Capítulo 4

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Quando eu completei sete anos, ao assoprar minhas velas de aniversário, eu desejei um irmão. Mas não contei aos meus pais por medo de que meu desejo não se realizasse.

O irmão nunca veio, mas no segundo ano do fundamental, eu ganhei algo próximo disso.

Um garotinho miúdo que segurava um livro contra o peito.

Seu nome era Jonathan Lewis Seward, filho do grande produtor musical Robert Seward, casado com a atriz de teatro Jeniffer Seward.

Ele se sentou ao meu lado na sala e eu estava curioso para descobrir que era aquele que ele levava para todos os cantos, porém ele estava tão concentrado que eu preferi não atrapalha-lo. Então não conversamos no primeiro dia de aula, nem no segundo ou terceiro dia. Jonathan não largava aquele livro.

No intervalo de uma quinta-feira, eu o vi sentado debaixo de uma árvore, o livro estava fechado em seu colo.

— Você pode vir ler comigo se quiser. — Jonathan me surpreendeu. Eu não havia percebido que estava parado encarando-o como um psicopata.

— Por que você sempre lê o mesmo livro? — Perguntei ainda estagnado.

— Porque vou apresentar essa estória no teatro. — Sorriu simples. — Vem, senta aqui e leia comigo! — Bateu a mão ao seu lado me convidado para juntar-me naquela leitura rotineira.

Sentei perto dele e estiquei o pescoço para ler o título do livro.

O Menino do Dedo Verde.

— Você será o menino?

Johnny balançou a cabeça de maneira extremamente animada.

— Minha mãe é atriz, quero ser igual à ela!

— Uou! Isso é muito legal! Eu posso ir te assistir?

— Claro! Eu posso pedir pro papai te levar. — Johnny sorriu mostrando todos seus dentinhos pequenos.

Nunca mais nos separamos.

"Na tarde do terceiro dia, o professor entregou a Tistu uma carta para seu pai.

Na dita carta, o Sr. Papai teve a desdita de ler essas palavras:

'Prezado Senhor, o seu filho não é como todo mundo. Não é possível conservá-lo na escola.'

A escola devolvia Tistu a seus pais."

(DRUON; MAURICE, 1957, p. 30)

Duas semanas depois, Johnny interpretou ele mesmo em um teatro no centro da cidade. Assisti tudo sentado na primeira fileira, maravilhado com aquela estória.

Passei minha infância toda admirando Seward, desejando que algum dia, eu fosse talentoso como ele.

-

No sábado, eu acordei com minha mãe me cutucando, precisava de ajuda para ir ao mercado.

Meu pai estava voando pela Europa.

A jornada até o mercado foi rápida e agradeci mentalmente por isso, ainda mais quando tinha que ouvir minha mãe fofocar sobre suas amigas. Era um pouco entediante, mas ouvia tudo com atenção, sabia que era uma das maneiras que minha mãe lidava com a ausência de meu pai.

Quando estacionei o Opala marfim de meu pai na garagem de casa, mamãe virou-se para mim com os olhos verdes fixos aos meus.

— Vou sentir falta disso, sabe... quando você se casar, terei que fazer tudo sozinha. — Aquilo me partiu o coração. Minha mãe poderia ter algumas amigas que lhe acompanhavam ao salão, mas nada substituía a companhia de seu filho ou marido.

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⏰ Última atualização: Feb 24, 2021 ⏰

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Céu de tutti-frutti, nuvem de canelaOnde histórias criam vida. Descubra agora