Peguei meu cardigã, olhando apressadamente o relógio. Ainda era cedo, eu tinha exatamente 15 minutos para chegar a biblioteca e pegar o livro antes do meu expediente começar. Enrolei o cachecol no pescoço ao sair do prédio, aquecendo minhas mãos e vendo minha respiração ser visível no ar, já que o inverno estava próximo e estava começando a esfriar.Meus passos eram rápidos e longos, atravessando o sinal enquanto os carros ainda estavam parados. O vento batia sem piedade no meu rosto e minhas mãos tentavam se aquecer no bolso do casaco, e quando percebi, já estava na frente da biblioteca.
Adentrei o local, me sentindo feliz quando fui recebido por uma rajada de ar quente, felizmente nessa época do ano os estabelecimentos começam a ligar os aquecedores. Me dirigi a bibliotecária, que pela expressão infeliz, trabalhava lá há algum tempo.
- Onde eu posso encontrar livros sobre - engoli a vergonha que iria sentir quando falei - vidas passadas, espiritismo, algo assim?
Ela endireitou seu óculos sob o nariz e apontou para uma sessão nos fundos da biblioteca, me olhando com um olhar estranho. Me deu calafrios. Movi minhas pernas em direção ao local apontado e ao chegar lá, encontrei uma estante já desgastada pelo tempo e afastada das demais. Peguei um livro aleatório e bati a poeira de sua capa, o que obviamente foi uma péssima ideia, já que a poeira voou no meu rosto, fazendo com que eu tivesse uma crise de espirros
- Agora eu sei porquê vocês estão nos fundos - outro espirro - poxa, nem pra dar uma espanadinha aqui - respirei fundo, tentando acalmar meu nariz - mesmo que alguém quisesse procurar vocês, não teria coragem, olha o tamanho daquela teia de aranha, pela mãe de Cristo - disse olhando horrorizado para a teia que atravessava um lado ao outro da prateleira, e ao forçar a vista, pude ver uma aranha andando calmamente por ela, como se debochasse de mim.
Me apressei e investiguei a capa do livro que havia pegado por acaso. A capa estava levemente descolada e dobrada nas pontas, as páginas, amareladas pelo tempo. Realmente aquilo era uma antiguidade, e se fosse pra dar um palpite, diria que aquele livro era mais velho que a própria biblioteca.
- Eu tô mal, mas pelo menos não tanto quanto você, amigo - disse folheando rapidamente o livro - vamos ver, hmm, "A Reencarnação", de Papus - murmurei sozinho - pelo nome, esse cara já deve ser um vovôzinho, é cada nome antigo que eu vou te falar viu, mas fazer o que? É o que tem pra hoje.
Fechei o livro, terminei de bater a poeira dessa vez com o livro pra baixo e me direcionei ao saguão, preenchendo a papelada para alugar o livro, enquanto a bibliotecária me olhava como se estivesse me julgando. Dei de ombros e sai de lá com o livro numa sacola qualquer. Devo dizer que o resto do dia foi monótono, com exceção de uma conversa que tive com Hoseok, na estaçãode separação de cartas.
- Eu não aguento mais! Já é a quinta vez que me mandam para o setor de separação, que téedio. Eles sequer me deixam ouvir música aqui, acredita? - ele dizia resmungando insatisfeito
- Não acho tão ruim assim - disse calmamente - é como um jogo de adivinhação: você olha o remetente da carta e em seguida o destinatário, então você olha o lugar de envio e entrega e tenta adivinhar o contexto da carta. Veja essa por exemplo - peguei uma carta qualquer e vi que o remetente era alguém chamado Min JongSu e o destinatário era uma garota chamada Min EunJi. Ele escrevia para ela daqui da cidade para Londres - podem ser um pai mandando uma carta dizendo que sente saudades da filha que foi estudar no exterior. Ou pode ser de um irmão tentando contato com uma irmã que foi morar junto com a mãe, depois que os pais se divorciaram.
- Legal - ele disse de repente animado - Deixa eu tentar - ele enfiou a mão no grande caixote onde as cartas eram despejadas, olhando rapidamente nome e endereço - de Kim Seoyun para Choi Minji, de Madrid para Paris, impressionante. Pode ser de duas melhores amigas, uma querendo dizer a outra que seu filho nasceu, e que ela quer que a amiga seja a madrinha, ou de uma prima dizendo a outra que o intercâmbio estava sendo maravilhoso, e que ela queria notícias de casa.