Deixa de onda.

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Lê o balãozinho aqui primeiro, ô caralho



Entenda, Jiang Wanyin não era um exemplo de classe.

Ele tinha noções básicas sobre educação, o que era outra coisa completamente diferente. Ele cumprimentava as pessoas quando passava por elas, segurava o elevador para a senhora Mo quando a via chegando no prédio com sua sacolinha de feira — mesmo que ela não merecesse, aquela velha maldita — e mordia a língua para não mandar a real do quanto seu chefe era cuzão. Essa parte talvez fosse mais uma questão de consideração pelo seu emprego, porque o responsável do seu setor era um puta babaca, mesmo. Tão cuzão que chegava a doer.

Isso tudo era educação, não era? Sua mãe era outra soberba do caralho, no que dependesse dela nem educação Jiang Wanyin teria, mas graças aos céus Jiang Fengmian tinha se certificado de transformar o filho numa pessoa decente enquanto ele crescia. Hoje, ele olhava para Jiang Wanyin com as sobrancelhas meio franzidas, um suspiro pesado no peito e os braços cruzados, meio orgulhoso e meio preocupado, pensando se tinha mesmo feito o melhor que conseguiu.

Mas Jiang Wanyin não era uma pessoa ruim, não era pra tanto. Certo, não inteiramente, pelo menos. Ele tinha lá seus defeitos, mas não era nenhum filho da puta. Talvez as pessoas fizessem vista grossa aos seus hábitos questionáveis porque ele era muito querido, mesmo sendo difícil de engolir às vezes. Seu irmão mais velho, Wei Wuxian, dizia que poderia, sem esforço, montar uma roda de pessoas que amavam Jiang Wanyin sinceramente só para falar mal dele. Sabe, extravasar um pouco aquela vontade louca de atear fogo nele que todo mundo acabava sentindo uma hora ou outra. Mas atear fogo era uma coisa, matar na porrada era outra.

Ninguém queria matar Jiang Wanyin de verdade. A maioria só queria segurá-lo pelos ombros e gritar bem alto na cara dele por umas horas, mas depois lhe dar um abraço apertado e dizer que estava tudo bem. Essas mesmas pessoas, que o amavam apesar de tudo, sabiam o quanto as coisas não haviam sido fáceis para ele, e que suas qualidades detestáveis eram bem fundamentadas. Nem sempre justificáveis, mas compreensíveis. Então eles davam aquele grito, aquele abraço, respiravam fundo e seguiam em frente.

Mesmo com todo o sacrifício que estar perto dele poderia significar, ninguém tinha coragem de tirar Jiang Wanyin de sua vida. Não chamá-lo para um determinado rolê ou ficar uns dias fingindo que ele não existia sim, certo, mas abandoná-lo jamais. Por baixo da casca orgulhosa e pirracenta dele, existia um mar de vulnerabilidade que pouquíssima gente conseguia acessar. Só seus pais e seus irmãos, e olhe lá. Se as coisas houvessem sido um pouco diferentes para o pequeno Jiang Wanyin, talvez ele fosse um adulto tão doce quanto seus irmãos hoje.

E olha que mesmo assim existia muita doçura em Jiang Wanyin. Bastava vê-lo em seus momentos de solidão ou segurando o sobrinho no colo para perceber que ele até era um insuportável, mas também podia ser gentil e muito amável. Ele ficava lindo quando sorria ou quando chorava, em qualquer momento em que se abrisse. Aquela vagabundinha peçonhenta do dia-a-dia se transformava no mais fino lótus, era uma delícia de ver. Só nunca durava muito.

E Jiang Wanyin não era muito paciente. Ele se irritava com muito pouco e se tornar o alvo da vingança dele era uma forma muito prática de conseguir uma morte lenta e dolorosa. Por estresse. Ele fazia o tipo de cara que nunca iria olhar nos seus olhos e dizer qual era o problema, muito pelo contrário. Jiang Wanyin era foda. Ele era dramático demais para ir direto ao ponto e fazia mais o sonso quando estava com raiva. Ele iria tirar seu juízo bem aos poucos e com um sorriso no rosto, provando com ações muito sutis, porém objetivas, o quanto ele te despreza.

Isso nos levava a uma outra coisa muito curiosa sobre Jiang Wanyin. Não entenda errado, ele era barraqueiro pra cacete, mas era impossível vê-lo perder a compostura. Na verdade, armar confusão sem perder o controle era o mais próximo de ter classe que ele jamais chegaria naquela vida e era quase um talento seu. Aquela resting bitch face já estava tão impregnada na sua cara que parecia fazer parte dele, ele simplesmente não externava seu estresse nem na mais acalorada das discussões. Você poderia estar num daqueles dias de gritar na cara dele e ele continuaria te olhando, minando seu bom senso com as mãos naquela cintura finíssima e o pezinho batendo no chão...

Porra nenhuma - XichengOnde histórias criam vida. Descubra agora