QUARTA PARTE

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Meu corpo reage de uma maneira totalmente inesperada, da que eu acreditei que reagiria

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Meu corpo reage de uma maneira totalmente inesperada, da que eu acreditei que reagiria. Minha reação é completamente inusitada. Talvez, o choque e a surpresa de encará-lo ali, depois de tanto tempo, tenha me feito perder toda a compostura.

Principalmente ao me sentir insegura. Era surpreendente, que mesmo depois de anos, sua figura conseguia me desestabilizar em níveis nada bons. Despertar em mim, algo que eu acreditei que jamais teria em minha vida, principalmente em relação a sua pessoa.

Entretanto, eu acreditei na própria mentira que minha cabeça cheia de confusão acreditou. Os anos se passaram, mas, o trauma não superado ainda estava ali. Ainda estava intrínseco em mim, em Jungkook. Todas as nossas memórias ruins, sempre se dariam aos dolorosos momentos que passamos com Yoongi em nossas vidas.

Apesar do sorriso doce, amigável. Somente os mais íntimos sabiam a cobra que ele era e sempre seria. Seu sorriso, apesar de diferente, jamais iria mudar o teor. Tolo é quem cai em sua pequena armadilha.

Sinto como se fosse hoje, todas as dores que suas palavras me causaram. Lembro como se fosse hoje, os danos que suas ações causaram em mim e em Jungkook.

Sinto como se fosse hoje, todo o peso de sua pressão psicológica e de como ele se aproveitou até o último minuto de todas as minhas inseguranças. E utilizou a seu favor tudo que podia para me afastar dele.

Yoongi, apesar do sorriso de bom moço, é ardiloso, meticuloso, calculista e adora um jogo de gato e rato.

Depois de alguns segundos, ainda sinto a minha respiração acelerada e o meu corpo parado, estático. Eu não consigo me mover, eu não sou capaz de me mover. Sinto-me acuada, como um gatinho indefeso. Mesmo sabendo que sou uma alfa e que posso muito bem me livrar dele com uma facilidade imensa.

Os meus olhos apenas analisam a figura do homem à minha frente, e todas as lembranças que tenho de si, se passam por minha mente como bombas. Bombas essas, que destroem cada pedacinho de mim. Cada pequena defesa que construi por anos. Para me lembrar de uma única e dolorosa verdade: os traumas estavam ali, eu que fui inocente demais em acreditar que poderia superá-los.

Sinto uma vontade absurda de vomitar e minha respiração se torna ainda mais acelerada. Quase como um colapso. Sinto que estou aos poucos chegando a beira de um colapso.

Yoongi continua a me encarar com seus olhos felinos e falsamente amigáveis. Meu único desejo é avançar em seu pescoço e mordê-lo, enchê-lo de socos, até que não reste mais vida em seu corpo.

Mas, eu sei que não posso fazer isso. Infelizmente.

Ainda perdida em meus pensamentos autodestrutivos, sou despertada do meu transe quando sinto uma mão fielmente conhecida se apoiar em meus ombros. Para logo, um beijo casto e quente ser dado em minha bochecha.

Jungkook me aperta ainda mais contra si, quando me puxa para trás.

Ele percebe, ele sabe, ele tem consciência de que Min Yoongi me afeta ainda mais do que afeta a si. A presença dele, por mais que indesejada, está ali. Está intrínseca ali. Depois de tantos anos, ele voltou.

— Oi, Yoongi. — É Jungkook quem responde. Com toda sua simpatia e calma.

Yoongi sorri, parecendo satisfeito por ter sido respondido por Jungkook. Ele parece satisfeito por perceber que conseguiu me desestabilizar com tudo. E principalmente que conseguiu obter de Jungkook a resposta.

Todos sabem, em todos esses anos, que minha única fraqueza é Jungkook. É unicamente Jungkook e sempre será ele. Afetando ao meu ômega, você automaticamente consegue me afetar da maneira mais cruel e horrorosa que conseguir e que for sua intenção.

