava na minha casa no catalão me preparando para ir ao enterro dos meus pais, imerso em melancolia e sofrimento presenciei aquele último momento ao lado deles . Meus pais eram dois apaixonados , diziam que nem a morte os separariam e lembro-me bem de quando o papai chegou em casa , disse que estava com uma dor de cabeça muito forte e nós o levamos ao hospital desesperados por ajuda . Dias se passaram e ele continuava em coma com mamãe sempre ao seu lado segurando sua mão e cantando uma canção que me lembro pouco mas era algo doce, cheio de saudade e tristeza envolvida.

Alguns dias se passaram e voltamos para casa , eu fazia de tudo para animá-la mas nada parecia ser suficiente , me sentia incapaz de suprir a falta que meu pai fazia em casa. No dia em que meu pai morreu eu estava no meu quarto revisando alguns documentos e mamãe atendeu o telefone, ela não suportou a morte de papai e morreu alguns dias depois de ataque cardíaco . Me senti destruído e despedaçado por dentro, fui para o enterro que aconteceu nos dias seguintes e não pude mais suportar ficar lembrando deles ,sozinho em meio aquele casarão da família. No ano seguinte não pensei duas vezes em me mudar e ir pra outro país começar uma vida nova e deixar toda aquela saudade e dor para trás.
E cá estou eu, morando em Medan num apartamento que estou dividindo com um cara de mais ou menos a minha idade , o Natan .

-Po cara, fui demitido de novo cê não consegue arrumar alguma coisa melhorzinha e que ganhe mais ?

-Denovo Ahmad? Não cansa de ser demitido não? - falou tirando sarro da minha cara-

-Conheço um cara lá do Museu -prosseguiu- Ele deve ter alguma coisa pra você

-Valeu Natan, vou passar lá agora.

Logo que terminamos de conversar peguei uma camiseta na mala que eu não havia desfeito ainda e me vesti.

O museu era bonito , tinha detalhes em verde ,pilastras de mármore e era bem grande. Me direcionei ao cara do balcão que logo me indicou o lugar da entrevista.No final o dono me contratou e pediu que ficasse no turno da noite e alertou que poderia ser perigoso, eu aceitei pois precisava do dinheiro para me manter no apartamento, e no mesmo dia comecei a trabalhar; eram cerca de 19 hrs e comecei a escutar uns barulhos abafados de passos indo em direção ao auditório que ficava dentro do museu oque me deixou preocupado e incrédulo de que no meu primeiro dia alguma coisa ruim já ia acontecer.

Tinha muita gente. Adentrei em meio a multidão indo em direção ao palco para ver melhor oque estava acontecendo de fato. Assim que cheguei perto da escada que dava acesso ao palco pela platéia, notei duas pessoas ajoelhadas de costas, e a multidão observava-os com certo anseio .

Aquilo não poderia ser normal.Um mal pressentimento me atingiu dizendo que eu precisava sair dali o mais rápido possível.

Meus olhos desesperados atrás de uma porta aberta não encontraram nenhuma ,então andei sorrateiramente até as laterais em busca de um lugar para me esconder. Quando cheguei perto o suficiente da cortina que dava acesso a um camarim ,a voz ao microfone chamou meu nome.

-Senhor Ahmad? Porque está se escondendo ? Venha para o palco por favor-

Senti todos os olhares se voltarem a mim, e vi que meus planos de passar despercebido já haviam ido por água abaixo , oque me restava era atender a ordem que a voz havia anunciado.

Minhas mãos tremiam violentamente e tive que enfialas no bolço para não me causarem problemas depois. Assim que cheguei ao palco pude observar um homem e uma mulher ajoelhados, e repentinamente o homem se levantou nervoso vindo em minha direção.

-Tome- colocou um anel adornado de pedras vermelhas nas minhas mãos e pude notar o seu cenho sombrio e triste como se buscasse desesperadamente por ajuda.

Eu segui em direção a mulher e me ajoelhei ao lado de onde a mesma já estava.

-Repita tudo que eu disser- sussurou-

Acenti com a cabeça sentindo que não tinha mais escapatória do que quer que fosse aquilo . Coloquei o anel e o senti se ajustar ao tamanho do meu dedo como se estivesse vivo. A mulher olhou para mim rapidamente, e logo começou a recitar algo em uma língua que eu não conhecia, mas que com certeza vinha do outro lado do mundo. Imitei a pronúncia o melhor que consegui e parecia ser o suficiente para ela .

Logo que terminamos imagens vinham em minha cabeça, guerras tribais, pessoas com o corpo adornado de pinturas , e depois sangue ,muito sangue, e de repente uma dessas lembranças era olhar para minha mão direita e ver esse mesmo anel, porém as mãos sempre mudavam como se não fossem minhas e sim de várias outras pessoas antes de mim.Quando pararam de mudar senti uma dor forte ,pedaços de ferro penetravam meu osso e cortaram meu dedo que logo caiu ao chão junto com o anel.

Quando voltei ao meu estado normal notei que oque para mim pareceu ser vivenciar várias vidas , para a multidão foram só milésimos de segundo até o tempo atual.

Houve uma chuva de palmas e várias pessoas se emocionaram , enquanto a mim , ainda estava tentando absorver tudo que aconteceu. Olhei para a mulher que antes estava ao meu lado de pé e agora adentrava a multidão em direção a porta que haviam desbloqueado , corri o mais rápido que pude e encontrei ela parada do lado de fora.

-Venha comigo - falou com um olhar frio

Eu a segui até os limites da cidade e ela me mostrou uma trilha nas profundezas da selva que já nos cercava. Cerca de meia hora depois chegamos ao que parecia ser um acampamento com casas redondas de madeira, com uma tinta branca desgastada pela chuva indicando que estavam ali a alguns anos. A moça ainda desconhecida me guiou até a maior casa da vila que ficava na copa das árvores e vi vários moradores olhando para mim com certa curiosidade . Repentinamente um homem com cerca de 40 anos , com um ar autoritario e sereno se aprensentou a mim.

-Sou Mikhail- o homem fala-

-Sou Ahmad, prazer.

Ele usava uma espécie de cocar com penas, indicando que era uma autoridade do local

-Você sabe porquê está aqui Ahmad?-falou tranquilamente

E comecei a explicar ao senhor oque havia acontecido e quem tinha me guiado até ali e ele rapidamente respondeu.

-Aquela que te trouxe aqui chama-se Zahrah ,quanto ao anel ,é passado de geração a geração e são escolhidos pelos céus por meio do nosso ancião um homem e uma mulher para serem os jaguares, e não foi por acaso que aquela cerimônia aconteceu ali Ahmad. Você foi escolhido e agora tem um dever , você tem que proteger as pessoas dos mineradores que as sequestram e as usam como mão de obra em busca de ferro. Por agora você deve retornar ao seu apartamento e fingir que nada aconteceu Ahmad. Você me entende ?

Um frio na barriga me atingiu mas sabia que deveria aceitar mesmo que aquilo me custasse a vida.

Um frio na barriga me atingiu mas sabia que deveria aceitar mesmo que aquilo me custasse a vida

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Vou lançar os próximos capítulos em breve.

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