Capítulo 5 - O encontro de uma revelação

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A Oráculo jogou alguns crânios bem pequenos – que aparentavam ser de pequenos pássaros – dentro de uma cumbuca no centro da mesa. Mesmo com as pálpebras costuradas, a idosa sabia a disposição exata em que os crânios caíram, avaliando meticulosamente o que aquilo representava.

– Eu vejo uma chama bem a sua frente, sim, eu vejo que essa chama tem o potencial para queimá-la, mas também possui o mesmo potencial para alentá-la! – disse a anciã.

– E como é essa chama? – indagou Ursula, perplexa.

– Ela é radiante, ao ponto de ofuscar a visão, mas também é capaz de iluminar o seu caminho! – explicou a Oráculo.

– E essa tal chama é tão importante assim? – Questionou a Bruxa.

– Sim, ela será vital, pois a mesma chama reside dentro de você, por isso, o destino proclama que vocês se unam... Vocês fazem parte de um todo ao mesmo tempo que são o todo que fazem parte de um! – Revelou a idosa, numa espécie de transe.

– Eu não entendo! – exclamou Ursula, bastante aturdida.

– Não conseguirá entender através da razão ou da lógica que sempre aplica à vida. Só será capaz de compreender se permitir sentir! – explicitou a mulher idosa. – Apenas saiba que, a missão a qual foi incumbida só terá chances de ser concretizada quando chegar ao entendimento pleno disso!

Ursula fechou os olhos, tentando seguir o conselho da Oráculo de buscar a compreensão através de seus sentimentos ao invés da razão, realizando uma meditação. Após longos minutos de concentração total, inúmeros caules com espinhos e folhagens brotaram da pele da Bruxa por praticamente todo o seu corpo. Através dos caules surgiram botões de flores que imediatamente desabrocharam em belas rosas com pétalas azuis vibrantes. A Oráculo ficou admirada com aquela demonstração linda de magia inconsciente.

A Bruxa saiu do transe imposto pela meditação, percebendo somente assim que havia se tornado um arbusto de rosas ambulante.

– Eu peço desculpas por isso! – disse Ursula, em tom de constrangimento.

– Por favor, não se incomode! – respondeu a Oráculo, retirando uma rosa azul do arbusto e a cheirando. – Vejo que além de possuir a visão, tu és uma materializadora! Através da sua magia que transborda na forma de flores, tal como o aroma que sinto exalando delas, percebi que chegaste a uma revelação!

– Sim, eu cheguei a uma revelação! – respondeu a Bruxa de forma bastante categórica. – Descobri a qual chama a profecia se refere. Inicialmente, quando estava pensando de maneira lógica, imaginei algo muito mais poético, portanto, metafórico na representação dessa tal chama. Mas agora vejo que, de forma bem literal, apenas uma chama quase me queimou recentemente, bem diante de mim. O mesmo potencial de me queimar tem também de me alentar, e assim o fez testemunhando na minha última ocorrência. Sendo assim, acredito ter cometido um erro! – A Bruxa finalizou o discurso olhando para a Oráculo através do arbusto de roseira que criou.

****

Ursula procurou pelos irmãos em toda a parte na cidade de Eriópolis, mas sem sucesso em encontrá-los. Talvez já tivessem ido embora da cidade ou até mesmo do planeta, portanto, a possibilidade de estarem bem longe àquela altura era bem grande. No entanto, algo dentro da Bruxa lhe dizia que eles ainda estavam por perto, o que poderia ser apenas um otimismo inadequado. Mas Ursula só iria conseguir descansar se averiguasse todos os lugares, e, felizmente, restava um, mas provavelmente seria algo bastante problemático.

Pensando estar completamente fora de si, a Bruxa decidiu visitar a famigerada Guilda dos Feiticeiros, assumindo grandes riscos de ser reconhecida. Certamente os membros da Guilda não estavam nada satisfeitos com ela, afinal, foi a grande responsável pela abertura do inquérito com o intuito de investigar as atividades da entidade, graças aos indícios apontados pelo caso da venda dos grimórios das trevas. Todavia, algo na mente intuitiva da mulher arcana fazia com que ela acreditasse na grande possibilidade de os irmãos estarem ali ou ao menos de terem procurado algum trabalho autônomo na Guilda. Mesmo tendo testemunhado contra os Pardos, eles aparentavam estar desesperados por um emprego.

A Bruxa Carmesim (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora