Capítulo 1

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Sina

Eu nunca me considerei uma safada.

Eu nunca me considerei uma puritana.

Acho que sempre me vi como uma daquelas pessoas bem confortáveis na linha da normalidade. Do tipo que gosta de uma safadeza ocasional — gemida ou sussurrada -, mas não pesada o suficiente para acabar o romance.

Por isso, toda aquela conversa sobre clube de swing, durante o café da manhã, estava me deixando constrangida.

— A gente só vai olhar, Sina. Não é como se eu estivesse te convidando porque quero te comer. — Heyoon piscou seus longos cílios — Eu só não quero ir sozinha.

— Me explica de novo, por que você tem que ir? — torci o nariz.

— É parte da matéria que estou escrevendo. – Ela tocou a franja longa de seus cabelos compridos e castanhos, prendendo os fios atrás da orelha.

— Está escrevendo sobre antros de pecados da Era Moderna? — provoquei.

— Estou escrevendo sobre antros de pecados divertidos. — exibiu um sorriso ousado.

— Não é sobre isso que está escrevendo. — balancei a cabeça.

— Não! Estou escrevendo sobre lugares inusitados para aproveitar a noite. O meu chefe quer o artigo na edição do próximo sábado, o que me dá menos de duas semanas para experimentar e escrever.

— Lugares inusitados para aproveitar a noite? — peguei o café no balcão, antes de segui-la para uma das mesas próximas — Que tipo de jornal é esse que você trabalha?

— Você precisa de uma noite de diversão comigo! — apertou meu braço, implorando.

— E você precisa de um emprego novo.

— Sina, por favor! Deixa de ser quadrada! — remexeu o quadril na cadeira comprida e elevada, choramingando sobre o café expresso.

— Eu não sou quadrada, Heyoon. Só não sou... — gesticulei enfática — redonda que nem você. Sou um retângulo. — considerei — Arredondado nas extremidades. Talvez um pouco. — ela não estava prestando atenção — Gosto de sexo convencional. — resumi.

— E experimenta sexo não convencional com frequência para falar com tanta certeza?

— Um clube de swing, Heyoon! — sussurrei com urgência — Eu não ia saber onde me enfiar! — ela abriu a boca para falar, mas eu vi seu sorriso — E não ouse fazer nenhuma piada sobre outras pessoas se enfiarem em mim. — coloquei o indicador no seu nariz, e o seu sorriso se contraiu em uma carranca de desagrado — Chame outra pessoa.

— Não tenho intimidade com ninguém como tenho com você.

— E a gente ia transar por acaso? — falei mais alto do que pretendia, atraindo olhares indesejados de alguns rapazes na mesa ao lado. Heyoon riu, bebericando o seu café.

— Fala mais alto, Si, que o vendedor lá no balcão não te ouviu — olhou por cima do ombro -, mas está se esticando como se quisesse.

— Eu só estou dizendo que se o que você quer é só companhia para uma saída inocente, não precisa ser com uma amiga que você tenha intimidade. Pode chamar outra pessoa.

No Escuro (Noart)Onde histórias criam vida. Descubra agora