Está tudo bem.É o suficiente.
Eu já entendi...
Eu já entendi que você consegue sorrir quando não estou por perto, Kachan.
Sim, eu compreendi que você jamais me escolheria como seu porto seguro, para ser sincero sempre soube disso, você jamais me escolheria para nada, não importava o quanto eu te amasse ou te apoiasse por trás das cortinas, meu apoio e amor era o que você menos queria, certo?
Sabe... Enquanto pensava sobre tudo, me peguei pensando que talvez o fato de você guardar meu segredo talvez seja porque pense que precisa me compensar pelas coisas que fez no passado, talvez por isso ainda estou ao seu lado atualmente, mas não precisa, eu perdoava você ao final de cada dia, não me envergonho ou me arrependo, nem sequer me acho idiota por isso, posso parecer um masoquista falando essas coisas, mas é quando olhava para a última foto que tiramos juntos, ainda crianças, uma das poucas e última lembrança que tenho de você sorrindo comigo, eu só conseguia pensar no quanto te amava e admirava, no quanto sentia falta de sorrir ao seu lado, do quanto sentia falta do calor do seu sorriso. Eu olhava aquela foto todo dia e ignorava os machucados, eles jamais fizeram diferença pra mim.
Aquela foi a última vez que fomos realmente amigos? Me pergunto a cada dia que passa.
Me lembro do quanto chorei.
Do quanto implorei.
Não me deixe, Kachan... Está tudo bem, não importa o que ache de mim, apenas me deixe ficar ao seu lado.
Claro que você nunca escutou essas palavras diretamente da minha boca, afinal, você jamais iria querer escutar isso de mim. E eu entendia, entendia que o nós não existia, não mais, talvez tenha existido quando éramos pequenos e brincávamos por ai, ou talvez só tenha existido dentro da minha cabeça.
Mas agora você tem seus motivos para sorrir, tem neles o amigo, o porto seguro, o carinho, tudo que nunca aceitou de mim.
Para ser sincero, dói muito, é verdade, eu sinto falta de ser aquele com quem você explorava a floresta, aqueles dias ainda estão vividos em minha mente, em meus sonhos. Mas eu me conformei, é somente ali que esses momentos vão existir, no passado.
Por outro lado estou feliz, Kachan... É bom ver que você ainda pode sorrir com alguém, que bom, eu não tirei seu sorriso de você.
Obrigado por tudo.
Adeus, Kachan.
O esverdeado encarou o papel em suas mãos e o amassou, jogando no lixo junto com seus sentimentos.
•••••••
Deku observava, de longe, Kirishima, Mina, Kaminari e Sero sorrindo ao discutir sobre algo o qual Katsuki parecia se interessar, jurou até mesmo ver um pequeno sorriso em seus lábios e foi inevitável não sentir seu coração apertar. Estava triste e feliz ao mesmo tempo, afinal, a quantos anos tentava ser visto como amigo por ele? Ou a quantos anos esperava que o loiro tivesse bons amigos como aqueles?
Não sabia como se sentir mais.
Entretanto, não poderia vacilar mais. Respirou fundo, decidido. Já havia desistido, já havia colocado para fora seus sentimentos mais profundos na carta que ele jamais leria, agora daria um ponto final com palavras.
— Kachan... — chamou, sendo recebido pelo já conhecido olhar raivoso. Não se importou. Indicou com a cabeça para o mais alto vir consigo, esperando que o mesmo o fizesse e, bem, por mais surpreendente que fosse, ele o fez sem reclamar demais, bem, obviamente fez as reclamações normais de sempre, talvez ele achasse que fosse algo sobre sua quirk, afinal. Mas a realidade era que a expressão de Midoriya havia pego Bakugou de surpresa.
— O que foi, nerd de merda? Fala logo. — questionou, já impaciente, quando pararam próximo a uma árvore grande, estavam atrás do prédio das classes.
— Eu sempre te admirei, sempre. Eu na realidade só queria dizer isso, mais do que tudo também queria dizer que o passado já foi, ele não dói mais. Pode me explodir se quiser, por gastar seu tempo, mas eu precisava dizer para ignorar qualquer que seja o arrependimento do passado, não precisa mais me ajudar tanto, Kachan. — sorriu pequeno, coçando a nuca, sem olhar diretamente para o loiro. — Sabe, você vai ser o melhor herói, confio nisso... — falou, confiante de cada palavra, mas se segurando para não chorar como o bom bebê chorão que era. Katsuki por sua vez estava sem reação, estava confuso com o Deku que via a sua frente, que diabos ele estava falando? — Mas cuidado pois eu estou sempre um passo atrás de você e posso roubar o título de herói número 1 primeiro. — brincou, mesmo não estando no clima para tal, o sorriso que deu era verdadeiro, jurava que sim, embora tivesse uma ponta de um sentimento que Bakugou jamais havia notado realmente no rosto alheio e também não conseguia distinguir. Sua mão foi até a do loiro e a segurou, fechando seus dedos em punho para poder juntar a sua mão, esta também fechada, fazendo com que dessem um "soquinho" amigável, sempre quis fazer esse tipo de coisa com ele, mas sabia que Bakugou jamais faria isso por si mesmo, não importava o quanto implorasse, então obviamente era o melhor que conseguiu naquele momento. Ainda com os punhos juntos, o olhar do menor se focou em ambos, mordendo o inferior com a vontade de chorar, mas sorrindo largamente por vê-los assim.
Você realmente nunca vai estender a mão para mim por si mesmo.
— Midoriya! — a voz de Todoroki pode ser escutada a poucos metros de distância, tirando Midoriya daquele transe, ele sorriu um tanto triste pelo fim daquele momento no qual Katsuki não o havia explodido ainda por tocar em si, mas aliviado também, o bicolor sempre estava lá para lhe salvar, afinal.
— Desculpe, Bakugou-kun, estou indo primeiro. — e quando a voz do esverdeado soou, quebrando o silêncio e falando como se fosse tão acostumado a dizer aquele nome, ai sim Bakugou esqueceu qualquer que fosse as palavras ou palavrões que estava para soltar naquele momento, ele apenas sentiu como se estivessem tirando algo de si, mas não sabia o que era, não entendia aquele sentimento. E a partir do momento em que se encontrou sozinho, vendo Deku sair dali junto de Todoroki, o loiro percebeu que talvez aquele tenha sido o fim de um nós que ele jamais permitiu existir e que era sustentado por apenas um lado da moeda, e ela acabava de desistir.
Sua ficha não caiu durante as aulas ou durante os treinos, ela nem mesmo caiu quando deitou a cabeça em seu travesseiro as 20:30 de sempre. Ela caiu quando notou que a situação o incomodou demais a ponto de não poder dormir, foi quando a primeira lágrima caiu.
Maldito Deku, o que era aquilo tudo afinal? Estava desistindo de si?
Embora se perguntasse, ele sabia bem a resposta, era um sim.
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Porto (In)Seguro | BAKUDEKU
FanfictionEu teria adorado ser seu porto seguro como eles são, Kachan...