Se alguém perguntasse a Melissa se ela algum dia imaginou sua vida tal como estava hoje, ela lhe daria como resposta um enfático e sonoro 'NÃO!'.
Era até difícil explicar os acontecimentos que moldaram a complexa dinâmica que envolvia sua vida, tanto na parte que se referia a sua infância quanto a parte em que enfim se tornou dona do seu próprio nariz, ou algo mais ou menos próximo a isso. Mas sem dúvida ela tinha muito orgulho da mulher que tinha se tornado e de tudo que havia conquistado até então, apesar do que havia vivido e de tudo tinha sido privada.
Melissa passou toda sua infância em um orfanato sem realmente conhecer o real significado da palavra família. Quer dizer, o significado da palavra em si ela conhecia, aquela definição presente em todo dicionário da língua portuguesa ou qualquer outro idioma. O que não conhecia era o que uma família, quando boa, significava no dia a dia ou na vida de alguém. O afeto, o cuidado, a proteção, o amor.... tudo isso e mais um pouco era um completo desconhecido para a menina.
Já a solidão, Melissa conhecia bem.
Melissa costumava comparar os orfanatos ou casas em que havia passado aos parques de diversão, e não era no bom sentido. Todo parque tem um ou dois brinquedos que eram os favoritos e por isso suas filas eram enormes e duravam horas; você passa o dia na fila só para perceber que no final do dia passou mais tempo em filas do que se divertindo nos brinquedos em si.
Sua infância também foi assim, as pessoas que realmente se importavam eram como os bons brinquedos dos parques de diversão, mas no final sua atenção tinha que ser divida por tantas crianças que dava a impressão que nenhuma criança tinha recebido de fato alguma atenção real.
Melissa passava horas em filas e poucos minutos nos brinquedos, mas não culpava ninguém. Ela recebia com gratidão qualquer tipo de afeto porque sabia que era o máximo que qualquer funcionário cansado, explorado, mal remunerado e pouco motivado conseguiria oferecer.
Mas, Melissa sabia que não era o suficiente.
Então, assim que atingiu a idade necessária partiu de lá sem olhar para trás. Melissa trabalhou e estudou, se esforçou muito mais do que qualquer outra garota em sua idade teria feito. Fez isso porque precisava provar ao mundo que seria muito mais do que esperavam que ela fosse, mas também porque precisava a provar a si mesma que era capaz.
oOo
Assim que terminou sua faculdade de jornalismo, com honras e ótimas indicações, Melissa se viu empregada na gingante empresa de comunicação Publicações Garcia. Catarina Garcia, a chefe e dona da empresa, era tão carrasca quanto todos diziam, mas também era competente e uma ótima mentora. Uma mulher forte, competente, e consideradas umas das principais editoras da atualidade, era tudo que Melissa precisava em para ajudá-la a construir uma base sólida em sua carreira. Além disso, a mulher era quente como inferno.
Melissa tinha uma queda por mulheres dominantes e autoritárias, mas nada se compara a duas mulheres dominantes e autoritárias. Quando Helena Félix chegou a Publicações Garcia, em uma tarde qualquer, para buscar sua esposa, Catarina Garcia, as duas mulheres juntas formaram a personificação de todos os seus desejos e fantasias. Desejos e fantasias que Melissa nunca tinha tido até então, mas ignorar a presença de Catarina e Helena era simplesmente impossível.
Helena foi visitar Catarina diversas vezes após aquele dia. Parecia errado, mas Melissa não conseguia desviar o olhar quando ela chegava. As roupas que pareciam que eram feitas sob medida, agarrando todas as curvas com perfeição. Os cabelos longos e lisos, escuros como a noite. A boca sempre marcada com o batom de cor forte. E o perfume amadeirado que se espalhava em todos as direções assim que a mulher saia do elevador.
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Sim, Senhoras!
ChickLitMelissa, uma menina recém formada em jornalismo se vê envolvida em um relacionamento com duas mulheres dominadoras, uma delas é sua chefe e dona da revista onde trabalha, Catarina Garcia, e a outra a empresaria Helena Félix.