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Kenzie procurou por um lugar isolado onde pudesse escapar nem que fosse por alguns segundos da estressante festa, estava caminhando pela lateral da enorme mansão quando avistou um banco meio escondido por um murinho de plantas, seus olhos brilhavam aliviados ao perceber que poderia finalmente descansar. Caminhou o mais rápido que podia, seus saltos finos eram um tormento, principalmente quando era necessário andar em um gramado molhado pela chuva passada. Olhou para os lados constatando feliz que estava sozinha, se jogou no banco úmido como se o mesmo fosse sua última salvação de um mundo cruel.

- Vamos ver se agora ela me encontra.

Murmurou contente, com toda a certeza sua mãe reviraria todos os cômodos daquele enorme espaço a sua procura, de maneira discreta claro, a senhora Edith Bell nunca fazia nada deselegantemente. Soltou uma risadinha ao pensar que toda a atenção e irritação dela se voltariam para a sua irmã mais velha, Katrina até que merecia ser empurrada para os herdeiros e descendentes da realeza que se encontravam naquele evento. Esticou suas pernas, apoiando as mãos cruzadas em cima do colo e o pescoço no encosto metálico do banco, era um lugar desconfortável, porém, por mais ridículo que parecesse, ela preferia estar ali fora sentada em um banco molhado do que dentro do enorme salão tendo que sorrir e fingir estar interessada em pessoas vazias.

Um estalo vindo da esquerda atraiu sua atenção, um jovem vinha andando lentamente e lançando olhares furtivos para trás enquanto se aproximava, ele não havia dado conta de sua presença ainda e ela aproveitou essa distração para analisá-lo. Cabelos curtos e claros, ombros largos e porte assustado, ao virar-se para frente e encontrá-la, seus olhos claros a fitaram surpresos e um tanto assustados.

- Boa tarde.

Saudou educadamente, sentindo uma estranha sensação em seu estômago quando notou o quanto ele ficava bonito em contraste com o céu de fim de tarde, a aquarela  de cores dava uma cor diferente ao mundo. Ele se curvou em uma leve reverência, uma das mãos nunca deixando o interior de seu paletó.

- Boa tarde, mademoiselle.

Abriu um pequeno sorriso, ele parecia ser membro da elite britânica, ou seria da francesa?, não importava, só o que sabia era que os britânicos eram tão educados, porém imensamente apegados a um decoro há séculos ultrapassado. Kenzie não ligava tanto assim para as regras sociais, então esticou a mão sinalizando o espaço vazio ao seu lado em um convite mudo. Sua mãe iria enlouquecer se soubesse que estava convidando um jovem desconhecido para ficar a sós com ela. "Estamos em Londres, Kenzie, deixe a Itália assim como o seu pai nos deixou.", ela tinha uma séria mania de colocar o ex marido em quase todas as críticas que fazia.

O jovem aristocrata sentou ao seu lado, sua postura era imponente, como alguém que não poderia se permitir relaxar ao menos por um segundo. Kenzie cruzou os braços, um brilho curioso em seu olhar quando percebeu a tensão transparente na forma como ele apertava o próprio joelho.

- Então, vamos trocar nomes ou histórias de vida primeiro?

Ele piscou ligeiramente perdido quando a encarou, abriu a boca levemente antes que falasse em um tom lento.

- Desculpe?

- Estou querendo saber seu nome. - reformulou, falando devagar como se ele possuísse problemas para entender, a expressão ofendida no rosto bonito a fez rir. - Sou Kenzie.

Esticou a mão para um cumprimento, se surpreendeu quando viu ele aceitar o aperto e beijar delicadamente o dorso de sua mão. Empurrou para longe o súbito calor que começava a percorrer seu rosto, ele deve ter notado algo já que abriu um suave sorriso de canto.

- Meu nome é Hudson.

Kenzie puxou o cabelo sobre o ombro, brincando com as pontas dos fios escuros. Um calmo silêncio caiu sobre eles, o que ela achou estranho já que nunca o havia visto na vida e não costumava ficar tão calma na presença de desconhecidos. Sua mãe a chamava de ratinha, pois vivia à procura de um canto onde pudesse se esconder. Bom, se ela era a rata com toda a certeza sua irmã era a gata, e se Katrina estivesse em seu lugar naquele instante já estaria descobrindo toda a árvore genealógica do desconhecido e calculado sua fortuna a partir de pequenos comentários.

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