Mas, é a partir do momento que ele me encara, que eu sei que todo o desprezo que sentia por mim ainda reside dentro de si. Ao encarar seus olhos felinos, eu compreendo que sua raiva contra mim ainda está ali. Que seu desejo de me ver nas ruínas, ainda está ali. Todo seu rancor, está ali.

E eu sei que todo esse ódio que ele sente por mim, todos os dias se fortalece. Porque é assim que nos alfas somos. Quando perdemos algo que desejamos tanto, criamos um ódio mortal por aquele que nos tirou o que acreditávamos que nos pertencia. Encarando Yoongi, eu sei que seu ódio está ainda mais forte.

Porque ele percebe a proximidade que Jungkook se encontra de mim, ele reconhece que aquele ômega que estava direcionando seus olhares tinha uma alfa. E que ela está diante de seus olhos. Yoongi reconhece que eu sou a alfa de Jungkook. E ele não precisa de muito para compreender isso.

Eu poderia sorrir, vitoriosa. Poderia debochar de si e do seu ranger discreto de dentes. Mas, eu não consigo sequer me mover e não consigo esboçar uma reação plausível e condescendente com o meu estado mental. Meu corpo – assim como minha mente – se encontram chocados o suficiente para se recusarem a acreditar que ele estava ali.

O famoso estado de negação. Até que seja plausível chegar ao estado de aceitação da situação.

— Fico feliz em vê-lo, depois de tanto tempo. É uma surpresa e tanta. — Yoongi comentou. Ele parece verdadeiramente nostálgico.

— Infelizmente eu não posso dizer o mesmo, Yoongi. — Jungkook responde. Seu tom de voz é espero, intenso.

Ele finaliza o assunto. Não parece interessado na ladainha nada impressionante do alfa.

Jungkook devagar desce as mãos pelos meus braços e alcança minha mão esquerda. Entrelaça nossas mãos e beija meus dedos, em uma maneira silenciosa de me acalmar. E ele consegue.

Depois de muito tempo, o ar que por muito tempo estava preso em mim é solto. Ar este, que acreditei fielmente não ter prendido. Acreditei que estava respirando, mas, a verdade era que eu estava me prendendo fortemente.

Respiro fundo, tão fundo, que sinto meus pulmões doerem e queimarem. Aperto a mão de Jungkook em resposta e um sorriso é dado para Yoongi, depois de muito tempo inexpressiva.

— Precisa dizer mais alguma coisa? — Questiono a Yoongi, que me encara atentamente. Ele range os dentes e eu sorrio.

Vê-lo com ódio é gratificante. É minha conquista pessoal, não posso negar.

— Acredito que não. Ou nós temos? — Ele sorri, irônico. Mas, por incrível que pareça, eu volto a sorrir.

— Marque um horário, e resolveremos nossas possíveis pendências. — Pisco para si. E esse tom de deboche parece deixá-lo ainda mais raivoso. — Vamos, amor. — É a única coisa que eu digo depois, antes de puxar Jungkook levemente em direção a saída.

Ele prontamente me confirma e me caminha no mesmo ritmo que o meu, para fora daquele hospital. Tenho absoluta certeza de que Yoongi nos encara sair, sem pausar nenhum passo.

Mas, não posso me dar ao luxo de olhar para trás. Tampouco desejo olhar para trás. É o que fazemos quando abandonamos o passado. Abandonamos o passado com tudo e todos, e não, não paramos para olhar para trás. Coisas ruins não merecem um adeus, nem mesmo um até logo.

Passado continuará sendo passado. 

𝐔𝐌 𝐎̂𝐌𝐄𝐆𝐀 𝐏𝐑𝐄𝐂𝐈𝐒𝐀 𝐃𝐄 𝐔𝐌 𝐅𝐈𝐋𝐇𝐎𝐓𝐈𝐍𝐇𝐎, 𝐣𝐣𝐤.Onde histórias criam vida. Descubra agora