Prólogo

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Beatriz

Me despeço de todos meus amigos e saio da balada.Nossa,essa noite foi de mais,bebi,tranzei com meu namorado no banheiro e me acabei de tanto dançar.Caminho até meu conversível novinho que ganhei de aniversário,todos dizem que dirigir bêbada é errado,eu não estou nem aí pra isso.Já fiz isso uma vez e não aconteceu nada comigo.

Entro no carro e ligo o som no último volume,está tocando Crazy in love-Beyoncé.Enquanto dirijo para minha casa,vou cantando a música que eu já sabia de cor.Pego meu batom em minha bolsa,me olho no espelho,retoco o batom e tento me concentrar na direção ao mesmo tempo.A música chega ao refrão e eu canto mais alto ainda e mecho a cabeça,balançando meu cabelos ao vento.

Coloco o batom de volta na bolsa e pego meu celular,tem duas mensagens da minha mãe.Eu admito que já tinha atrasado algumas horas do combinado para chegar em casa,mas ela não precisava ser tão chata assim.Começo a digitar uma mensagem de que estou bem e indo para casa.

Essa é a última coisa de que me lembro.

Dias depois

-Filha?Filha está me ouvindo?

Abro os olhos devagar.

-Mãe?Mãe eu não to vendo nada,tá tudo escuro.-esfrego meus olhos mais não adianta.

-Filha está tudo bem-ela diz chorando.Pega no meu braço.

Eu me sento de pressa.

-Não,mãe.Eu não to vendo nada.Mãe,me ajuda.

Naquele momento o mundo para,eu me lembro exatamente o que senti e o que veio a seguir.

Desespero.

Gritos.

Choro.

Sinto algo em meu braço e adormeço.

Horas depois

Quando acordo,sinto alguém me segurando,eu não consigo me movimentar.

-Mãe?Mãe porque eu to assim?O que tá acontecendo?

-Filha por favor acalme-se.

-Me acalmar?Eu não consigo ver nada-eu grito desesperada.

-Vou ser breve com você Beatriz-Diz uma voz estranha.

-Quem é você?

-Seu médico.

-O que?

-Você se lembra do que aconteceu?

-Do que tá falando?Porque não consigo ver nada?Me fala.

-Beatriz,você sofreu um acidente de carro.Para ser sincero,você tem sorte de não ter falecido.

O que?Acidente?Noto outra coisa...

-Minha perna,porque não to sentindo minha perna?-eu não estava sentindo nada do joelho para baixo na perna esquerda.

-Quero que se acalme,por favor.Como eu disse,você sofreu um acidente e....

-E o que?-grito.

-Teve várias lesões...

-Fale logo por favor.

-Tivemos que amputar metade de sua perna esquerda e infelizmente...você também ficou cega Beatriz.

-O que?Não,eu não posso ficar cega,eu faço qualquer coisa,alguma cirurgia,qualquer coisa por favor-eu choro desesperadamente-eu não quero ser uma aberação-grito.

-Beatriz...

-Não,você tem que me concertar,fala que pode fazer isso,não posso ser uma cega,nem uma aleijada.

-Apliquem o calmante.

-Não-grito-por favor não...

Sinto algo no braço novamente,vou ficando sonolenta,e apago novamente.

1 mês depois

Ouço a porta abrir e passos pelo quarto.

-Como está minha paciente preferida?

-Mal,como sempre.

-Está um dia lindo lá fora,não gostaria de dar um passeio?

-Para que?Eu nunca mais vou ver o sol,nunca mais vou ver as pessoas,nunca mais vou me ver.

-Beatriz,não fique assim.Como vão suas sessões com a psicóloga?Ela me disse que tem dado muito trabalho.

-Ela vai me fazer voltar a enchergar?Vai me devolver minha perna?Não,então ela não serve para nada.

-Serve para te ajudar a passar pelo que está acontecendo com você.

-Isso nunca vai passar,eu nunca mais vou enchergar e vou ser aleijada para sempre.Como eu supero isso?

-Já ligou para seus amigos?Eles podem te ajudar.

Nessa hora eu começo a rir.

-Meus amigos?Eu liguei para todos eles,todos sabem o que estou passando,nenhum veio me visitar,nenhum.E meu namorado?Veio aqui só para dizer na minha cara,dizer bem na minha cara,que não quer ser namorada de uma cega.Isso estragaria sua reputação.

O silêncio toma conta da sala.

-O que?Nada para dizer doutor?

-Descanse Beatriz.

E saiu da sala.

E eu estava passando pela negação,um dos estágios mais difíceis.

3 anos depois

-Tudo bem Beatriz,vamos tentar novamente-diz ele tirando a faixa que cobria meus olhos.

Eu tinha feito uma cirurgia nos olhos para ver se eu conseguiria enchergar.Eu ja tinha feito 1 vez e de nada tinha adiantado.Mas o médico disse para não perder as esperanças e continuar tentando.Quando ele tira completamente a faixa ele diz:

-Agora abra seus olhos lentamente.

Me encho de esperanças e abro meus olhos.

-Não,eu não vejo nada.

Minha mãe que também estava lá me abraça.

-Está tudo bem filha.

-Quero ir para casa mamãe.

-Tudo bem filha,só tenho que assinar uns papéis e vamos-diz ela chorando.

Quando todos saem do quarto eu me levanto daquela cama de hospital e vou me sentar em uma cadeira perto da janela,eu queria sentir o sol em minha pele,já que eu não podia mais vê-lo.Agora tenho uma prótese na perna,que está me ajudando muito e também estou me acostumando com o fato de ter que decorar onde as coisas estão,objetos,roupas,minha mãe me ajuda bastante,se não fosse ela não sei o que seria de mim.

Eu nunca me acostumei ao fato de sair na rua do jeito que estou,nunca vou me acostumar.Eu não posso ver,mais sei que as pessoas olham para mim e sentem pena.

A porta se abre e escuto a voz da minha mãe que está cheia de compaixão.

-Vamos querida,vamos para casa-ela me pega pelo braço e me guia até o carro.

Eu já estava cansada da vida,cansada de tudo.Queria me matar,mas sabia que se eu me matasse minha mãe morreria junto.Só o que eu podia fazer era me trancar em casa e chorar.

Me protejaOnde histórias criam vida. Descubra agora