único

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Kuroo se lembra bem do dia em que percebeu que estava apaixonado. Foi durante uma noite costumeira deles. Sempre se reuniam na casa de Kenma para maratonas de jogos durante o fim de semana. Enquanto o jogo carregava na tela, Kuroo olhava para a pessoa sentada ao seu lado.

Akaashi folheava um livro qualquer que havia encontrado na estante dos pais de Kozume. Seus longos cílios pareciam fazer cócegas em sua bochecha sempre que ele piscava. E os seus olhos, os olhos que Kuroo tanto adorava, seus olhos de anjo. Kuroo passou a odiar aqueles olhos ao perceber a maneira que eles brilhavam quando se encontravam com Bokuto Koutarou.

Ao perceber o rumo que seus pensamentos estavam indo, Kuroo arregalou os olhos, desacreditado. Ele não podia, ele não deveria. Não poderia ser verdade.

Havia se apaixonado pelo namorado do seu melhor amigo.

A partir do momento que percebeu seus sentimentos, Kuroo não foi mais o mesmo. Tentava não evitar o casal, afinal, nem Bokuto muito menos Akaashi tinham culpa pelo que estava acontecendo consigo. Tentou ignorar aqueles sentimentos, procurando em Akaashi alguma coisa, qualquer coisa, que o fizesse desgostar de Keiji. Mas era impossível. Akaashi Keiji era perfeito demais para ser verdade.

Desde as pontas do seu cabelo sempre perfeitamente arrumado, até as pontinhas dos seus longos dedos, dedos esses que Kuroo estava cansado de saber que possuíam o mais suave dos toques.

Só lhe restou aceitar aqueles sentimentos. Iria guardá-los para si, a última coisa que queria era que a felicidade dos seus amigos fosse interrompida por sua causa.
 
Na primeira vez que aconteceu, Kuroo estava sozinho. Seus pulmões pesaram e sua garganta gritou. Depois de uma violenta crise de tosse, vieram as primeiras pétalas de camélia. Tetsurou chorou por horas. Não poderia ser pior.

Eram as flores preferidas de Akaashi, ele sabia. Ele mesmo escolheu o buquê para Bokuto o presentear em seu último aniversário. A flor de pétalas delicadas e de perfume sutil, ridiculamente parecida com Keiji.

As pétalas vermelhas permaneceram na sua palma, como prova de que aquilo realmente estava acontecendo.

Na segunda vez, Kuroo estava acompanhado de Kenma. Seu amigo de infância sabia que algo estava errado consigo, mas Kuroo se recusava a falar. Ele levaria aqueles sentimentos consigo para o túmulo.
Porém, quando Kuroo começou a tossir e uma camélia inteira saiu de seus lábios, foi impossível continuar escondendo.

‘’Kuroo, você precisa contar a ele.’’ Kenma tentava convencê-lo.

‘’Eu… Não posso… Eles não precisam saber disso.’’ arrastou as palavras. Céus, estava tão difícil de respirar.

‘’Se te perdemos será pior, Kuroo’’

Naquela noite, Kenma chorou junto consigo. 

Kozume passou dias tentando convencê-lo a fazer a cirurgia. Faria qualquer coisa para não ver a decadência de seu precioso amigo.

Porém Kuroo se recusava, nem sequer pensava na possibilidade. Não queria perder aqueles sentimentos, por mais miserável que eles o fizessem sentir. Ele não queria esquecer da sensação que era amar Akaashi Keiji. Não importava o quanto sua garganta lamentasse e seu coração sangrasse. Kuroo iria permanecer daquela maneira. Até que seus pulmões mergulhassem em camélias, morrendo sufocado por seu amor não correspondido.

Não importava se seu coração sempre chorava quando os viam juntos. Ou se seu sangue fervesse todas as vezes em que Bokuto lhe contavam o quão maravilhoso Akaashi era consigo.

Ele não iria ceder, por Akaashi, por seu amado olhos de anjo, valeria a pena. Ele não iria abandoná-lo, estava preparado para virar um jardim inteiro de camélias vermelhas.

Na última vez que aconteceu, Kuroo não estava mais preocupado consigo. Amar Akaashi, apesar de toda a dor que lhe foi causado, havia sido gratificante. Segurando fortemente a caneta, escrevia seus sentimentos finais. Antes que os últimos resíduos do buquê de camélia saíssem dos seus lábios.

‘’Mesmo não sabendo, Olhos de anjo, você me fez o cara mais feliz do mundo. Sinto muito por tê-lo amado.’’

caméliaOnde histórias criam vida. Descubra agora