Capítulo VII

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Havia muita poeira e ainda não tinha anoitecido. Uma mulher alta correu, nervosa, por Limbrick Lane.

Entretanto, na rua suja não havia nada para deixá-la com medo, a não ser um magro catador de papéis velhos, que apanhava os pedaços e os jogava em um saco, às suas costas.

Ele usava o cabelo longo e grisalho formando uma massa suja e emaranhada, até os ombros, e um chapéu preto, imundo, que toda hora lhe caía sobre a testa.

Suas botas estavam rasgadas, deixando ver os dedos sujos dos pés. Seu casaco esfarrapado fazia com que parecesse um espantalho.

Empurrava a sua frente um carrinho de duas rodas, onde já estavam dois sacos cheios de papéis.
A mulher deu uma corrida até o meio da rua, preocupada, tentando achar uma certa casa. Olhou os números e, quando a encontrou, dirigiu-se, apressada, para a porta da frente.

Bateu e a porta foi aberta, imediatamente. Um reflexo de luz iluminou a poeira da rua e da casa, saiu um cheiro forte, adocicado, de incenso.

Logo a porta foi fechada e outra pessoa chegou andando pela rua. Era um velho, vestido de modo elegante, demonstrando prosperidade, mas o seu cabelo era comprido, fora de moda, e usava uma longa barba,

Foi seguido, poucos minutos depois, por um rapaz pálido que vinha com as mãos enfiadas nos bolsos e não parecia à vontade. Olhou de um lado para outro, ao se aproximar da casa. Então, antes de bater na porta, olhou mais uma vez por cima dos ombros.

O catador de papéis prosseguia com sua tarefa.

Entre a casa número treze, de Limbrick Lane, e a que lhe era vizinha, havia uma pequena passagem, muito suja, que os moradores de ambas usavam para chegar até as portas dos fundos. O catador de papéis dirigiu-se para lá, encostando-se à parede, remexendo no lixo.

Olhou a porta dos fundos. Depois, voltou pelo mesmo caminho, observando que todas as janelas da casa treze tinham sido fechadas, de modo a não deixar passar nenhuma luz.

Mais pessoas estavam entrando na casa. Entre elas, havia uma senhora de meia-idade, com olhos inchados e boca intumescida, que denunciavam tratar-se de uma alcoólatra, e um homem, com chapéu militar, que lhe dava um ar autoritário.

Depois, por alguns minutos, não apareceram mais visitantes, até que, no fim da rua, surgiu uma carruagem.

Parou defronte à casa número treze e o cocheiro abriu a porta.

Uma dama desceu, cheia de graça inegável. Usava uma capa de veludo negro, enfeitada de peles, e um capuz que lhe escondia o rosto. Quando a porta da casa foi aberta, o reflexo da luz lá de dentro revelou o brilho do cabelo vermelho e dos olhos verdes.
A carruagem prosseguiu, indo estacionar no fim da rua. A dama entrou na casa, com um olhar ansioso. Na porta, surgiu uma mulher, com expressão preocupada.

Olhou a rua e, desapontada por não ver o que queria, voltou para dentro e fechou a porta.
O catador de papéis, de repente, parecia ter desaparecido. Quando ela entrou, ele começou a agir, rapidamente.

Saiu de seu esconderijo e pegou os dois sacos que estavam no carrinho. Levou-os para a passagem entre as duas casas. Colocou um deles, bem firme do lado de fora da porta dos fundos. Depois, depositou o outro debaixo de uma janela dos fundos.

Movimentou-se em torno dos dois sacos durante alguns momentos.

Em seguida, voltou, pegou o terceiro saco e o colocou, firmemente, de encontro à porta da frente.

Ocupou-se com alguma coisa que estava embaixo do saco, depois voltou ao carrinho vazio e começou a empurrá-lo pela rua.

Não tinha ido muito longe, quando se ouviu uma explosão na parte de trás da casa treze. Parecia pólvora. Depois de um momento, mais duas explosões se seguiram à primeira.

01 - Sedução DiabólicaOnde histórias criam vida. Descubra agora