ainda era meados de 2017

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O sonho do tão almejado debut ainda parecia uma ideia improvável em meados de 2017, chan gastava as solas de seus tênis velhos correndo de um lado para o outro. Seus ombros doíam, seus olhos pesavam, sua cabeça estava a mil, tanto que seus movimentos não conseguiam acompanhar o mesmo desenvolvimento ligeiro das engrenagens do seu cérebro.

Foi em 2017 que tudo começou a acontecer. Estreiar com seus amigos era um sonho que estava para se realizar, apesar de todas as dificuldades, sabia que em algum momento as coisas iam dar certo. Mas foi quando aceitou a ajuda de changbin com alguns trabalhos que seu mundo novamente perdeu o foco.

Havia se tornado um tipo de tradição entre christopher e o segundo mais velho do seu grupo saírem para beber algo refrescante numa madrugada de verão após longas horas treinando incansavelmente. Saíram do prédio onde estavam trabalhando em rumo a sua futura carreira como artistas em um tom de conversa baixa, sempre lado a lado eles tomaram o caminho do dormitório.

Christopher estava no auge de seus vinte anos, seu cabelo era um misto de descoloração desbotada e um cinza opaco, seus jeans eram sempre escuros e suas camisas amarrotadas. Não tinha tanto tempo para ligar para sua aparência, apesar de ser uma das condições em se tornar um idol.

Changbin ao seu lado escutava suas lamúrias em silêncio, rindo vez ou outra do exagero de seu hyung em alguns pontos. Apesar de conviver diariamente com o seo, apenas naqueles momentos christopher podia respirar fundo e focar seus olhos castanhos na figura pequena que sempre carregava uma carranca. Seus cabelos eram lisos e brilhantes, tinha um rosto fino e um queixo pontudo que era um charme a mais que o moreno gostava de esbanjar às vezes. Além de sua aparência física digna de aplausos do Bang, changbin era uma pessoa honesta e sincera, alguém que estava sempre ao lado do garoto de cabelos cinzas cacheados que na calada da noite chorava de saudades de sua família que tinha ficado para trás.

Chan podia afirmar que não existia alguém que o melhor conhecia que o rapaz coreano que impressionava todos com seu rap impecável.

No caminhos de casa, ao lado de uma loja de conveniências, a máquina de refrigerantes que engolia vez ou outra seus salários os aguardava. Changbin tomou a frente, sendo está a vez do moreno pagar pelas bebidas com um teor de açúcar questionável.

- um ótimo dia para fugir da dieta, não é? - brincou o bang, pegando a latinha de refrigerante das mãos frias do seo. Se encostaram lado a lado na parede de tijolos vermelhos, em silêncio, bebericavam o conteúdo de suas latas e deixavam que o gosto fosse identificado por seus paladares.

O poste que sempre dava problema ainda não estava consertado. Há quanto tempo aquilo estava assim? Changbin se perdeu em pensamento enquanto olhava para a luz alaranjada, nem mesmo reparando no rapaz ao seu lado que o observava de soslaio. O que chan realmente sentia em relação ao menor era algo que nunca podia ser dito em voz alta, nem mesmo conseguia pensar naquilo sem ficar inquieto. Sentia que estava tudo bem gostar de garotos, mas não quando esse garoto era seu companheiro de grupo. Nunca pensou que tinha algo de errado com si mesmo, apenas não queria ter desenvolvido aqueles sentimentos profundos que acabaram de enraizando em seu interior.

Não podia afirmar com certeza o que em changbin tinha lhe encantado de tal forma, talvez fosse a forma como seus olhos ficavam brilhantes por receber um elogio em relação ao seu ótimo trabalho, ou talvez a forma espontânea que christopher tanto invejava e admirava em changbin. Podia passar noites em claro citando suas boas qualidades, seus defeitos que se tornavam perfeitos aos seus olhos. Estava completamente perdido naquela confusão de sentimentos. Em um de seus devaneios chegou a conclusão que amar outra pessoa era como mergulhar em um mar aberto sem equipamentos apropriados, era um risco enorme, mesmo que nadasse para a borda nunca chegaria em lugar algum mas que em algum momento aquela mesma água que o mantinha boiando pudesse puxá-lo para o fundo do mar, afogando-o aos poucos.

Gostar de changbin era daquela forma, inalcançável apesar de estar perto e perigoso, muito perigoso.

Quando novamente a luz do poste se apagou, os dois já tinham terminado seus refrigerantes, tomaram rumo até o dormitório. Poucos minutos de caminhada e já adentraram ao prédio, ainda conversavam baixo, suas risadas contidas para não despertar qualquer que fosse o maluco que estivesse acordado duas horas antes do amanhecer.

- te vejo amanhã. - changbin sussurrou, entrando no corredor para ir até o quarto que dividia com o outro estrangeiro do grupo. Chan acenou, sorrindo pequeno.

Ainda na sala do apartamento onde oito garotos dividiam quartos, o bang deixou seus ombros caírem. Mais uma vez não conseguiu colocar para fora o que estava sentindo, parecia uma missão impossível, as horas juntos pareciam cada vez mais curtas. Ainda otimista, ergueu a cabeça, rumando em passos confiantes mas silenciosos até o quarto que dividia com Minho.

Ainda era meados de 2017, teria tempo o suficiente para tomar coragem e se declarar.

Te Vejo AmanhãOnde histórias criam vida. Descubra agora