Blood, Sweat and Tears

Capítulo 2 • ❝Olhe para mim❞

Capítulo 2 — Olhe para mim.

12 de fevereiro, 2021,

Xiao Zhan.

Xiao Zhan estava em silêncio.

Seu coração batia forte e suas mãos suavam enquanto sua respiração aumentava gradualmente na mesma proporção que o silêncio naquela sala.

— Você sabe que não precisa se pressionar para me falar algo, Xiao.

A voz doce de Jiyang fez com que ele voltasse sua cabeça para frente, encarando os olhos dele por alguns segundos antes de praguejar mentalmente e olhar para baixo novamente.

Xiao Zhan sabia que Jiyang notava essas nuances inseguras e amedrontadas que ele tinha em alguns momentos.

Ele também sabia que Jiyang havia notado o seu abaixar rápido e o seu encolher de ombros quando o olhou nos olhos.

— Eu sei - murmurou Xiao em resposta.

— Então por que você está tenso, Zhan? - o mais novo, Jiyang, o questionou.

— Eu... não consigo relaxar - ele admitiu, mordendo os lábios.

— Desde quando? - perguntou. Song Jiyang olhou atentamente a respiração ofegante do seu paciente, mas de modo mais marcante, seu amigo. O mais velho estava com a respiração dificultosa, seus ombros tensos e o músculo de sua perna se contraía como se estivesse levando um choque. — Seu corpo fica tenso em quais momentos, Xiao?    

— Eu...

Zhan não conseguiu terminar a frase, seus dedos se apertando um no outro.

— Xiao Zhan, olhe para mim - Jiyang pediu, tom de voz era calmo, doce e gentil. Por um momento, o mais velho desejou olhá-lo, mas as palavras do monstro voltaram direto em sua mente, o fazendo fechar os olhos.

'Não olhe nos olhos de ninguém, coelhinho, você é meu e somente meu.'

— E-Eu não po-posso, Ji... - a voz de Xiao soou falha e fraca, parecendo esgotada.

— Não pode o quê? Me olhar? Levantar a cabeça? Agir como quer ou bem entender?

O corpo de Xiao tremeu ao ouvir as palavras de Jiyang. Elas não eram duras nem ofensivas, muito menos julgadoras, mas ainda doía. O coração de Xiao apertava e sua cabeça pulsava de dor.

Ele sabia que não deveria obedecer o monstro, mas estava tão cansado de lutar contra, as palavras dele perfurando como faças o seu coração e a sua alma, torturando a sua paz constantemente.

— Xiao... - disse Song. — Xiao Zhan... - tentou mais uma vez. — Olhe para mim, A-Zhan - a entonação de voz do mais velho fez com que ele olhasse, pela primeira vez, os olhos de alguém que não fosse seu irmão e sua irmã, por mais de alguns segundos.

A troca de olhares foi intensa. Jiyang o olhava de forma doce e gentil, como um amigo, enquanto a forma assustada dos olhos de Xiao piscava rapidamente as lágrimas presentes em suas orbes.

— Eu quero que você continue olhando nos meus olhos, exatamente como está fazendo agora e o que eu disser, peço que faça, entendido? - o pedido foi acatado por um Xiao trêmulo.

— Ok...

— Devagar e com calma, contraia sua testa - ele o fez assim que Jiyang o pediu. — e a solte lentamente.

Xiao Zhan mordeu os lábios enquanto relaxava a testa, mas Jiyang assentiu o parabenizando pelo processo.

— Agora, você vai contrair todas as essas parte no modo que achar melhor, contanto que o faço, ok?

Ele o perguntou e Xiao assentiu.

Jiyang listou todos os procedimentos que Xiao deveria fazer e acompanhando-o lentamente enquanto o mais novo o fazia, ele constatou e anotou em seu caderninho todas as nuances que Zhan havia demonstrando durante toda a sessão.

Xiao Zhan sofria de EPT grave e de acordo com o que pôde notar, não demoraria muito para se manifestar.

Quando o amigo e paciente saiu da sala, Jiyang suspirou. Seu coração doía profundamente de ver seu melhor amigo assim.

Uma parte do seu subconsciente não queria admitir, porque doía e machucava e ele sentia vontade de chorar, mas ele via o olhar de Xiao Zhan. Estava vazio. Sem a menor sombra do que aquela criança alegre de vinte e dois anos fora alguns meses atrás. Entretanto, ele sabia que não podia. Xiao havia tentado ir para outro terapeuta, mas não houve nenhum avanço. Ele ao menos respondia qualquer pergunta que eles o fazia. Consigo, por mais que não fosse a melhor conduta que alguns poderiam achar por já serem conhecidos e provimos, funcionava. Ele falava. Prestava atenção e demonstrava alguma reação a não ser indiferença.

Ele era sincero, mais consigo mesmo do que com o próprio Jiyang. E era isso que importava.

Song foi até o seu superior e pedira transferência. Ele havia conversado com os irmãos de Xiao e os mesmos haviam concordado com a sua escolha. Ele - e seu marido - se mudariam com os irmãos para Gusulan.