Ser sinesteta nunca foi realmente um problema para Lucca. É claro que ver cheiros e sentir o gosto de um dia da semana às vezes era um pouco irritante, mas ela até que gostava de quando os sons eram coloridos ou de quando as pessoas eram uma cor ou de quando ela via apenas as cores de uma palavra - independente da cor das letras. Lucca sabia que a definição de sinestesia era "um distúrbio neurológico no qual um estímulo causa reação em outro", o que fazia com que a condição parecesse uma doença, mas ela nunca pensou nisso dessa forma. Ela gostava de pensar que sua sinestesia era seu super poder.
Como Emma Frost era uma telepata e Tempestade era uma elemental, Lucca Zabini era uma sinesteta.
O mais interessante era que sua sinestesia era um tipo especial. Essa condição possui mais de 60 classificações diferentes, mas a de Lucca estava em um espectro só dela: ainda que, vez ou outra, pudesse experimentar alguns dos tipos de sinestesia mais comuns (como quando via Scorpius tocar violão e a música saía amarela), o que a diferenciava era a habilidade de entender as cores como ninguém nunca antes viu. As pessoas eram cores, as emoções eram cores, os dias eram cores e as cores controlavam tudo. Na verdade, Lucca ficou tão dependente das cores que não conseguia imaginar um mundo onde não pudesse tocá-las, senti-las, saboreá-las, escutá-las e, principalmente, vê-las.
Até que aconteceu.
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DESBOTE - declínio
Ser Lucca Zabini nunca havia sido exatamente fácil, já que ela mesma sempre encontrava formas de complicar as coisas - quando já não eram complicadas por natureza.
Foi assim quando passou a odiar arte na infância. Foi assim quando quebrou alguns pincéis quando Matteo foi para a França. Foi assim também em todas as vezes que teve qualquer grau de bloqueios criativos, e foi assim quando assumiu para os pais que gostava de meninos e meninas. Qualquer que fosse o problema ela sempre conseguiu um jeito de contornar a situação, resolver os empecilhos - mesmo que procrastinasse bastante ao invés de desatar os nós de uma vez só. O problema era que essa situação era definitivamente impossível de resolver.
Algumas coisas acontecem simplesmente porque sim. O tempo todo Lucca se esforçava para encontrar algum tipo de explicação, alguma razão ou motivo para estar passando por tudo aquilo, mas nunca conseguia encontrar. Não acreditava muito nessa baboseira de destino e não era muito fã da ideia de "vontade divina". Até passou por sua cabeça que aquilo poderia ser um castigo, mas seria um castigo por quê?
Lucca se lembra da dor; pelo menos das vezes mais marcantes.
A primeira vez foi durante uma festa. Era fevereiro e o tema da festa era São Valentim.; aquele foi o melhor dia dos namorados da sua vida por um motivo apenas: vermelho. Ou, melhor dizendo, Roxanne.
Lucca estava mais do que contente, dançando, cantando e bebendo por todos os lados de uma casa de república com seus amigos. Scorpius ganhava de todos no karaokê. Rose jogava alguma coisa com outros amigos do curso de dança. Roxanne dançava todas as músicas que Scorpius cantava com movimentos descoordenados, rindo a cada cinco segundos. Lucca jogava cerveja-pong em cima de uma mesa de sinuca com pessoas que ela nunca tinha visto antes.
Ela era muito boa naquele jogo, mas estava distraída: Roxanne estava tão gostosa naquele vestido vermelho apertado que Lucca não tinha escolha senão olhar pra ela o tempo inteiro. O problema eram as luzes.
Luzes incandescentes, brancas, muito fortes e vindas de todas as direções. Lucca já tinha bebido um pouco - na verdade muito — então jurava que a dor de cabeça e a ardência nos olhos eram por conta do álcool em seu sistema. Quando desviou o olhar de Roxanne para prestar atenção na bolinha branca em sua mão, seus olhos doíam. Ela mirou a bola em um copo e, no momento em que atirou, sua visão ficou branca de uma vez só, como se uma daquelas luzes tivesse sido colocada diretamente à frente de seus olhos. Tão rápido quanto aconteceu, o lampejo sumiu. A dor de cabeça também, junto com a ardência em seus olhos.
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Caleidoscópio
FanfictionA teoria das cores criada por Johann Wolfgang von Goethe afirma que além das refrações da luz no ambiente, as cores também dependem da percepção de quem as vê. Em seu caleidoscópio, Lucca Zabini gostava de tentar identificar cada uma das cores que e...