Sinopse

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A morte. Uma dama ávida por vida. Temida por muitos, conhecida por todos. Sua sombra permeava os sinistros corredores da masmorra, enquanto, nas paredes úmidas, um caminho invisível era traçado com uma única saída: ela. Eram abundantes os seres que a culpavam por suas desgraças, quando eram eles próprios que se mutilavam e banhavam a terra com sangue.

No interior da masmorra, a dor e o sofrimento há séculos marcavam as pedras sob incessante tortura, ao mesmo tempo que o cheiro de mofo atrelado ao pútrido nauseante pairava o ar do lugar, provocando uma sensação de desespero àqueles que não estavam acostumados à dor.

Celas sombrias se espalhavam ao longo do corredor. Suas paredes ásperas, cobertas por arranhões profundos e manchas de sangue seco contavam as histórias daqueles que pereceram sob a própria desgraça.

No final do corredor, dentro de uma minúscula cela mal iluminada, com apenas uma luz fraca que entrava pela fresta estreita, se encontrava um homem magro, de longos cabelos negros e desgrenhados, caídos como um véu sobre um rosto cansado e abatido. Seu corpo mostrava feridas profundas, marcas de uma luta recente. Ele estava sentado no chão frio e úmido, olhando para baixo. Suas mãos restritas pelos grilhões conectados à parede era um pequeno lembrete do seu confinamento.

Sons de rangidos de um velho e enferrujado carrinho, que trazia a comida dos aprisionados, soavam pelo corredor. Ao entregar os pratos com algo que era para parecer comestível, os presos atacavam seus alimentos como animais que não via comida há eras.

— Comam porcos imundos. — dizia o carcereiro com tremendo nojo da atitude dos cativos — Mesmo os porcos não são tão nojentos quanto vocês.

Os insultos eram distribuídos a todos diariamente, enquanto entregava a comida. Os presos já estavam acostumados àquele tratamento e nem se importavam mais com as palavras do homem, sendo sua comida muito mais interessante e importante.

Chegando na última cela, o carcereiro o viu. Os cabelos do prisioneiro caíam como cortinas negras ao redor de seu rosto cabisbaixo, uma imagem de desolação que parecia pesar sobre o ambiente.

— Ei, pega sua comida. — bateu nas barras metálicas, esperando por uma resposta que não veio. Seu impulso inicial foi dar uma ordem firme, mas a quietude do homem era desconcertante. — Ei, ei! — bateu mais forte, a paciência começando a se desgastar. — Ei, porra! — sua frustração se manifestou em palavras mais ásperas, mesmo assim não houve resposta. O nervosismo começou a ganhar espaço.

Observando por mais alguns segundos, o carcereiro decidiu que precisava se certificar, independentemente do que sua intuição lhe dissesse.

Vamo, cacete! — ele insistiu, desesperado por qualquer sinal de vida. Mas nada.

O guarda sentiu um nó de apreensão se formando em seu estômago. Suas mãos agarraram a grade com força, a sensação de incerteza crescendo. Esse era o único prisioneiro que o ordenaram a manter vivo.

— Ele tá preso. — murmurou para si mesmo, tentando se tranquilizar, enquanto olhava para as correntes anexadas à parede, mas sentia que algo estava errado. — Não vai ter problema. Não faz mal verificar... — uma voz interior sussurrava para não o fazer.

Decidido, o carcereiro deslizou as chaves de sua cintura e, após um momento de hesitação, destrancou a cela. Ele estava apreensivo, os olhos fixos no homem que permanecia imóvel. Um sentimento de angústia o envolvia, mesmo que ele não conseguisse entender o motivo.

Com um suspiro resignado, o homem empurrou a porta da cela, que rangeu ao ser aberta, saudando-o com a visão do prisioneiro encurvado. O silêncio ali era inquietante. Seus batimentos, acelerados pela ansiedade, pareciam ecoar levemente, lembrando constantemente da sua presença naquele espaço lúgubre.

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