Corro. Sem parar. Até as minhas pernas ficarem bambas pelo esforço e meus pulmões gritarem por ajuda. Não posso parar, não agora. Olho sob o ombro, tentando encontrar algum sinal de Peter atrás de mim. Não vejo nada, mas a escuridão também não é de grande ajuda. Encosto na parede de uma lanchonete desativada e respiro fundo, ponderando minhas opções.
Tudo bem, penso. Acabei de fugir do meu namorado abusivo após ele tentar me matar com estiletes. Tenho sangue nas mãos e minhas roupas estão grudadas no corpo, devido a garoa fina que cai nessa madrugada. Viro a cabeça de um lado para o outro; não há sinal de Peter, mas também não há qualquer sinal de vida. Suspiro. Vai ser uma longa noite e minhas opções estão de mal a pior.
- Victoria! - alguém grita, cortando o silêncio.
Droga. Cada fibra do meu ser sabe que é Peter, chamando meu nome com todo o ódio que pode carregar em seu corpo esguio e alto. Xingo baixinho e volto a correr, forçando minhas pernas fracas a continuarem lutando. Eu preciso lutar. Passo a ouvir sua voz ao longe quando avisto um carro parado no meio-fio. Um carro antigo, daqueles que vemos em filmes do John Hughes.
- Victoria! - Ele grita outra vez, prolongando a última letra como um assassino faria. - É melhor você aparecer logo.
Aperto o passo e agarro a maçaneta do carro, olhando furiosamente para trás. Me jogo em um pulo para dentro, me assustando ainda mais com o que vejo em seguida: um garoto, no banco do motorista, ofegante e olhando para mim como se eu fosse um fantasma. Os olhos escuros dele brilham e o cabelo molhado cai na testa, pingando em sua jaqueta de couro. Ele acabara de entrar no veículo, assim como eu. Peter grita de novo e me tira do transe.
- Vai! - eu grito para o estranho ao meu lado. - Vai logo! Agora!
Sem piscar, ele vira a chave na ignição e pisa no acelerador, fazendo o veículo soltar um ruído ensurdecedor. Olho pelo vidro retrovisor e vejo meu ex-namorado correndo atrás do carro, junto com outro homem que não reconheço.
- Mais rápido! - grito de novo para o garoto. Se ele for um assassino, estou ferrada.
O som do carro fica mais alto e, de repente, estamos numa estrada deserta e não consigo mais escutar passos ou gritos ou qualquer uma dessas coisas desesperadoras. Respiro fundo, uma risada amarga escapando da minha garganta enquanto tiro os cabelos do rosto. O garoto, o tal motorista que também pode ser um serial killer, olha para mim por meio segundo antes de voltar a atenção à estrada.
- Você se meteu em uma grande enrascada - ele pondera, sua voz suave sendo uma enorme contradição com seu visual pesado.
Assinto e dou de ombros. Um minuto de silêncio se passa até eu reunir coragem suficiente para perguntar:
- Quem é você?
Ele me encara, cerrando os olhos. Demora mais do que eu esperava.
- Sky - Ele aponta para a traseira do veículo. - Eu estou fugindo do outro cara.
Balanço a cabeça em positivo.
- E você? - Sky continua e eu o encaro, com as sobrancelhas erguidas. - Não acha que eu mereço saber depois de ter salvado sua vida?
Reviro os olhos.
- Sou Victoria.
- De nada, Victoria.
Empurro seu ombro, ainda com o coração disparado e a adrenalina correndo meu corpo.
- Quem era o outro cara? - arrisco, não esperando uma resposta.
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getaway car
FanfictionVictoria e Sky se encontram na pior circunstância possível: desespero. Aliados pela necessidade e sem previsão de melhora em suas vidas, os dois se unem para uma aventura que, certamente, não trará boas notícias. Afinal, nada bom começa com um carro...