Eu experimentei algo novo. Passei um pouco de rímel preto só para testar como ficava. Acabei gostando do resultado e fui a escola assim.
Luísa, minha amiga, obviamente não deixou passar despercebido. Ela me analisava de perto com os olhos semicerrados.
— Hummm... Tem algo de diferente em você. Mas o que deve ser?
Tentei dar dica, piscando os olhos para ela.
— Ah! Cílios. Você está de rímel!
Assenti.
Fazendo uma cena um tanto que exagerada (típico dela, mas nunca me acostumei), ela pôs uma mão sobre a boca, muito chocada. Mas deveras. Ao contrário dela, eu não era de usar maquiagem alguma. Nada mesmo. Apenas sabonete para controlar a oleosidade da pele e protetor solar.
Não saia de casa sem protetor solar.
— Você fica linda assim, sabia? Devia usar com mais frequência, Grazy.
— E correr o risco de ficar parecendo um palhaço igual você? Não, obrigada. — Eu ri.
— A maquiagem serve para realçar nossa beleza, tá bom? — defendeu-se ela, ofendida. — E eu não exagero, apenas dou uma retocada.
Dito isso, ela tirou da bolsinha prata o espelho que sempre carregava consigo para retocar a maquiagem por uns instantes.
Instantes suficientes que eu aproveitei para olhar em direção ao final da rua. De onde estávamos paradas, no portão de fora da escola esperando dar o sinal, dava para ver ele chegando. Caio Santiago. Eu meio que tinha uma quedinha por esse garoto desde o momento que pus meus olhos nele. Estava incerta sobre o que me atraiu primeiro; se foi seu estilo despojado, se foi o modo gentil e hospitaleiro como ele tratava qualquer um, ou se foi o sorriso carismático dele. Ou se foi tudo ao mesmo tempo.
Esses dias ele inovou riscos nas duas sobrancelhas, o novo detalhe combinou super bem com ele, sincronizado perfeitamente com o corte de cabelo degradê.
— Prestou atenção?
Girei a cabeça tão rápido para frente, tanto para ouvir o que Luísa dizia quanto para disfarçar porque Caio perto do portão, que não sei como não desloquei um osso.
— Como? — Eu disse, disfarçando depois de ter secado o garoto dos meus sonhos enquanto ele passava pela gente com os amigos.
— A festa amanhã no Lucas. Você vai, não é?
Ata. A festa na casa do namorado de Luísa, Lucas Ferreira. Fiquei de arrumar uma desculpa quando ela me convidou, dias atrás.
— Hã, sim — respondi, ainda mexida. Por que ele tinha que ser tão lindo!?
— Ótimo. Por um segundo achei que fosse negar. — Disse Luísa aliviada.
— Quero dizer, não. — Corrigi, encarando-a. — Não vou poder ir, lamento.
Luísa fez cara feia, enrugando a testa e fazendo as sobrancelhas feitas quase tocarem uma na outra.
— Chega disso, Grazyelly. Você vive trancada em casa, parece até que está em prisão domiciliar. Estou começando a achar que só vem pra escola por causa da presença, porque se não fosse por isso, estaria lá, feito uma prisioneira. Tem que viver, gata. Ser uma adolescente. Você já tem 16 anos! — Cruzou os braços em revolta.
Queria ter lhe corrigido, dizendo que quando se está em prisão domiciliar não pode sair nem de casa. E defender meu ponto de vista.
Mas... do que adiantaria?
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Quando a Chuva Passar
Teen FictionGrazyelly vem lidando com o fardo de cuidar da mãe alcoólatra desde o dia que o pai as abandonou. O preço alto que ela paga revela-se em forma de solidão e uma profunda tristeza que parece não deixá-la, sugando-a, consumindo-a por dentro. Todo dia...