Capítulo 2

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Sina

A primeira vez em que eu vi o Noah, eu o achei bonito.

Mais que "bonito". Eu o achei charmoso. Sensual. Aquela combinação de olhos verde-claros, um cabelo claro e bagunçado de quem acabou de acordar, um sorriso descarado que nunca passava despercebido. Aquela combinação perigosa fazia qualquer mulher tremer no lugar errado, enquanto lutava para mostrar falta de interesse.

A primeira vez que ele se aproveitou de sua beleza para conseguir uma vantagem no trabalho, eu percebi que ele não era legal.

Distraía as meninas da equipe de publicidade para conseguir fazer as coisas do seu jeito. Um projeto que deveria ser debatido e decidido, acabava sendo liderado por Sua Majestade. A ele eram entregues todos os louros da vitória, e à sua equipe era distribuída a responsabilidade pelas falhas. Ele conduzia tudo isso com uma diplomacia nobre, fazia as pessoas se sentirem obrigadas a agradece-lhe por tê-las fodido, e não de um jeito bom. Era seu superpoder: lábia demais e caráter de menos.

A primeira vez que ele fez isso comigo, eu percebi que o odiava.

Talvez, eu me odiasse também por cair no truque, que tanta gente já tinha caído antes de mim. Eu via acontecer! Via todas as vezes, quando era com os outros. Bastou ficarmos na mesma equipe para que me tornasse mais uma vítima da sua lábia. Era o projeto que poderia fazer minha carreira, até o Noah aparecer e se autointitular líder da equipe. Apresentava nossas ideias como se fossem dele, cada intenção, escolha ou decisão. Tudo parecia ter sido conquistado pela graça de sua sabedoria, mesmo que fosse sobre um assunto que ele não dominava.

Tenho quase certeza de que o sacana me custou uma promoção, um aumento e uma boa fatia da minha dignidade.

No entanto, nunca tocou em mim.

Nunca. Nem mesmo deu em cima de mim.

Pelo menos, desses males eu não sofria.

Ao contrário de outros machos-alfas, que se achavam os picudos e davam em cima de todas, até onde me constava, Noah só tinha namorado com duas mulheres da agência. O problema é que tinha sido ao mesmo tempo. Quando uma descobriu a existência do relacionamento com a outra — o que não demorou muito, o puto nem sequer estava sendo discreto -, a coisa acabou de forma educada para uma delas e ruidosa para a outra.

Os detalhes, eu não conto porque não sei.

Porém, uma delas foi demitida.

Talvez tenha algo a ver com o barraco que ela armou no ambiente de trabalho, durante uma reunião, que envolveu um paletó de cliente sendo rasgado, e uma xícara de café sendo lançada contra a Fernanda, que era — de fato, ao contrário do que Noah achava ser — nossa chefe.

Ou talvez não tenha tido nada a ver.

Quem sabe?

Eu senti seu cheiro antes de notar sua presença. Allure.

— O que você quer? — resmunguei.

— Boa tarde para você também, Sina.

— Boa tarde. O que você quer? — repeti, sem me virar.

— O projeto do meu design já está pronto?

— Seu design? Eu estou fazendo a arte do meu design. Mostro para Fernanda quando ficar pronto, para ver se vai ser aprovado.

— Si, eu sou o chefe do projeto.

— Errado. A Fernanda é a chefe do projeto. Você trabalha para ela. Igual a mim. Igual a todo mundo na equipe.

— Ela delegou tarefas, você sabe como funciona.

— Sei como funciona! — me virei de lado, pronta para rosnar mais um pouco, quando fui pega desprevenida. Ele não estava com a camisa e calça social. Deveria ter acabado de chegar da academia. A regata deixava os braços dele à mostra. Mais que à mostra: deixava em evidência. Músculos torneados com um brilho muito suave de quem tinha feito exercícios intensos. Braços do tipo que você só vê em modelos de revistas. A gola era baixa a ponto de deixar livre toda a base de seu pescoço e o começo do tórax. Não havia um único pelo em seu peito.

Minha língua se contorceu dentro da boca como se quisesse lamber algo que não tinha direito.

Eu engoli em seco.

Hesitei.

Para minha eterna maldição, eu hesitei.

O sorriso de Noah foi imediato.

Ele não me perguntou "o que foi?", mas daria no mesmo se tivesse perguntado. Eu ficaria tão constrangida, envergonhada e sem palavras quanto estava ali: pega desprevenida por um corpo que deveria ser proibido.

Deveria ser proibido.

Proibido de sair nas ruas mostrando um corpo desses, que deixa a gente errada e sem jeito.

Mordi o lábio inferior.

Três anos trabalhando com o sacana tendo absoluto sucesso em jamais demonstrar qualquer — QUALQUER — tipo de desejo.

Três anos de trabalho árduo em odiá-lo, apenas. Mantê-lo a distância, apenas. Desencorajá-lo, apenas.

E aí, agora, minha mente flutuava em sonhos molhados, e todo aquele trabalho árduo descia pelo esgoto.

Noah passou a mão pelos cabelos, com um sorriso travesso estampado em sua boca. Os fios não deviam estar úmidos, mas pareciam estar.

— Acrescentou a imagem do leão como pedi?

Eu engasguei com as palavras, tentando me concentrar o suficiente para responder, mas sentia minhas bochechas ficando vermelhas.

— Um leão em movimento vai ficar horrível nesse contexto. Brega. Já te disse.

— O projeto original estava muito tedioso.

— Hum. Então, prefere que fique brega? — eu não conseguia mais ser firme. Seus olhos me atingiam, fazendo meu coração vibrar.

— Não vai ficar brega. Prometo. Escute. — seu sorriso deixava claro que estava se divertindo as minhas custas. — Preciso tomar um banho antes da reunião. — ele apontou com o polegar para a porta e deixou a ponta da língua se demorar sobre os lábios, experimentando a própria saliva. Ele encarava minha boca de um jeito inapropriado. Eu temi que ele fosse me convidar para me juntar a ele.

Temi pelo que eu gostaria de responder.

Ah, merda.

Merda, merda, merda.

— Acha que o seu design vai estar pronto antes da reunião? Posso passar aqui depressa. Seria melhor para a equipe se o cliente já pudesse ver a coisa tomando forma. — balançou os ombros e esticou a mão para que eu a apertasse. Eu podia ver o relevo das veias em seu antebraço largo, e minha virilha estava coçando como se pegasse fogo.

— Já está pronto. — desisti, embora não de forma absoluta — Passe aqui para pegar.

— Obrigado! — bateu palmas — Você é... — ele se demorou na escolha do adjetivo, enquanto observava o meu decote e as minhas pernas. Ele fazia aquilo de propósito. Não está interessado, está só te constrangendo! Não deixe ele ganhar! NÃO deixe! — Perfeita. — decidiu, por fim.



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x clara💡

No Escuro (Noart)Onde histórias criam vida. Descubra agora