Carta 2

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Querida Allison, 

Já que é uma carta, essa é a única forma que conheço pra começar a falar contigo... Ou estou falando comigo? E de que isso importa nesse momento?

Eu me lembro de quando te conheci. Primeiro dia numa escola nova. A primeira vez que te vi. Me lembro de estar sentada na quarta cadeira na parede. Bem perto da porta. A aula começou e, 5 minutos depois, houve batidas na porta.

Aí você entrou. Com seus cabelos ruivos, olhos castanhos, cor de mel, tímidos, um sorriso branco tão lindo e pele branca, como a neve... Naquele momento, meu coração parecia que ia sair pela boca. Meus olhos te procuravam do outro lado da sala.

Quando eu ia pra escola, eu não tinha a mínima vontade de viver. Mas eu te olhava, e era como tomar um gole de vida... Depois de ver você, eu desejava ir pra aula todos os dias, só pra sentir a vida novamente.

Mas eu era covarde demais pra falar com você... Quem dera eu tivesse continuado covarde... Não teria chegado a tal ponto. A ponto de eu precisar escrever isso pra me ajudar a sobreviver. Mas a cada dia eu morro um pouco. Morro um pouco a cada carta que escrevo.

Não vou culpar você por não me amar como te amei. Não vou te culpar por não ter me dito que podia haver outra pessoa além de mim. É culpa minha por me jogar de cabeça num amor tão raso. É minha culpa, não sua. Eu vou ficar bem.

E venho me dizendo isso há vários meses: 'Eu vou ficar bem'... Está demorando, mas eu sei que vou ficar bem. Sempre fica, não é?Hoje faz 128 dias que você me enviou uma mensagem. Você disse que estava confusa e não sabia se amava a mim ou a ele. Mas podia ter dito antes...

Antes de eu acreditar quando você dizia que me amava. Você disse que não podia mais fazer isso.. Essa foi a quarta vez que terminou comigo. Mas dessa vez, eu sabia que era diferente das 3 primeiras... Eu sentia dentro do meu peito, dentro desse coração que você destruiu...

Eu sentia que não teria volta. Eu sabia que você não ia voltar me dizendo que me ama e sente minha falta. Mas a verdade, é que você nunca me amou. Você amava a minha presença, minha dedicação. Você amava como eu sempre estava ali pra você...

Independente de dia, horário, local, você sabia que eu faria qualquer coisa pra estar com você ou cuidar de você onde eu estivesse. Você amava a forma que eu movia mundos e fundos pra te acudir... Mas você não amava a mim, a minha pessoa. Mas não posso mais fazer isso. 

Pra me deixar ainda pior, você nem teve a coragem de falar comigo frente a frente. Terminou comigo por mensagem, depois me bloqueou e simplesmente foi embora. Não me explicou nada, não quis conversar e me deixou aqui, pensando que foi por minha causa.

2 dias depois, nossos amigos me disseram que você estava saindo com aquele cara... Nem me lembro o nome dele, mas lembro que dizia ser o seu melhor amigo. Não sei o que pensar, mas tudo bem. Pensar não é uma boa opção agora.

Se passaram 128 dias e 128 noites. Chorei em cada uma dessas noites. Ás vezes durante o dia também... Vários desses dias eu passei sem comer, pois não sentia fome... Voltei a tomar os antidepressivos depois de ter tentado suicídio de novo.

Ela achou que voltar a tomar isso me ajudaria... Tenho me sentido neutra. Nem feliz e nem triste. Eu vou pro trabalho e finjo que tudo está bem, mas dentro de mim, tudo está destruído, nem falo só do meu coração, mas da minha mente.

Estou tentando voltar pra minha rotina normal, tentando voltar a ver o mundo como via antes, mas é difícil. Antes tudo era cinza, com você, ganhou cor. Mas agr, é como se estivesse embaçado. Não vejo mais nada.

A psiquiatra disse que poderia ajudar se eu começar a escrever cartas pra você, mas eu duvido. Bom, não sei. A vida é uma incógnita, não é mesmo? De qualquer forma, ninguém vai ler mesmo. Meu TDAH está pior do que nunca foi. A depressão me pegou e tem me acompanhado.

A ansiedade ainda vai me matar, disso eu sei. Mas ainda sim, Tenho esperanças de que as coisas melhorem. Você partiu e eu fiquei aqui, sozinha. Não é culpa sua eu estar assim, mas você podia ao menos ter me dado a chance de um diálogo pra eu entender o que houve.

Mas nem isso eu tive a chance. Você simplesmente saiu e me deixou aqui, pensando que a culpa era minha, que eu havia feito algo errado ou que eu não era suficiente. Por que eu não fui suficiente pra você? Ou melhor, pra nós?

Mas está tudo bem,  ás vezes, a gente não é suficiente. Eu te amei mais do que a mim, e esse foi meu erro. Eu nunca devia colocar ninguém acima de mim, porque eu deveria me amar antes de amar alguém. Mas está tudo bem (não que você queira saber), porque estou aprendendo a me amar a cada dia.

Eu mesma estou me curando e eu mesma estou me dando colo. Dizem que o tempo cura as feridas, mas eu discordo. Eu mesma me costurei e fiz todos os curativos... Dia após dia. Ás vezes eu penso em te ligar pra contar como andam as coisas aqui, mas não vou. Você não merece saber.

Até queria te mandar essa carta, mas seria como dar a você, o poder de me destruir de novo, e não posso fazer isso comigo... Especialmente agora que estou me reconstruindo. Cada dia eu coloco um tijolo no lugar do buraco que você deixou no meu peito.

Dia após dia eu me reconstruo, até ficar inteira novamente. Você me fez um bem enorme, mas me destruiu na mesma intensidade. E está tudo bem. Amanhã eu volto um pouco mais inteira... Quem sabe até consiga não chorar.

- Malia.

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⏰ Última atualização: Feb 21, 2021 ⏰

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