Notícia inesperada

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Era domingo e como sempre, dormi até tarde.
Eram por volta das 10 da manhã quando levantei, desci para a cozinha e encontrei meus pais com uma cara esquisita sentados à mesa.

—O que foi? Alguém morreu? —Eles me encararam, ainda mais estranhos. —Alguém morreu mesmo?
—Sim... —disse meu pai.
—Quem! —perguntei espantada e com medo da resposta.
—A ex-mulher do seu pai. —Mamãe quem respondeu.
—Como é que é?

Eu nem sabia que meu pai teve outra mulher.

Meu pai respirou fundo e começou a me contar a história.

—Na época da escola, eu... Conheci uma moça. Começamos a ficar e ela me contou que estava grávida. O pai da criança era um drogado e o pai dela era um homem muito rígido. Ela estava com medo da reação dele e perguntou se eu poderia assumir a criança.
—E o senhor assumiu? —Ele baixou a cabeça, envergonhado.
—Pai! Que loucura é essa?
—Eu gostava dela, então aceitei. O pai dela nos obrigou a casar e... Foi isso.
—Então, tecnicamente, você tem outro filho? —Ele fez que sim. —Meu Deus, que loucura. O senhor é muito ingênuo.
—Eu não fui ingênuo, eu fui responsável.
—Tem mais coisas. —disse minha mãe.
—Que coisas?
—Conta pra ela Cho.
—Bom... Quando o garoto fez um ano, o pai biológico apareceu, ele começou a fazer parte das nossas vidas e isso me deixou bem incomodado, por isso me separei dela, mas continuei ajudando financeiramente e ficava os fins de semana com a criança. Quando eu comecei a trabalhar e conheci sua mãe e tivemos você... As coisas mudaram um pouco. Voltei pra Seul mas mantive contato com eles.
—Eu não tô entendendo onde o senhor quer chegar.
—Ele vai vir morar com a gente. —disse minha mãe, de uma vez. —A ex-mulher dele morreu de câncer recentemente e o garoto não tem onde ficar.
—Só podem estar brincando.

Minha mãe podia ser tudo, menos delicada, talvez por ser advogada e tal. Ela era adepta do: Puxa o band-aid de uma vez. Já meu pai... Ele era realmente uma pessoa boazinha de mais.

—Não. —disse meu pai. —Ele teve que deixar a escola pra cuidar dela, não terminou o ensino médio e por isso não tem como arrumar um emprego, a casa onde moravam é alugada e ele não tem mais ninguém.
—E o pai biológico dele? E os outros parentes?
—Sumiu de vez alguns anos atrás. Não conseguimos entrar em contato com ele. Mesmo assim, ele e o filho não se dão bem, não posso obrigar ele a morar com um marginal. Ele não tem mais ninguém além de mim.
—Então vocês não estão perguntando minha opinião? Estão me informando a decisão de vocês?
—Eu também não sou fã da ideia —disse minha mãe. —, mas não podemos deixar ele sozinho por aí.
—Tá bem. Coloquem um estranho na nossa casa. Depois que ele vender os móveis pra comprar droga, não digam que eu não avisei. —Fui em direção ao quarto.
—Filha, não é bem assim...

Bati a porta na cara do meu pai e ele não insistiu.
Como eu podia ficar numa boa sabendo que um cara estranho vem passar 24 horas por dia na minha casa?
Eu já odeio esse garoto e não sei nem o nome dele.

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