A explosão

2 1 0
                                    

    Era 24 de abril de 1986, eu morava com a minha família em uma pequena cidade chamada de Pripyat. Essa cidade é em Chernobyl na Ucrânia que fica na Antiga União Soviética. Nesse dia eu completava 21 anos de idade e estava muito feliz com a festa surpresa que meus pais estavam preparando para mim, mal eles sabiam que eu já sabia da surpresa.

   Meu pai trabalhava na Usina Nuclear que ficava a 3 km de distancia de Pripyat que foi criada só para os trabalhadores da usina morar. Alem de morar com meus pais eu morava também com a minha irmã Dariyna não nos dávamos muito bem, pois ela nunca quis ter uma irmã adotada. Meus pais me adotaram quando eu tinha 8 anos. Meu pai biológico morreu de tuberculose e minha mãe sem condições de me criar me largou em um orfanato. Eu era uma garota muito feliz com a vida que eu tinha, não tinha o que tirasse o meu sorriso do rosto, eu amava estar com a minha família e amigos que fiz ali, eu amava ate a minha irmã mesmo não tendo retribuição.

   As pessoas tinham o costume de me chamar de SONYASHNYK traduzindo fica girassol me chamavam assim por causa da cor do meu cabelo que era amarelo como a flor.
Nessa noite meu pai chegou do trabalho, minha mãe estava na cozinha fazendo o jantar que era o meu prato favorito Holubtsy, uma espécie de folhado com recheio de milho e batata, minha irmã havia saído com amigos e eu estava estudando no meu quarto, pois meu sonho era ser médica e eu estudava para isso. Meu pai trazia em suas mãos um bolo de chocolate e acredite eu amava bolo de chocolate. Nós jantamos, fizemos uma pequena reunião de aniversario, comemos o bolo e fomos dormir.

***

   25 de abril de 1986 meu pai chega do seu trabalho comentando que um reator havia dado um pequeno problema, mas que não tínhamos com o que se preocupar, estávamos todos em casa era sexta feira e sempre nas sextas fazíamos a noite da família mesmo a Dariyna não querendo. O tempo passou e já era madrugada, terminamos de guardar os jogos que jogávamos e estávamos nos preparando pra dormir quando de repente um estrondo ensurdecedor entra pelas nossas janelas levantado um poeirão para o alto.  Meu pai imediatamente recebe uma ligação de seu serviço. O reator numero 4 da Estação Nuclear de Chernobyl explodiu.

   A usina havia sofrido uma sobrecarga de energia durante um teste de capacidade. O sistema de resfriamento parou de funcionar, o que gerou um superaquecimento do núcleo, que atingiu temperaturas muito quentes. Uma espécie de cogumelo enorme se formou no céu e soltou pelos ares fragmentos de grafite com plutônio a enorme temperatura. Em contato com o ar o urânio pegou fogo e também foi lançado na atmosfera.

   Houve muita correria de trabalhadores, bombeiros e jornalistas ate o lugar da explosão. Meu pai pegou o seu carro e foi ate lá, infelizmente as primeiras pessoas que tiveram contato com a radiação receberam doses letais e morreram ali mesmo. Meu amado pai foi uma das vitimas.

   Logo a noticia se espalhou, a madrugada foi conturbada e ate então não sabíamos da morte do meu pai, quando amanheceu um soldado do exercito bateu em nossa porta para nos dar a noticia que meu pai havia morrido. Ele morreu com queimaduras enormes em seu corpo, ficou quase irreconhecível. Ficamos a uma exposição muito grande da radiação então tínhamos que evacuar dali, do jeito que estava todos de Pripyat poderia morrer em ate 4 dias. Para evitar pânico as autoridades esconderam a gravidade da situação e disseram que a mudança seria temporária. Vários ônibus entraram em ação para a retirada das pessoas.
Eu com a minha pouca idade perto da minha mãe e irmã tive que tomar conta da situação, minha mãe estava acabada, destruída pela morte de meu pai, minha irmã do jeito que tava quando recebeu a noticia ficou. Fui eu quem reconheceu o corpo do meu pai então acabei também me expondo bastante a radiação. Consegui coloca-las no ônibus. No caminho varias pessoas acabavam morrendo, mulheres, crianças e idosos principalmente, a viagem já durava uma hora e meia quando ouvi minha irmã Dariyna gritando de dor e cuspindo sangue, eu não sabia o que fazer, minha mãe se jogou em prantos por cima dela foi quando ela deu o ultimo grito de dor e morreu. Minha mãe? Morreu também, horas depois de chegarmos ao nosso destino, ela morreu segurando uma foto da família. Eu fiquei lá sozinha.

   Os cadáveres estavam sendo jogados em uma vala rasa em um terreno baldio, nós que estávamos vivos ainda não tínhamos o que comer e nem beber.  As crianças resmungavam de fome e sede. Passou-se um dia inteiro de tormento, fome, sede e de pessoas perdendo suas vidas. O segundo dia de acampamento chovia muito e com a água da chuva os cadáveres estavam começando a flutuar, as mães desesperadas com seus filhos morrendo de fome e sede pegavam água de poças no chão para servir as crianças. Terceiro dia comecei a me sentir fraca, cansada e com dores enormes de cabeça, nesse momento eu já me preparava para partir e ser jogada na vala com os corpos apodrecidos e fedorentos.

   Foi no dia 28 de abril de 1986 que a minha vida como Halyna Kozel a garota girassol acabou. Como já era de se prever minhas fortes dores de cabeça me mataram tão rápido quanto um tiro no peito, fui jogada com os outros, mas desta vez a forte chuva com ventania me enterrou junto com os outros corpos.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Feb 28, 2021 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

RADIOACTIVEOnde histórias criam vida. Descubra agora