Capítulo 1 - O encontro com a mulher de vermelho

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Era madrugada em um pacato vilarejo.

Gritos de agonia interrompiam a tranquilidade habitual de bucólico povoado vindos do interior de uma rústica casa de pau a pique. Um Clérigo fora designado ao local para resolver o que acreditavam ser um caso de possessão demoníaca.

O eclesiástico saiu cabisbaixo do quarto selado da casa de onde vinham os gritos. Ele aparentava ter uma idade bastante avançada com seus longos cabelos e barba grisalha, além de uma pele demarcada pelo tempo. O homem sacro trajava um escapulário marrom por cima de seus ombros estreitos e uma bela túnica branca, agora tingida de vermelho no braço direito.

Eu sinto muito, mas o exorcismo não deu certo! A filha de vocês ainda foi capaz de fincar os dentes com força no meu braço! Disse o homem para um casal humilde que aguardava os resultados na sala da residência. O velho homem segurava o braço ensanguentado com a mão, pressionando o ferimento que vertia bastante sangue.

Meu Deus, o que vai acontecer com a nossa filha?! Comentou a mãe em profundo desespero, levando ambas as mãos à boca.

Por favor, permita que eu o ajude com o seu ferimento! Prontificou-se o pai, guiando o sacerdote até a cozinha, deixando a esposa sozinha por alguns instantes.

Adorei o sangue do velho! Gritou a filha do casal no interior do quarto. Mas me tragam carne mais jovem da próxima vez!

A mãe se ajoelhou no chão, em prantos, sentiu-se completamente desolada por ver sua filha com um comportamento tão assustador. Não havia mais o que fazer, pois eles não detinham de um atendimento de saúde decente naquele lugar esquecido e pobre. Ela permanecera ali sozinha por longos minutos naquela sala iluminada apenas por alguns lampiões a querosene e velas derretidas, numa penumbra com sombras espectrais e tremulantes projetadas por todo o recinto.

Alguém bateu à porta que dava para a rua, o que deixou a pobre mulher intrigada, afinal, quem poderia ser tão tarde da noite? Algum vizinho reclamando do barulho? Alguém disposto a ajudar? Em todo caso, a mãe atordoada resolveu abrir a velha porta de madeira do casebre para receber a visita da madrugada.

Eis que se encontrava na soleira da porta uma mulher imponente e bastante destoante de qualquer morador da região. Ela trajava uma longa capa vermelha com reluzentes penas escarlates encobrindo os ombros, enquanto o resto do manto escorria por seu corpo esguio. Seus longos cabelos negros e lisos desciam para além da altura dos ombros em reluzentes madeixas, com franjas laterais que tinham o comprimento até o queixo delicado. Sua face era branca e carregada de maquiagem, com uma sombra preta esfumada ao redor dos olhos bem delineados na pálpebra superior, além de uma máscara de cílios que os deixavam bem preenchidos. Nos lábios ela usava um belo batom preto que contrastava bem com a pele alva.

– Q-quem é você? O que deseja? – Perguntou a humilde moradora para a figura misteriosa bem em frente à entrada.

– Eu sou a Bruxa Carmesim, guardiã de classe A, servidora da Legião da Magia. – Respondeu a jovem bruxa, enquanto retirava um distintivo prateado do interior das vestes e o exibiu para a mulher. O distintivo possuía a insígnia de um dragão azul no centro com uma estrela dourada na parte inferior do objeto metálico. A estrela era adornada por uma cauda de cometa com três faixas prateadas. – Estou aqui para ajudar a sua filha.

– Legião da Magia? Eu pensei que vocês não existissem mais! – exclama a mulher, de maneira totalmente franca.

A Bruxa deixa escapar um suspiro exasperado, percebendo que a notícia já percorrera toda a galáxia, até mesmo chegando a um lugar tão isolado quanto aquele. A Legião da Magia era a organização mágica mais importante do universo, responsável pela manutenção da lei e da ordem na galáxia. Porém, um derradeiro acontecimento colocara em risco a paz universal: o ataque terrorista promovido por ninguém menos do que o Deus Caótico Saikon ao planeta Philosophus – morada dos líderes da Legião da Magia, os Anciões da Magia. O planeta fora destruído, reduzindo o efetivo da ordem mágica protetora universal para menos da metade. Com isso, os criminosos se aproveitavam para agirem livremente, aumentando vertiginosamente a criminalidade em praticamente todos os lugares em que a Legião atuava de forma ostensiva.

A Bruxa Carmesim (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora