One In A Million

01. Encontros

Era mais uma manhã de sexta-feira levemente fria e parcialmente nublada em Londres. Dias assim faziam Emily querer ainda mais ficar na cama e passar o resto do dia sem fazer nada, mas o chamado do trabalho grita mais alto que o seu despertador.

Se arrastando da cama, ela vai em direção ao banheiro de sua suíte e faz todo o seu ritual de higiene matinal, partindo logo depois para a escolha da sua roupa no seu closet - uma calça jeans de lavagem clara, uma camisa social branca de seda e uma bota de cano curto vermelha -, seguida da parada indispensável pela cozinha para tomar seu sagrado café e lá, sentada no banco da ilha da cozinha, ela esperou pelo toque da campainha.

Que irá soar em 3, 2, 1...

- Já vai! - ela deixou o seu copo de lado e foi correndo abrir a porta. - May, você tem a chave daqui, pra quê você tem que tocar a campainha sempre? 

Emily abriu o caminho para a amiga que, além de estar carregando duas embalagens pequenas, que ela deduziu ser a outra parte do café da manhã delas, estava segurando a sua bolsa e seu celular em suas mãos.

Maya escolheu um visual parecido com o de Emily: camisa social de seda, porém da cor azul pastel, uma saia preta midi plissada e uma sandália de salto baixo nos pés

- Por que é mais fácil. - ela deu de ombros. - E também, eu meio que... perdi a sua chave...

- De novo? - retrucou.

- É, de novo. Mas! Dessa vez eu perdi no meu apartamento, então vai ser mais fácil de encontrar.

- Uhum. Sei. - ela semicerrou os olhos. - Mas enfim, o que você trouxe aí? - perguntou abrindo um dos armários superiores para pegar os pratos e uma caneca e servir o café para Phoebe.

- Croissant da padaria francesa daqui de baixo, dois salgados e um doce como sempre pedimos. 

- Era tudo o que eu precisava. - ela se sentou ao lado da amiga e assim elas aproveitaram o único momento de sossego juntas.

Maya é a primeira geração britânica da família. Filha de indianos que migraram para a Inglaterra, ela sempre foi muito ligada a suas raízes, principalmente na parte culinária, onde desde cedo aprendeu as receitas típicas e as de sua família. Seus pais tinham boas condições financeiras, motivo qual ela sempre estudou nas melhores escolas que eles poderiam pagar e lhe garantindo um futuro seguro em qualquer área que ela gostasse de seguir.

Emily nasceu no Brasil. Filha de brasileiros e neta de italianos, ela foi criada em uma família unida e querida, mesmo lidando com problemas financeiros e tragédias. Seu pai morreu quando ela era muito pequena, fazendo com que fosse criada pela família de sua mãe, já que a mesma trabalhava duro para sustentar a casa. Apesar disso, nada impediu Emily de tentar viver o seu sonho de estudar gastronomia na Europa e conseguiu uma ótima bolsa de estudos em uma escola de gastronomia britânica.

E foi lá que Emily e Maya se conheceram. Um lugar onde a competição entre os alunos acontecia desde o momento em que se matriculavam, mas com elas a história foi diferente graças a simpatia da brasileira e o crisma da britânica. Durante todo o período do curso, as duas foram idealizando o negócio dos seus sonhos: uma confeitaria que misturasse a essência brasileira e britânico-indiana. E em alguns anos nasceu a Red Cake Bakery, no Soho.

Ao terminar o desjejum, elas arrumaram a cozinha, pegaram suas coisas e foram abrir a confeitaria. Quando chegaram, os outros funcionários já as estavam esperando na frente da porta e assim que o estabelecimento foi aberto, o trabalho começou.

As horas foram passando tão rápido que elas mal notaram que o horário do almoço já estava chegando, apenas perceberam que era o momento quando foram lembradas por George, o menino do caixa, e mudaram a placa da porta do "Aberto" para "Fechado: Voltamos em breve". Todos saíram da confeitaria, Maya fechou a porta e elas seguiram para o restaurante favorito delas algumas quadras á frente, o "Fresh Spice". Ao chegar lá, o recepcionista as direcionou até a mesa que sempre está reservada para a dupla.