Quando cruzei o umbral senti um mau presságio, e senti também aquele já tão conhecido sentimento de estar sendo observado. Dentro da casa fui recebido por um escuro amigável, ele não me deixava desconfortável, aquele escuro apenas me abraçava.
- Me perdoe a falta de iluminação, mas gosto de ver o mínimo possível do ambiente. - disse Charles sorrindo em um tom amigável - Escocês? Não é um dos meus favoritos mas serve - disse novamente olhando para o whisky na minha mão, depois ele olhou para mim e deu sorriso brincalhão. - Pode colocar em cima da mesa.
Eu olhei á minha volta e vi uma pequena mesa de madeira, deixei o whisky ali em cima e olhei novamente para Charles
- Ah, senhor Charles, permita-me me apresentar, meu nome é Henry
- É um prazer Henry - disse Charles apertando minha mão.
- Er... senhor Charles... eu não sei como falar isso então vou direto ao assunto, eu estou aqui para conversar sobre Willard... creio que vocês eram amigos.
Charles me encarou por alguns segundos, como se estivesse decidindo se ia conversar ou não.
- Willard? Senhor Henry, somos tão parecidos e tão diferentes, os meus vícios na bebida e no cigarro só me trazem malefícios, no entanto eu insisto nesses vícios, a sua curiosidade também não lhe trará nada de bom, ainda assim você insiste nela. Como vê somos parecidos, mas eu não seria tão tolo á ponto de insistir em algo que já me foi avisado que só trará problemas, ninguém devia ser tão burro - disse Charles sorrindo enquanto olhava pra baixo balançando a cabeça em negação.
- Ainda insiste nela? Perdão senhor Charles, mas o que te faz dizer isso? há quanto tempo o senhor acha que estou na cidade?
- Como disse, ninguém devia ser tão burro. Senhor Henry, o que o senhor acha que faço na janela além de fumar? Sim eu sei que você notou a fumaça do cigarro saindo da janela, eu passo o dia inteiro aqui, fumando e sonhando, eu vejo cada rosto novo que cruza pela Main Street. Não é a primeira vez que te vejo. Mas devo admitir que estou impressionado, ontem quando te vi você tinha um olhar vivo e brilhante, um olhar curioso, e posso ver que você ainda o tem, pelo visto a cidade ainda não te deixou perturbado, bom, isso é questão de tempo. - Charles começou a se dirigir em direção á uma poltrona - Por favor Henry, sente-se - disse apontando para uma poltrona de frente para a dele
Me sentei olhando para Charles, peguei no bolso do paletó o cigarro que havia trazido e o estendi para o velho magro, de olhos azuis, cabelo grisalho ralo, barba também grisalha e rala que me encarava com um olhar penetrante.
- Ah sim, obrigado, não vou precisar sair pra comprar outro tão cedo, talvez esse maço dure umas 3 horas hahaha, a propósito senhor Henry, o senhor não se importa se eu fumar não é mesmo?
- Ah de jeito nenhum, fique a vontade
- Quer que eu acenda um cigarro pra você também?
- Ah, não senhor Charles, eu não fumo.
Charles se levantou e se dirigiu á um outro cômodo da casa, nesse meio tempo eu observei um pouco da arquitetura, pelo menos o máximo que o escuro me permitia. Observei o umbral em arco que separava os cômodos, uma estante velha de livros com títulos interessantes, vi alguns quadros nas paredes, alguns eram pinturas, enquanto outros eram retratos de Charles e uma garota pequena. Continuei ali por alguns segundos quando Charles volta com um cigarro aceso. Ele se sentou, deu um trago no cigarro e, com um olhar pensativo, disse.
- Henry, se me permite, posso pelo menos saber o motivo pelo qual veio aqui? O que faz você querer saber tanto sobre Willard á ponto de arriscar sua sanidade?

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O Caso de Willard Blake
HorrorAcontecimentos estranhos na cidade de Cape Lane acabam levando ao desaparecimento de Willard Blake. Henry Willhelm Green é um repórter investigativo que vai até a cidade para investigar o ocorrido. Porém nessa cidade um novo mundo de horror, terror...