1

39 1 0
                                    

Em um ambiente semelhante ao de um filme de faroeste clássico, uma mulher corria pela área próxima a uma mina, com a terra seca e infértil ao seus pés levantando poeira, com uma bolsa a tiracolo lotada de pedras circulares de tonalidade azulada, com marcas negras dispostas de forma aleatória. Homens corriam atrás dela com armas, gritando palavrões e para que ela parasse, mas ela continuou, adentrando um pequeno pasto onde os trabalhadores do local deixavam seus cavalos.

Com um pensamento rápido, ela monta o majestoso animal, deixando os outros agitados. Distraída com a fuga que estava prestes a fazer, ela percebera tarde demais que derrubara algumas das pedras, apertando firmemente para fechar a bolsa antes de dar um golpe forte com os calcanhares na barriga do cavalo, por conta do desespero, enquanto segurava firmemente as rédeas dele, direcionando-o para longe de lá.

Tiros puderam ser ouvidos ao longe, junto ao trote de outros cavalos. A mulher não tem escolha: ela espreme dois dedos dentro da bolsa, sem tempo de abri-la novamente, e pega duas das pedras. É uma questão de sorte, ela sabe, mas não há tempo para hesitação! Com força, ela lança ambas as pedras ao chão, e do local onde deu o impacto, em uma questão de milissegundos cresce um golem!

Mesmo que ainda não estivesse em seu tamanho total, crescendo praticamente um centímetro por segundo, o ser de pedra utiliza seus braços para fazer uma espécie de barreira e impedir que os inimigos daquela que lhe havia invocado avancem. Cavalos relincham, se erguendo sobre as patas traseiras. Homens desavisados caem de suas montarias e os poucos que conseguem se manter por tempo suficiente, são estapeados pelo golem no momento em que ele alcança seus magníficos 5 metros de altura.

A mulher foge.

— Você me contou essa história muitas vezes, agora é minha vez de contar a você — Um sorriso triste no rosto, Alex suspira ao olhar o rosto adormecido da mulher a sua frente.

Francisca, a mãe de Alex, havia contraído HIV através de um cara com quem estava tendo algo como um relacionamento a algum tempo, acreditando que ele estaria livre de doenças e tudo mais, mal sabia ela que ele tinha um péssimo hábito de ir em bares quando ela não estava na cidade e transar com a primeira pessoa que aparecer. Agora, ela descobriu tarde demais e já estava morrendo, não tinha volta, afinal outros problemas vieram com isso.

— Só queria saber o que acontece depois — A história era maior que esse trecho final, claro, um conto infantil e fantasioso sobre uma arqueóloga, escrito pela própria Francisca junto com diversos outros do mesmo universo, porém nunca publicado, não se sabe se por nenhuma editora querer ou simplesmente pela mulher não querer, ela era fechada quanto a isso.

Já era tarde, quase meia noite, e Alex se cansou de ficar no hospital. No dia seguinte, uma sexta-feira, iria trabalhar, então seria ou ir para casa e dormir confortavelmente para, então, ir trabalhar, ou dormir na cadeira do hospital e, de qualquer forma, ter que ir para casa na manhã seguinte, então preferiu o mais prático. Se levantou e saiu do quarto, rumando em direção a saída do hospital, acenando para alguns enfermeiros ao longo do trajeto.

Mesmo sua casa sendo a poucos minutos do local, já estava tarde e, não querendo se arriscar, chamou um Uber, o qual chegou em poucos minutos e logo se encontrou em casa. Foi recebido por Sokka, um vira lata marrom que pula em Alex, pedindo carinho e atenção que lhe foram negligenciados a tarde toda, além, é claro, de comida, e seu dono fica mais do que feliz em agradar o animal carente.

Já era passado de meia noite quando nosso querido protagonista enfim pode ir para cama, tendo tomado um banho e ir para cama, milagrosamente dormindo em poucos minutos.

Fazia algum tempo que Alex morava apenas com seu cão Sokka e com um gato chamado Anakin, que provavelmente estava dormindo quando seu humano-escravo chegara, desde antes de saber que Francisca estava naquele estado. Ninguém nunca entendeu o motivo de ele estar tão ansioso para sair de casa, até saber que "ele" era "ele" e sua mãe, que entendia seu filho tão bem quanto uma cerca entende uma folha na árvore, o fez se sentir tão mal por estar lá que simplesmente preferiu sair de casa tão cedo quanto possível.

Acordou cedo no outro dia, com Anakin dando uma patada em seu rosto. Quem precisa de um despertador quando se tem um gato carente em casa? Ele se levanta e coloca comida e água para seus animais, preparando um café para si, o qual bebe enquanto observa o gato irritando Sokka, que fingia não estar se importando para, repentinamente, pular para assustar Anakin.

Só iria trabalhar ás nove horas e meia, mas ainda eram seis e cinquenta, então tinha tempo! Mas como iria passar esse tempo? Ficou, como seu falecido pai diria, "zapeando" pelos canais da TV, mas os canais mais interessantes eram o de um jornal fantasioso que exibia relatos de avistamentos de seres meio cavalo em cidades próximas e um de desenhos animados no qual estava passando alguma animação do Homem-Aranha.

Alex não imaginava o motivo de um jornal, algo que se imagina ser sério, passaria algo assim! Talvez fosse apenas promocional de algum filme ruim que logo chegaria aos cinemas nacionais, ou simplesmente algo semelhante a grávida de Taubaté ou ao E.T. Bilu, que apareceu de forma semelhante alguns anos atrás, dizendo para as pessoas buscarem conhecimento, uma mensagem até que boa para um alienígena falso.

Com um suspiro entediado, a televisão é desligada e nosso querido protagonista resolve ir, novamente, visitar a mãe no hospital. Pelos seus cálculos, teria duas horas para fazer nada em um local cheio de gente doente, então chamou um Uber, o qual rapidamente chegou. O caminho foi silencioso e tranquilo, algo que provavelmente Alex, sendo a pessoa animada que é, não queria muito, mas não poderia forçar o outro a falar, né?

Tendo adentrado novamente o hospital, é avisado que sua mãe está em alguma espécie de tratamento ou exame, sendo assim não poderia vê-la. Ele dá de ombros e se senta numa cadeira na recepção.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: May 19, 2021 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Stellae (Beta)Onde histórias criam vida. Descubra agora