O RIO - ou: relação da viagem que faz o Capibaribe de sua nascente à cidade do Recife (1953)
"Quiero que compongamos io e tú una prosa."
BERCEO
Da lagoa da Estaca a Apolinário
Sempre pensara em ir caminho do mar.
Para os bichos e rios nascer já é caminhar. Eu não sei o que os rios têm de homem do mar;
sei que se sente o mesmo e exigente chamar.
Eu já nasci descendo
a serra que se diz do Jacarará, entre caraibeiras
de que só sei por ouvir contar (pois, também como gente, não consigo me lembrar dessas primeiras léguas
de meu caminhar).
Desde tudo que lembro,
lembro-me bem de que baixava entre terras de sede
que das margens me vigiavam.
Rio menino, eu temia
aquela grande sede de palha, grande sede sem fundo
que águas meninas cobiçava. Por isso é que ao descer caminho de pedras eu buscava, que não leito de areia
com suas bocas multiplicadas.
Leito de pedra abaixo rio menino eu saltava.
Saltei até encontrar
as terras fêmeas da Mata.
Notícia do Alto Sertão
Por trás do que lembro,
ouvi de uma terra desertada, vaziada, não vazia,
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Morte e Vida Severina
PoetryMorte e Vida Severina é um livro de poema regionalista e modernista do escritor brasileiro João Cabral de Melo Neto, escrito entre 1954 e 1955 e publicado em 1955.