1. In My Blood

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Suspirei alto, fitando o teto do banheiro pela milésima vez naquele dia. Meus olhos ardiam, eu podia sentir meu nariz esquentar e minhas bochechas corarem. O piso do banheiro era gelado, mas eu sentia a minha pele transpirar e uma angústia dentro de mim que eu não sabia explicar. Meu coração parecia que a qualquer momento sairia pela boca. Eu deveria estar deitado naquela posição há pelo menos umas duas horas. Às vezes eu só queria desistir, mas, algo dentro de mim, ainda me impedia, nenhum remédio parecia ser forte o suficiente para aquietar isso dentro de mim. Ouvi meu celular tocar pela milésima vez lá do quarto, mas sem forças nenhuma para me levantar e atender. Eu sabia que estava atrasado para o trabalho, eu sabia que deveria ser o Chris, meu chefe na loja onde eu trabalha, atrás de mim, poderia ser a Emily, a minha namorada, atrás de mim também, porque Chris sempre a avisava quando eu não aparecia no horário no trabalho. Mas os batimentos acelerados do meu coração me impediam de levantar dali agora. Fechei os olhos fortemente, tentando regular o coração. Mas os abri rapidamente quando escutei uma batida na porta. Permaneci quieto, mas houve outra batida mais forte.

— Shawn? —  ouvi a voz de Emily do outro lado. — Abre a porta, por favor? Eu sei que você tá aí dentro! — ela pedia com a voz cansada. — Eu te liguei várias vezes e você não me atendeu. O Chris também te ligou. Estamos todos preocupados! — suspirei, levantando e me sentando no chão, olhando para a porta logo a frente. Eu morava em um conjugado, era basicamente o quarto, a cozinha e o banheiro, não eram grandes coisas, mas me supria. Ficava perto do trabalho e era barato, o que meu salário minúsculo dava pra cobrir sem passar fome. Eu lembro de estar trabalhando há apenas uma semana e Emily aparecer na loja. Chris era dono de uma loja de materiais de construção, uma loja pequena de Mashpee, em Massachusetts. Não era uma cidade muito populosa, existiam quatorze mil habitantes ali e todos eles se conheciam, pode apostar. O engraçado foi que eu realmente nunca tinha visto Emily, até aquele dia.

UM ANO ANTES

  Ajustei a escada, posicionando-a em frente a prateleira de materiais, peguei uma caixa de pregos e subi na escada, colocando a caixa junto às outras na prateleira. Suspirei, ajeitando a caixa na mesma distância das outras e sorri satisfeito com o resultado. Se eu acreditasse nesse negócio de signo, eu seria virginiano, mas dizem que eu sou leonino, não sei o que significa, mas eu amo leões. Eles são bravos e corajosos, não que eu seja, porque eu era um baita covarde em várias áreas da minha vida. Mas, confesso, que em outras eu me destacava nessa área.

— Ô moleque? — ouvi a voz de Chris, meu atual chefe, chamar. Virei e olhei para baixo, onde ele estava parado me olhando ao lado de uma garota. Ela sorriu e colocou uma mecha de cabelo castanho cacheado para trás. — Desce daí e vem atender a moça.

— Ahm, ok. — falei, tentando me equilibrar na escada para não cair, literalmente, aos pés deles e desci lentamente, apertando meus dedos no objeto enquanto chegava ao chão.

— Ele vai te auxiliar no que você precisar, ok? Qualquer coisa, pode falar comigo, caso ele faça alguma coisa errada. — Chris explicou a ela assim que desci, enfim. — Ele é novo aqui, é meio atrapalhado ainda, mas tá aprendendo.

— Tudo bem, obrigada. — ela concordou, visivelmente segurando um riso. Chris assentiu, apontou pra mim e depois saiu, deixando-nos a sós ali. Respirei fundo e tentei sorrir, olhando-a.

— Eu não sou tão atrapalhado assim. — me justifiquei.

— Eu acredito em você, eu sei como são os chefes! — riu, rolando os olhos. — Meu chefe também adora me zoar na frente dos clientes. Relaxa!

— Valeu! — sorri, agradecido. — Então, o que você precisa?

— Ah, é. Certo! — falou, balançando a cabeça rapidamente. — Eu preciso de cimento, uma serra e um martelo. — falou, enumerando nos dedos. Levantei uma sobrancelha, curioso.

Coletânea de Contos: Shawn Mendes The AlbumOnde histórias criam vida. Descubra agora