Capítulo 4 - Deixe tudo para fora

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Mas o vento mudou
Minhas paredes estão enfraquecendo
Elas vai cair logo
E eu vou precisar de você.

(Paredes - Ruben)

(Walls - Ruben)

Capítulo 4 - 'deixe tudo para fora'

Dia 27 (parte 1)

Meu olhar mudou múltiplas vezes para meu nojento reflexo no espelho e minha base na minha mão. Eu não queria ir para a escola, eu estava cansado demais para aguentar um dia inteiro naquele inferno. Eu nem me lembro de ter dormido ontem a noite, Só acordando ao amanhecer no canto da sala de treinamento. Eu suspirei e comecei a cobrir minha cicatriz, aproveitando e cobrindo alguns machucados no meu pescoço. 

Meu velhote não estava feliz de saber que eu saí da escola mais cedo na última terça, ele fez isso bem claro com todos os berros e treino exaustivo que ele me forçou a fazer durante a noite inteira. Porém o treino rapidamente se tornou uma sessão de pancadas e para ser honesto não foi tão ruim, quase me fez esquecer a dor no meu peito. Quase. 

Por sorte eu consegui ficar em casa pelo resto da semana com a ajuda da Fuyumi, ela disse ao Endeavor que eu tinha algum tipo de febre, e o otário não questionou muito, ele raramente questionava a Fuyumi mesmo.

"Você vai aguentar o dia inteiro, ou eu devo já estar esperando que você volte mais cedo novamente?" - Fuyumi perguntou, entrando na cozinha enquanto amarrava seu cabelo num rabo de cavalo bagunçado. 

Eu ignorei a pergunta e continuei mastigando a torrada que fiz pra mim mesmo. Eu estava com medo de ir pra UA, eu não queria ver ninguém, especialmente o Midoriya. Se eu pelo menos pudesse me esconder no meu quarto para sempre, eu iria. Meu silêncio foi resposta suficiente para ela. 

Ela suspirou, colocando um bule-de-chá cheio d'água  no fogão e pegou uma caneca. Eu não sabia porquê ela ainda deixava aquela coisa em casa.

"Shoto, tem algo errado?" - ela perguntou, se sentando ao meu lado e colocando sua mão em cima da minha. 

Eu olhei para ela brevemente mas logo mudei minha atenção para a torrada meio-comida no meu prato. Eu a amava muito, mas eu não conseguia me abrir para ela, talvez porque estava envergonhado dos pensamentos horríveis que passavam pela minha cabeça na maior parte do tempo, ou porque eu sabia que ela não entenderia. Ninguém conseguiria. 

“Eu não posso fazer muito sobre o pai, mas você sabe que pode sempre vir falar comigo, certo? Eu estou aqui pra você, Shoto.” - ela disse apertando mais minha mão. 

Eu acenei com a cabeça e voltei a terminar meu pedaço de pão quase queimado, ela se levantou e foi preparar chá. Eu não conseguia me convencer a acreditar em suas palavras, porque não importava o quão próxima ela fosse, eu sempre sentia como se ela estivesse tão longe. 

“Natsuo está vindo pra casa no fim de semana, a gente podia passar um tempo juntos. O que você acha?” - ela disse, se apoiando na bancada. 

“Faça o que quiser, eu vou tentar ficar longe do Endeavour. ” - eu murmurei e mastiguei meu último pedaço de pão.  Eu não me importava com o Natsuo, nós nem nos falamos direito, e eu tinha quase certeza de que ele me odiava. 

“É pai, Shoto… Não é tão difícil de dizer.” - ela corrigiu novamente. Eu encarei ela, mas ela ignorou. Nós tínhamos esse tipo de conversa várias vezes. Não era difícil dizer ‘pai’, eu só odiava admitir que nós éramos relacionados. 

Fogo e Gelo [TodoDeku] (Português)Onde histórias criam vida. Descubra agora