Caleb's point of view
Estou em minha cama olhando para o teto, pensando em tudo já passou em minha vida.
Com 12 anos, meus pais se separaram e entraram em um acordo para dividir eu e minha irmã, eu fiquei com meu pai e minha irmã com minha mãe. Elas se mudaram para a Alemanha e eu fiquei aqui com esse homem.
Com 14 anos, meu pai começou a beber e a se drogar, sem se importa comigo. E se ainda tentava ajudar, ou apanhava ou ele me atingia com alguma coisa. Fui obrigada a estudar em casa e a cuidar de tudo.
Com 16 anos, me vi confusa em saber o que sinto, comecei a gostar de garotas e me vi como bissexual. Meu pai continuava o mesmo e decidi ser melhor pra mim não contar nada a ele.
Com 18 anos, consegui passar de ano e iria finalmente para uma faculdade. Consegui bolsa de estudos e iria para uma faculdade distante. Me descobri ser um rapaz transexual e que gostava sim apenas de garotas, me assumi para meu pai e fui expulso.
Com 22 anos, fiz minha cirurgia para retirar meus seios e mudei meu nome no cartório, querendo apenas deixar o sobrenome da minha mãe. Terminei meu curso e com ajuda de amigos consegui um emprego no hospital Wander's.
E agora, com 25 anos, trabalho e sou muito bem sucedido. Tenho poucos amigos e sei que são verdadeiros, me fechei para o mundo exterior e criei barreiras sobre meu coração.
Sem perceber, sinto lágrimas caírem. As limpo e me sento sobre a cama. Suspiro e pego meu celular, vejo que são 3 da manhã, daqui a pouco terei que ir trabalhar, me levanto e vou ao banheiro. Jogo água sobre meu rosto e olho no espelho, então vejo a imagem de um cara cansado e exausto, meu cabelo caia sobre meu rosto, havia olheiras imensas abaixo de meus olhos. Nego olhando para mim, era sempre assim quando minhas crises vinham, não conseguia dormir e ficava lembrando do que aconteceu no passado.
Tiro a minha blusa e continuo me olhando no espelho. Levo minha mão até a cicatriz em meu peito, passo meus dedos suavemente e lágrimas teimosas caem, mas, dessa vez, eu as deixo caírem. Depois de um tempo, tiro o restante de minhas roupas e entro debaixo do chuveiro e deixo a água despertar e acalmar meu corpo. Quando acabo, pego minha toalha e enrolo em minha cintura e vou ao meu closet, pego uma cueca e uma calça social preta, coloco uma blusa vermelha e pego meu jaleco branco. Saio do quarto e sigo até a área debaixo, já estava pegando minhas chaves, quando sinto um puxão na calça, olho pra baixo e vejo Kyle, meu cachorro, me abaixo ficando da sua altura e afago o pelo do animal. Esse cachorro tem tanta história assim como eu, foi encontrado perto de uma ponte todo ferido e sangrando, não sei quem teve coragem de fazer isso com apenas um filhotinho. Eu o adotei ano passado por me sentir muito sozinho em casa, não me arrependo nenhum pouco de ter escolhido ele. Eu e Leonardo, meu irmão de outra mãe, cuidamos dele e quando eu trabalho, Leo vai até minha casa para dar comida e passear com ele.
- Oi, meu neném - me aproximo do saco de ração e coloco em seu potinho, pego a outra vasilha e vou a cozinha, encho de água e deixo do lado da outra - Papai vai ter que ir trabalhar agora, daqui a pouco o tio Leo vem aqui cuidar de você, tá? - beijo seu pelo e ganho uma lambida no rosto.
Saio e tranco a porta, vou até meu carro. O ligo e vou em direção ao Starbucks, comprar algo para comer e assim iria para o trabalho, ao chegar no hospital, visto meu jaleco e saio do carro com minha maleta na mão. Entro no hospital e vou até minha sala, sem nem eu me sentar, já sou chamado para uma emergência, deixo minha maleta lá e vou correndo para fazer o que faço de melhor.
- O que aconteceu? - pergunto a Jenny, minha amiga e enfermeira, além de ser filha da dona do hospital, minha tia Fernanda.
- Uma senhora e seu neto, viram essa moça desmaiada em um beco, a garota aparenta ter entre 18 a 25 anos - olho para a maca e analiso a situação - Ela parece estar desnutrida e bem fraca... - olho para minha amiga.
- O que mais?
- Ela está grávida, Caleb - olho surpreso, mas mantenho minha pose.
- Faremos alguns exames, não tire o soro dela e quando acabar essa bolsa, ponha outra - falo e coloco minhas luvas - Devemos também nos certificar que ela e o bebê estejam bem.
- Ok - fala, logo saindo, mas para e se vira - Quando acabar nosso turno, quero saber o por que desse rosto.
Suspiro e me viro para a garota na maca, ela estava pálida e um pouco magra, minha preocupação agora é que tenhamos sorte de que a criança ainda esteja viva. Jenny me trouxe os matérias para os exames de sangue e depois iriamos a levar para fazer uma ultrassom e raio-x.
Um tempo depois
Já fazia horas que a garota havia chegado, mas nada dela acordar. Pela ultrassom, descobrimos que o pequenino está vivo e parece que ela está grávida de três meses, já estava na terceira bolsa de soro e eu estava olhando para a janela, o hospital estava menos movimentado hoje e eu só tinha ela e mais dois pacientes para cuidar, mas os outros dois estavam em estado estável e Victória estava cuidando deles. Olho meu celular em meu bolso e vejo que faltava pouco para meu turno acabar, suspiro cansado e vou até a porta, mas uma voz me faz parar onde estava e virar imediatamente para trás.
- Onde eu estou?...
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Little Hope
General FictionPais separados... Ter ficado com o que mais te odeia... Sofrer abusos psicológicos... Ser expulso de casa... E depois de tanto sofrer, se trancar em seu próprio mundinho. Mas com a chegada de duas pessoas em sua vida, tudo isso pode mudar...