Prólogo

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As suas mãos já marcadas pelo tempo estavam no seu auge ao se elevarem , estas eram esbatidas pela luz ofuscante de trás digna dum ritual . Num movimento brusco desalmado a  caixa desgastada fora finalmente selada guardando tudo o que era considerado um infortúnio para a humanidade , um perigo ignorado , esquecido . Não era a única , existiam pelo menos mais outras que não resistiriam ao tempo que as irá certamente corromper . O tempo era um mar traiçoeiro , completamente desconhecido . 

Esta era uma marca do passado que pintava o rosto da mulher que recentemente mudara de casa , contudo aquela memória ... aquelas imagens presentes no seu pensamento deviam ser mais um fruto da sua imaginação . Então por mais que estas parecessem reais ela nunca iria acreditar nelas . Determinada a mudar o seu rumo de vida mordeu os lábios forçando um sorriso alegre . 

A rua onde agora se encontrava tinha casas revestidas por azulejos simples . Uns eram azuis , vermelhos ou amarelos .  As janelas , por sua vez ,  abriam asas ao céu  com belas plantas acompanhando a sua passagem . As suas flores abriam-se lentamente quando sentiam-se menos tímidas , voltando os seus olhos para o adorado sol . 

A mulher observando a sua nova porta abriu-a esperançosa , ao entrar surpreendeu-se com o interior da sua modesta casa . Encontrava-se acompanhada de uma vizinha que lhe havia prometido ajudar a largar tudo na entrada , a sua " próxima " sabia do ocupante anterior que vivera naquela casa e estaria disposta a lhe ajudar a adaptar-se à nova moradia . No final contou-lhe como este novo espaço funcionava e os cuidados que devia a ter com os outros vizinhos , a hora do silêncio por exemplo :

" É tudo por agora " sorriu a vizinha mostrando os seus dentes já gastos " Dolores , estaremos cá sempre que precisar ajuda . Terei que deixá-la para cozinhar , lamento imenso  "

" Muito Obrigada pela sua paciência , tenha uma boa tarde " fechou-lhe a porta gentilmente. 

Agora sozinha encostava-se na porta já fechada acabando por deslizar lentamente até baixo com as costas .  Tinha as mãos sobre uma misteriosa caixa que sempre lhe acompanhara desde pequena .  

" Eu não percebo quando as pessoas olham para mim e chamam-me de Dolores logo de caras sem nem sequer me conhecerem " suspirou " Já esta caixa tem muitos segredos ... por vezes não dá para conter a vontade de abri-la  "

Adormeceu contra a porta . 

Mãos Geladas , Coração GeladoOnde histórias criam vida. Descubra agora